O porta-voz do presidente argentino, Manuel Adorni, obteve 30,1% dos votos, o que representa um impulso para o partido antes das eleições intercalares de outubro.
O partido de direita do presidente argentino Javier Milei venceu as eleições autárquicas de domingo em Buenos Aires, relegando o centro-direita para terceiro lugar no que foi outrora o seu bastião.
Numa reviravolta política para o principal partido conservador da Argentina, a Propuesta Republicana (PRO), o partido La Libertad Avanza (LLA) do presidente garantiu 30,1% dos votos na capital, mais do que duplicando a sua quota de votos em comparação com as eleições de 2023 na cidade.
O partido peronista de esquerda da Argentina terminou em segundo lugar com 27,4% dos votos.
Milei comemorou a vitória do candidato do LLA, Manuel Adorni, que é também o seu porta-voz, saltando para o palco e agitando os braços ao som de música rock: "Hoje é um dia crucial para as ideias de liberdade", disse o presidente a uma multidão de apoiantes.
A taxa de participação nas eleições de domingo foi baixa, com apenas 53% dos 2,5 milhões de eleitores da cidade a votarem, numas eleições em que estavam em jogo metade dos 60 assentos legislativos.
A vitória do LLA na capital consolida sua posição de oposição à esquerda peronista, que governou a Argentina durante a maior parte das últimas duas décadas.
O espetro do 'Kirchnerismo'
"O resultado desta eleição é que a sociedade entende que somos a melhor maneira de acabar definitivamente com o Kirchnerismo, que não foi nada além de uma tragédia para a Argentina", disse Adorni em seu discurso de vitória, referindo-se ao movimento político peronista da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner.
Kirchner governou o país durante oito anos, após suceder ao marido em 2007, e supervisionou um período de turbulência económica marcado por uma inflação elevada, despesas descontroladas e grandes défices orçamentais.
O país recebeu mais resgates do Fundo Monetário Internacional do que qualquer outro e tornou-se famoso pelo incumprimento das suas dívidas.
Milei, que se autodenomina um "anarco-capitalista", chegou ao poder em 2023, prometendo reduzir a burocracia argentina, fazer baixar a inflação em espiral e atrair investidores estrangeiros.
Mas Milei tem sido condenado pelo desrespeito pelas instituições democráticas, pela retórica divisionista e pelo negacionismo em relação ao clima.
No início deste ano, o presidente foi amplamente criticado por ter nomeado dois juízes do Supremo Tribunal por decreto, ignorando o Senado. A medida foi considerada um abuso da autoridade executiva.
Milei também provocou protestos depois deter comparado a homossexualidade à pedofilia e de ter anunciado planos para retirar o conceito de femicídio do código penal.
A vitória do LLA e o abandono do partido PRO por parte dos eleitores podem aumentar as hipóteses de Milei nas eleições intercalares, que se realizam em outubro.
Embora o ex-presidente Mauricio Macri, líder do PRO, tenha manifestado a sua vontade de trabalhar com Milei para afastar a esquerda do poder, também criticou a abordagem agressiva do presidente em relação à política.
Vídeo "deepfake" contra candidato do PRO
A eleição foi marcada por um vídeo deepfake que circulou na plataforma X, que pretendia mostrar Macri a anunciar que o seu partido estava a retirar a sua candidata, Silvia Lospennato.
O partido não fez qualquer anúncio, e Lospennato acabou por ficar em terceiro lugar com 15,9% dos votos.
O vídeo, que foi criado com inteligência artificial, mostrava uma imagem de Macri dizendo aos eleitores para apoiarem Adorni.
O partido PRO apresentou uma queixa ao Tribunal Eleitoral de Buenos Aires por causa do vídeo, cuja origem ainda não é clara.
O tribunal ordenou que a plataforma removesse o vídeo manipulado. A Euronews ou o X para comentar o assunto.