{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2016/02/11/evitar-o-brexit-implica-o-inicio-do-fim-da-ue" }, "headline": "Evitar o Brexit implica o in\u00edcio do fim da UE?", "description": "Ser\u00e1 que os l\u00edderes europeus convencem os brit\u00e2nicos a manterem-se na Uni\u00e3o Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o", "articleBody": "Ser\u00e1 que os l\u00edderes europeus convencem os brit\u00e2nicos a manterem-se na Uni\u00e3o Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o in\u00edcio do fim? Os l\u00edderes europeus encaminham-se para uma cimeira dominada pelo futuro do Reino Unido. 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Os nossos convidados no debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Nina Schick, diretora de Comunica\u00e7\u00e3o do grupo de reflex\u00e3o Open Europe, que defende a necessidade de reformas na Uni\u00e3o Europeia; Giles Merritt, secret\u00e1rio-geral doutro grupo de reflex\u00e3o, o Friends of Europe, que advoga o envolvimento dos cidad\u00e3os no debate europeu; e Guntram Wolff, diretor do Bruegel, um think tank econ\u00f3mico baseado em Bruxelas. Chris Burns, euronews: Uma primeira quest\u00e3o: h\u00e1 quem veja o acordo com Cameron como uma ced\u00eancia para moldar a Uni\u00e3o Europeia \u00e0 sua vis\u00e3o. Os l\u00edderes europeus devem aceitar esse acordo? Nina Schick: Os objetivos de Cameron s\u00e3o muitas vezes considerados como sendo demasiado \u00e0 medida dos brit\u00e2nicos. 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Isso n\u00e3o \u00e9 exclusivo das pretens\u00f5es de Cameron. euronews: Um dos aliados mais pr\u00f3ximos de Angela Merkel afirmou que a proposta de acordo efetuada por Donald Tusk d\u00e1 ao Reino Unido uma s\u00e9rie de possibilidades de escolha em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s normas da Uni\u00e3o Europeia. Trata-se de um acordo aceit\u00e1vel para todos os l\u00edderes ou podemos cair num ime? Nina Schick: Penso que n\u00e3o. Os l\u00edderes europeus sabem que Cameron necessita de convencer o p\u00fablico brit\u00e2nico sobre o acordo. Se ele n\u00e3o obtiver algumas das reformas que apresentou, existe a possibilidade real de o Reino Unido sair. Economicamente, seria um desastre para Bruxelas. Simbolicamente, tamb\u00e9m. N\u00e3o creio que os l\u00edderes europeus queiram enfrentar esse cen\u00e1rio. euronews: Mas ser\u00e1 que isto n\u00e3o vai abrir uma caixa de Pandora? Os outros Estados-membros tamb\u00e9m podem pedir exce\u00e7\u00f5es. 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Nina Schick: H\u00e1 aqui duas quest\u00f5es muito diferentes. Uma \u00e9 a crise dos refugiados. No Reino Unido, esse debate foi agregado \u00e0 quest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o dentro da Uni\u00e3o Europeia. Cameron tem de conseguir mudan\u00e7as no que toca \u00e0 liberdade de circula\u00e7\u00e3o de trabalhadores, porque essa \u00e9 a quest\u00e3o que mais preocupa os brit\u00e2nicos. N\u00e3o tem nada a ver com racismo, tem a ver com o controlo do governo da quantidade de pessoas que entra no pa\u00eds. euronews: Limitar os direitos dos trabalhadores migrantes desemboca no mesmo discurso que est\u00e1 a ser feito em rela\u00e7\u00e3o aos refugiados tamb\u00e9m\u2026 Guntram Wolff: Os n\u00fameros falam por si. Antes de mais, o Reino Unido beneficia com a vinda de migrantes doutros Estados-membros. Em segundo lugar, h\u00e1 muito pouca imigra\u00e7\u00e3o motivada pelas ajudas sociais. Os indicadores revelam claramente que as pessoas n\u00e3o v\u00e3o para o Reino Unido por causa dos apoios sociais. V\u00e3o por causa das oportunidades de trabalho e para terem uma vida melhor. Sou a favor da atribui\u00e7\u00e3o de alguns mecanismos de prote\u00e7\u00e3o. Creio que \u00e9 um debate secund\u00e1rio em rela\u00e7\u00e3o a toda a problem\u00e1tica. euronews: Se as coisas mudarem, os outros pa\u00edses n\u00e3o v\u00e3o tamb\u00e9m querer refrear as condi\u00e7\u00f5es dos migrantes ou refugiados? Giles Merrit: N\u00e3o. Acho que tem havido um grande exagero. Concordo com a ideia de que o verdadeiro problema est\u00e1 em fazer com que os eleitores brit\u00e2nicos percebam que a crise dos refugiados n\u00e3o tem nada a ver com o direito dos cidad\u00e3os europeus a trabalharem noutros Estados-membros, at\u00e9 porque \u00e9 algo que tem beneficiado enormemente a economia brit\u00e2nica. euronews: O jornal Independent listou algumas das vantagens de fazer parte da Uni\u00e3o Europeia: facilidade de circula\u00e7\u00e3o no espa\u00e7o europeu, as oportunidades de neg\u00f3cio noutros Estados-membros, prote\u00e7\u00e3o ambiental e dos consumidores. S\u00e3o raz\u00f5es suficientemente fortes para ficar ou at\u00e9 podem ser motivos para sair? Nina Schick: \u00c9 o debate que tem assolado os brit\u00e2nicos nos \u00faltimos 40 anos. \u00c9 uma crise existencial. O acordo inicial com a Europa era de natureza comercial. A ideia n\u00e3o era partir para uma uni\u00e3o pol\u00edtica. Este \u00e9 o cerne do discurso dos cidad\u00e3os brit\u00e2nicos. Ser\u00e1 que a Uni\u00e3o Europeia pode tornar-se flex\u00edvel ao ponto de aceitar diferentes graus de envolvimento ou vai continuar a ser o mesmo peso e medida para todos? Se for este o caminho, o Reino Unido vai acabar por sair\u2026 euronews: Se o Reino Unido sair efetivamente, qual ser\u00e1 o impacto econ\u00f3mico tanto sobre o Reino Unido, como sobre a Uni\u00e3o Europeia? Guntram Wolff: Como sempre, depende de muita coisa. Depende do tipo de acordos estabelecidos posteriormente. Uma coisa \u00e9 certa: se o \u201cN\u00e3o\u201d ganhar o referendo, os mercados v\u00e3o oscilar bastante e vamos assistir a um longo e doloroso processo de renegocia\u00e7\u00e3o de o ao mercado \u00fanico. O Reino Unido tamb\u00e9m teria de renegociar os acordos comerciais estabelecidos com o resto do mundo. euronews: Muitos consideram que a sa\u00edda implicaria uma perda significativa de influ\u00eancia para a Uni\u00e3o Europeia, que j\u00e1 se encontra fragilizada. At\u00e9 onde poderiam ir as consequ\u00eancias pol\u00edticas? Giles Merrit: As consequ\u00eancias seriam mostrar ao mundo que a Uni\u00e3o Europeia deixa de falar a uma s\u00f3 voz. Gostava s\u00f3 de voltar a algo que a Nina disse, sobre o problema existencial brit\u00e2nico. Enquanto brit\u00e2nico, acho que \u00e9 um problema mais emocional. Os brit\u00e2nicos n\u00e3o se veem como europeus, mas s\u00e3o racionais. Na altura da verdade, no referendo, v\u00e3o querer ficar. euronews: At\u00e9 que ponto \u00e9 que n\u00e3o h\u00e1 aqui um sentimento de revolta\u2026 A crise financeira fez com que a classe m\u00e9dia brit\u00e2nica se revoltasse e cule a Uni\u00e3o Europeia pelo que aconteceu. Da\u00ed a vontade de sair\u2026 Nina Schick: N\u00e3o concordo com essa perspetiva. Comparando com outros pa\u00edses europeus, a economia brit\u00e2nica est\u00e1 de boa sa\u00fade. Isto n\u00e3o \u00e9 um protesto, \u00e9 um debate que fervilha h\u00e1 40 anos. Chegou o momento de os brit\u00e2nicos saberem se t\u00eam condi\u00e7\u00f5es para continuarem na Uni\u00e3o Europeia, sendo que a ideia original era o estabelecimento de uma parceria comercial. euronews: H\u00e1 tamb\u00e9m o aspeto eurocrata da quest\u00e3o. O fen\u00f3meno \u00e9 id\u00eantico em Washington. Muitos europeus est\u00e3o zangados com os respons\u00e1veis de Bruxelas que acusam de tomar decis\u00f5es sem conhecer a realidade. At\u00e9 que ponto \u00e9 que isto \u00e9 verdade? Guntram Wolff: Isso \u00e9 parte do problema. Mas a quest\u00e3o fundamental \u00e9 que os pa\u00edses da zona euro comp\u00f5em a maioria na Uni\u00e3o Europeia. 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Evitar o Brexit implica o início do fim da UE?

Evitar o Brexit implica o início do fim da UE?
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Será que os líderes europeus convencem os britânicos a manterem-se na União Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o

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Será que os líderes europeus convencem os britânicos a manterem-se na União Europeia? O acordo que Cameron pretende para evitar o Brexit pode ser o início do fim?

Os líderes europeus encaminham-se para uma cimeira dominada pelo futuro do Reino Unido. O primeiro-ministro britânico pretende que a União Europeia avance com reformas para evitar o “Brexit”, nomeadamente o endurecimento das políticas de imigração; o reforço do poder dos governos nacionais; e a redução da burocracia para impulsionar a competitividade.

Há quem considere que a cedência às pretensões pode fragilizar a autoridade de Bruxelas. Mas também há quem realce que uma eventual saída teria um impacto devastador sobre a União Europeia e provocaria um recuo significativo no PIB britânico.

Os nossos convidados no debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Nina Schick, diretora de Comunicação do grupo de reflexão Open Europe, que defende a necessidade de reformas na União Europeia; Giles Merritt, secretário-geral doutro grupo de reflexão, o Friends of Europe, que advoga o envolvimento dos cidadãos no debate europeu; e Guntram Wolff, diretor do Bruegel, um think tank económico baseado em Bruxelas.

Chris Burns, euronews:

Uma primeira questão: há quem veja o acordo com Cameron como uma cedência para moldar a União Europeia à sua visão. Os líderes europeus devem aceitar esse acordo?

Nina Schick:

Os objetivos de Cameron são muitas vezes considerados como sendo demasiado à medida dos britânicos. Mas ao olhar para as crises que afetam a União Europeia – a crise económica, os migrantes, a falta de competitividade -, há quem prefira dizer que as propostas atingem o cerne dos problemas europeus e questionam o caminho existencial a tomar.

euronews:

É demasiado à medida dos britânicos?

Giles Merritt:

Se for, é apenas um aperitivo. Os britânicos já tiveram um banquete há 20 anos. É uma questão irrelevante.

euronews:

Considera o mesmo?

Guntram Wolff:

Os líderes europeus estão dispostos a dar mais liberdade e soberania aos britânicos, mas não a permitir que as leis europeias deixem de ser aplicadas no Reino Unido.

euronews:

As pretensões britânicas podem vir a comprometer o papel das instituições europeias?

Giles Merrit:

Creio que não. A União Europeia necessita de reformas em várias vertentes. Isso não é exclusivo das pretensões de Cameron.

euronews:

Um dos aliados mais próximos de Angela Merkel afirmou que a proposta de acordo efetuada por Donald Tusk dá ao Reino Unido uma série de possibilidades de escolha em relação às normas da União Europeia. Trata-se de um acordo aceitável para todos os líderes ou podemos cair num ime?

Nina Schick:

Penso que não. Os líderes europeus sabem que Cameron necessita de convencer o público britânico sobre o acordo. Se ele não obtiver algumas das reformas que apresentou, existe a possibilidade real de o Reino Unido sair. Economicamente, seria um desastre para Bruxelas. Simbolicamente, também. Não creio que os líderes europeus queiram enfrentar esse cenário.

euronews:

Mas será que isto não vai abrir uma caixa de Pandora? Os outros Estados-membros também podem pedir exceções. O Reino Unido não é o único a reivindicá-las…

Guntram Wolff:

O Reino Unido é um caso particular em vários aspetos. Os britânicos já dispõem de um leque de mecanismos optativos maior do que os outros países. Os países de leste que ainda não integram a zona euro pretendem continuar na União Europeia, para manterem uma associação sólida que lhes permita defenderem-se. Mesmo a adesão à zona euro continua a ser uma possibilidade, porque é uma proteção contra o medo do poder militar russo.

euronews:

Uma das mudanças em debate é a limitação dos direitos atribuídos aos trabalhadores migrantes no Reino Unido, sendo que muitos cidadãos britânicos se dizem preocupados com o volume do fluxo migratório rumo ao seu país. Este tipo de soluções contribui para resolver a crise dos migrantes ou vai agravar as coisas?

Nina Schick:

Há aqui duas questões muito diferentes. Uma é a crise dos refugiados. No Reino Unido, esse debate foi agregado à questão da migração dentro da União Europeia. Cameron tem de conseguir mudanças no que toca à liberdade de circulação de trabalhadores, porque essa é a questão que mais preocupa os britânicos. Não tem nada a ver com racismo, tem a ver com o controlo do governo da quantidade de pessoas que entra no país.

euronews:

Limitar os direitos dos trabalhadores migrantes desemboca no mesmo discurso que está a ser feito em relação aos refugiados também…

Guntram Wolff:

Os números falam por si. Antes de mais, o Reino Unido beneficia com a vinda de migrantes doutros Estados-membros. Em segundo lugar, há muito pouca imigração motivada pelas ajudas sociais. Os indicadores revelam claramente que as pessoas não vão para o Reino Unido por causa dos apoios sociais. Vão por causa das oportunidades de trabalho e para terem uma vida melhor. Sou a favor da atribuição de alguns mecanismos de proteção. Creio que é um debate secundário em relação a toda a problemática.

euronews:

Se as coisas mudarem, os outros países não vão também querer refrear as condições dos migrantes ou refugiados?

Giles Merrit:

Não. Acho que tem havido um grande exagero. Concordo com a ideia de que o verdadeiro problema está em fazer com que os eleitores britânicos percebam que a crise dos refugiados não tem nada a ver com o direito dos cidadãos europeus a trabalharem noutros Estados-membros, até porque é algo que tem beneficiado enormemente a economia britânica.

euronews:

O jornal Independent listou algumas das vantagens de fazer parte da União Europeia: facilidade de circulação no espaço europeu, as oportunidades de negócio noutros Estados-membros, proteção ambiental e dos consumidores. São razões suficientemente fortes para ficar ou até podem ser motivos para sair?

Nina Schick:

É o debate que tem assolado os britânicos nos últimos 40 anos. É uma crise existencial. O acordo inicial com a Europa era de natureza comercial. A ideia não era partir para uma união política. Este é o cerne do discurso dos cidadãos britânicos. Será que a União Europeia pode tornar-se flexível ao ponto de aceitar diferentes graus de envolvimento ou vai continuar a ser o mesmo peso e medida para todos? Se for este o caminho, o Reino Unido vai acabar por sair…

euronews:

Se o Reino Unido sair efetivamente, qual será o impacto económico tanto sobre o Reino Unido, como sobre a União Europeia?

Guntram Wolff:

Como sempre, depende de muita coisa. Depende do tipo de acordos estabelecidos posteriormente. Uma coisa é certa: se o “Não” ganhar o referendo, os mercados vão oscilar bastante e vamos assistir a um longo e doloroso processo de renegociação de o ao mercado único. O Reino Unido também teria de renegociar os acordos comerciais estabelecidos com o resto do mundo.

euronews:

Muitos consideram que a saída implicaria uma perda significativa de influência para a União Europeia, que já se encontra fragilizada. Até onde poderiam ir as consequências políticas?

Giles Merrit:

As consequências seriam mostrar ao mundo que a União Europeia deixa de falar a uma só voz. Gostava só de voltar a algo que a Nina disse, sobre o problema existencial britânico. Enquanto britânico, acho que é um problema mais emocional. Os britânicos não se veem como europeus, mas são racionais. Na altura da verdade, no referendo, vão querer ficar.

euronews:

Até que ponto é que não há aqui um sentimento de revolta… A crise financeira fez com que a classe média britânica se revoltasse e cule a União Europeia pelo que aconteceu. Daí a vontade de sair…

Nina Schick:

Não concordo com essa perspetiva. Comparando com outros países europeus, a economia britânica está de boa saúde. Isto não é um protesto, é um debate que fervilha há 40 anos. Chegou o momento de os britânicos saberem se têm condições para continuarem na União Europeia, sendo que a ideia original era o estabelecimento de uma parceria comercial.

euronews:

Há também o aspeto eurocrata da questão. O fenómeno é idêntico em Washington. Muitos europeus estão zangados com os responsáveis de Bruxelas que acusam de tomar decisões sem conhecer a realidade. Até que ponto é que isto é verdade?

Guntram Wolff:

Isso é parte do problema. Mas a questão fundamental é que os países da zona euro compõem a maioria na União Europeia. Os países que estão do lado de fora pretendem garantias que devem ser fornecidas. Afinal de contas, é a zona euro que detém a maioria nas tomadas de decisão.

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