Enquanto muitos locais na Europa enfrentam o encerramento devido às taxas de inflação, ao aumento das rendas, à subida dos preços da energia e à mudança de hábitos pós-pandemia, uma boa notícia chega de Espanha: La Paloma, que abriu em 1903 e fechou em 2007, vai reabrir as suas portas.
O mais antigo clube noturno da Europa, La Paloma, em Barcelona, anunciou a sua reabertura definitiva após vários anos de encerramento.
Situado na fronteira entre os bairros de Sant Antoni e Raval da cidade catalã, o histórico salão de baile barroco, inaugurado em 1903, tem vindo a reabrir gradualmente nos últimos meses, depois de ter sido forçado a fechar as portas em 2007.
O clube, com capacidade para 1000 pessoas, oferece lugares em camarotes, tanto ao nível da pista de dança como na varanda, e revelou um programa vibrante para a sua temporada de outono, incluindo atuações de Hot Chip, Theo Parrish, Machinedrum e Nightmares On Wax.
A notícia da reabertura do La Paloma parece ser um descanso bem-vindo, considerando que muitos clubes famosos na Europa não tiveram tanta sorte nos últimos anos.
A indústria do entretenimento sofreu um duro golpe após a pandemia. No início deste mês, o emblemático clube berlinense Watergate anunciou que iria fechar as portas no final de 2024, com a equipa a citar a "enorme pressão financeira" como uma das razões por detrás do encerramento. O cofundador do Watergate, Ulrich Wombacher, declarou: "os dias em que Berlim era inundada de visitantes amantes de discotecas acabaram, pelo menos por agora, e a cena está a lutar pela sobrevivência".
Muitos locais de referência da vida noturna invocaram razões semelhantes para encerrar, com a inflação, o aumento dos custos das rendas, a subida dos preços da energia e a mudança de hábitos pós-pandemia a prejudicarem os pilares culturais.
Outro exemplo recente em Berlim foi o encerramento, em agosto, da discoteca Renate, que pertence ao mesmo proprietário do Watergate.
Por outro lado, um novo relatório revelou que o Reino Unido perdeu 480 clubes noturnos entre junho de 2020 e junho de 2024, tendo 65 encerrado apenas este ano. A Night Time Industries Association (NTIA) destacou um declínio maciço, enfatizando que há uma necessidade urgente de apoio e intervenção do governo, pois esses números refletem uma crise mais ampla na economia cultural noturna do país.
Michael Kill, Diretor Executivo da NTIA, afirmou: "o setor de boates e música de dança enfrenta uma crise sem precedentes. Desde junho de 2020, temos perdido duas casas noturnas por semana, mas nos últimos seis meses, os números aumentaram para três por semana. Este rápido declínio é devastador para a nossa economia, cultura e comunidade".
E continuou: "apesar de contribuirmos com milhões em impostos, estamos sobrecarregados com custos crescentes e com a falta de serviços públicos essenciais. (...) O nosso setor é tratado como uma reflexão tardia, mas apoia o emprego, o turismo e a hospitalidade. Estes locais não são apenas sítios para dançar; são espaços vitais para a comunidade e a criatividade".
Outra questão atual é a terrível situação dos locais de música de base, com a instituição de caridade britânica Music Venue Trust a alertar, no ano ado, para o facto de o país "correr o risco de produzir menos artistas de renome mundial", uma vez que os pequenos locais de música continuam a atravessar uma "crise total" - com muitos deles a serem forçados a encerrar no último ano. A LIVE, Live music Industry Venues & Entertainment, a voz da indústria da música ao vivo do Reino Unido, publicou um manifesto que coincide com o aviso do MVT de que "125 locais fecharam as suas portas para a música ao vivo nos últimos 12 meses, 15,7% de todos os espaços deste tipo no Reino Unido".
Embora o futuro pareça cada vez mais incerto para os clubes e pequenos espaços de música em toda a Europa, talvez o exemplo de La Paloma possa reavivar a esperança de que os governos se aproximem e apoiem os locais que lutam pela sobrevivência.