{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/cultura/2024/06/17/miguel-gomes-grand-tour-e-o-premio-em-cannes-entrevista-exclusiva" }, "headline": "Miguel Gomes, \u0022Grand Tour\u0022 e o pr\u00e9mio em Cannes: Entrevista exclusiva", "description": "O portugu\u00eas regressou de Cannes com o pr\u00e9mio de Melhor Realiza\u00e7\u00e3o debaixo do bra\u00e7o. O sucesso de \u0022Grand Tour\u0022 pode ser o bilhete para realizar um filme \u00e9pico que tem em projeto h\u00e1 v\u00e1rios anos.", "articleBody": "\u00c9 a maior distin\u00e7\u00e3o alguma vez conseguida por um filme portugu\u00eas em Cannes: Se a inclus\u00e3o de \u0022Grand Tour\u0022, de Miguel Gomes, na sele\u00e7\u00e3o oficial para a Palma de Ouro foi j\u00e1 um feito importante, o pr\u00e9mio de Melhor Realiza\u00e7\u00e3o foi a cereja no topo do bolo e o coroar da carreira do realizador de 52 anos, que na \u00faltima d\u00e9cada e meia foi uma presen\u00e7a regular nos festivais de topo com filmes como \u0022Tabu\u0022 (2012) e a trilogia das \u0022Mil e uma noites\u0022 (2015).\u0022Sente-se muita coisa ao mesmo tempo\u0022, conta o realizador \u00e0 Euronews. \u0022\u00c9 raro um filme portugu\u00eas estar nomeado, ganhar um pr\u00e9mio ainda mais\u0022.Miguel Gomes cresceu a ver cinema portugu\u00eas e identifica-se de corpo inteiro com ele: \u0022O cinema portugu\u00eas tem uma hist\u00f3ria, desde os anos 60 do s\u00e9culo ado, que faz com que tenha uma identidade. \u00c9 uma identidade por vezes contestada c\u00e1 dentro, porque dizem que os filmes portugueses s\u00e3o dif\u00edceis. Desde pequeno que me habituei a ver cinema portugu\u00eas e a pensar '\u00e9 poss\u00edvel fazer isto em Portugal'. Isso para mim foi muito marcante e decisivo. Talvez esteja a dizer uma heresia, mas sinto um maior sentimento de perten\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o ao cinema portugu\u00eas do que em rela\u00e7\u00e3o ao pr\u00f3prio pa\u00eds\u0022.\u0022Grand Tour\u0022 resulta de uma longa viagem\u0022Grand Tour\u0022, que o cineasta v\u00ea como \u0022um cl\u00e1ssico filme de aventuras\u0022, \u00e9 o resultado da colagem de dois processos distintos mas complementares: Por um lado, as filmagens que Gomes, juntamente com uma equipa reduzid\u00edssima, fez durante uma longa viagem pela \u00c1sia nos primeiros meses de 2020, antes que a pandemia os obrigasse a adiar os planos (a parte na China foi filmada em 2022, depois de levantadas as restri\u00e7\u00f5es). A viagem come\u00e7ou \u0022sem que houvesse sequer um argumento para o filme\u0022, conta. Por outro, as filmagens feitas em 2023 com os atores em est\u00fadio, a\u00ed j\u00e1 com tudo planeado e uma equipa de mais de 100 pessoas a trabalhar: \u0022O est\u00fadio \u00e9 o espa\u00e7o do cinema por excel\u00eancia\u0022, conta.\u00c9 da jun\u00e7\u00e3o desses dois conceitos que nasce o filme: \u0022H\u00e1 duas possibilidades no cinema\u0022, diz. \u0022Registar o mundo tal como o conhecemos, p\u00f4r uma c\u00e2mara num determinado s\u00edtio e registar o que est\u00e1 \u00e0 nossa frente ou, por outro lado, inventar o mundo - inventar um p\u00f4r-do-sol ou um nascer-do-sol num espa\u00e7o sem janelas, que \u00e9 um est\u00fadio\u0022.A hist\u00f3ria a-se na \u00c1sia em 1918, \u0022mas este filme \u00e9 muito mais do que a hist\u00f3ria, porque foi um grande desafio film\u00e1-lo\u0022, explica Gomes.Tudo come\u00e7a com um homem, funcion\u00e1rio brit\u00e2nico na Birm\u00e2nia, que espera a sua noiva no cais. Tomado pelo p\u00e2nico, decide fugir para Singapura, onde recebe um telegrama da noiva dizendo que est\u00e1 a chegar. Foge de novo e a por v\u00e1rios pa\u00edses, sempre com ela no seu encal\u00e7o. A segunda parte do filme conta a hist\u00f3ria do ponto de vista da mulher. Desta hist\u00f3ria resulta um filme em que sobressai o contraste (deliberado) entre o filme de \u00e9poca e as imagens da \u00c1sia dos dias de hoje.Pr\u00f3ximo projeto: filmar \u0022Os Sert\u00f5es\u0022\u0022Grand Tour\u0022 s\u00f3 dever\u00e1 estrear nos principais mercados depois do ver\u00e3o. Para j\u00e1, o sucesso cr\u00edtico do filme e o pr\u00e9mio conseguido em Cannes podem ser um bilhete para que Gomes consiga o financiamento do projeto, h\u00e1 muito sonhado, de levar ao grande ecr\u00e3 a obra \u0022Os Sert\u00f5es\u0022 de Euclides da Cunha - um livro dific\u00edlimo de transpor para o cinema, j\u00e1 que \u00e9, simultaneamente, uma cr\u00f3nica de guerra e um tratado de bot\u00e2nica.Publicado pela primeira vez em 1902, o livro a-se no estado da Bahia (Brasil) no final do s\u00e9culo XIX e retrata o conflito entre o ex\u00e9rcito brasileiro e os seguidores do profeta Ant\u00f3nio Conselheiro, opostos \u00e0 implanta\u00e7\u00e3o da Rep\u00fablica.\u00c9 um projeto que Miguel Gomes carrega desde antes de embarcar em \u0022Grand Tour\u0022 e que foi adiado por v\u00e1rias vicissitudes: Em primeiro lugar, pela chegada de Jair Bolsonaro ao poder, j\u00e1 que o seu governo paralisou quase por completo o financiamento do cinema. Em segundo lugar, pela pandemia de Covid. Com ambos os problemas ultraados e as conversa\u00e7\u00f5es para o financiamento retomadas, o filme parece estar, finalmente, no bom caminho para ser feito. ", "dateCreated": "2024-06-12T22:30:06+02:00", "dateModified": "2024-06-17T16:02:27+02:00", "datePublished": "2024-06-17T15:32:50+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F49%2F92%2F68%2F1440x810_cmsv2_b8ed257e-50bd-55a5-a115-9ea14544a182-8499268.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "Miguel Gomes com o pr\u00e9mio em Cannes", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F49%2F92%2F68%2F432x243_cmsv2_b8ed257e-50bd-55a5-a115-9ea14544a182-8499268.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": { "@type": "Person", "familyName": "Figueira", "givenName": "Ricardo", "name": "Ricardo Figueira", "url": "/perfis/258", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "sameAs": "https://www.x.com/@rfigueira", "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue portugaise" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": "403px", "height": "60px" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "As not\u00edcias da Cultura" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Miguel Gomes, "Grand Tour" e o prémio em Cannes: Entrevista exclusiva

Miguel Gomes com o prémio em Cannes
Miguel Gomes com o prémio em Cannes Direitos de autor Scott A Garfitt/2024 Invision
Direitos de autor Scott A Garfitt/2024 Invision
De Ricardo Figueira
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

O português regressou de Cannes com o prémio de Melhor Realização debaixo do braço. O sucesso de "Grand Tour" pode ser o bilhete para realizar um filme épico que tem em projeto há vários anos.

PUBLICIDADE

É a maior distinção alguma vez conseguida por um filme português em Cannes: Se a inclusão de "Grand Tour", de Miguel Gomes, na seleção oficial para a Palma de Ouro foi já um feito importante, o prémio de Melhor Realização foi a cereja no topo do bolo e o coroar da carreira do realizador de 52 anos, que na última década e meia foi uma presença regular nos festivais de topo com filmes como "Tabu" (2012) e a trilogia das "Mil e uma noites" (2015).

"Sente-se muita coisa ao mesmo tempo", conta o realizador à Euronews. "É raro um filme português estar nomeado, ganhar um prémio ainda mais".

Miguel Gomes cresceu a ver cinema português e identifica-se de corpo inteiro com ele: "O cinema português tem uma história, desde os anos 60 do século ado, que faz com que tenha uma identidade. É uma identidade por vezes contestada cá dentro, porque dizem que os filmes portugueses são difíceis. Desde pequeno que me habituei a ver cinema português e a pensar 'é possível fazer isto em Portugal'. Isso para mim foi muito marcante e decisivo. Talvez esteja a dizer uma heresia, mas sinto um maior sentimento de pertença em relação ao cinema português do que em relação ao próprio país".

"Grand Tour" resulta de uma longa viagem

"Grand Tour", que o cineasta vê como "um clássico filme de aventuras", é o resultado da colagem de dois processos distintos mas complementares: Por um lado, as filmagens que Gomes, juntamente com uma equipa reduzidíssima, fez durante uma longa viagem pela Ásia nos primeiros meses de 2020, antes que a pandemia os obrigasse a adiar os planos (a parte na China foi filmada em 2022, depois de levantadas as restrições).

Tenho um maior sentimento de pertença em relação ao cinema português do que em relação ao próprio país.
Miguel Gomes
Realizador

A viagem começou "sem que houvesse sequer um argumento para o filme", conta. Por outro, as filmagens feitas em 2023 com os atores em estúdio, aí já com tudo planeado e uma equipa de mais de 100 pessoas a trabalhar: "O estúdio é o espaço do cinema por excelência", conta.

É da junção desses dois conceitos que nasce o filme: "Há duas possibilidades no cinema", diz. "Registar o mundo tal como o conhecemos, pôr uma câmara num determinado sítio e registar o que está à nossa frente ou, por outro lado, inventar o mundo - inventar um pôr-do-sol ou um nascer-do-sol num espaço sem janelas, que é um estúdio".

A história a-se na Ásia em 1918, "mas este filme é muito mais do que a história, porque foi um grande desafio filmá-lo", explica Gomes.

Tudo começa com um homem, funcionário britânico na Birmânia, que espera a sua noiva no cais. Tomado pelo pânico, decide fugir para Singapura, onde recebe um telegrama da noiva dizendo que está a chegar. Foge de novo e a por vários países, sempre com ela no seu encalço. A segunda parte do filme conta a história do ponto de vista da mulher. Desta história resulta um filme em que sobressai o contraste (deliberado) entre o filme de época e as imagens da Ásia dos dias de hoje.

Próximo projeto: filmar "Os Sertões"

"Grand Tour" só deverá estrear nos principais mercados depois do verão. Para já, o sucesso crítico do filme e o prémio conseguido em Cannes podem ser um bilhete para que Gomes consiga o financiamento do projeto, há muito sonhado, de levar ao grande ecrã a obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha - um livro dificílimo de transpor para o cinema, já que é, simultaneamente, uma crónica de guerra e um tratado de botânica.

Publicado pela primeira vez em 1902, o livro a-se no estado da Bahia (Brasil) no final do século XIX e retrata o conflito entre o exército brasileiro e os seguidores do profeta António Conselheiro, opostos à implantação da República.

É um projeto que Miguel Gomes carrega desde antes de embarcar em "Grand Tour" e que foi adiado por várias vicissitudes: Em primeiro lugar, pela chegada de Jair Bolsonaro ao poder, já que o seu governo paralisou quase por completo o financiamento do cinema. Em segundo lugar, pela pandemia de Covid. Com ambos os problemas ultraados e as conversações para o financiamento retomadas, o filme parece estar, finalmente, no bom caminho para ser feito.

Nome do jornalista • Ricardo Figueira

Editor de vídeo • Bruno Filipe Figueiredo Da Silva

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Arranca a 21ª edição do Festival de Cinema de Marraquexe

Coprodução luso-croata vence Festival Curtas de Vila do Conde

Labubu: Será que obsessão do TikTok por estes bonecos "assustadores" foi longe demais?