O antigo presidente da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, figura de proa da extrema-direita sa e que disputou com Chirac a segunda volta das eleições presidenciais de 2002, morreu na terça-feira, aos 96 anos, em Garches (Hauts-de-Seine).
Morreu aos 96 anos, num subúrbio de Paris, o controverso político francês Jean-Marie Le Pen, personalidade histórica da extrema-direita.
"Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família, foi chamado de volta a Deus às 12:00 [11h00 em Lisboa] de terça-feira”, informou a família num comunicado enviado à agência AFP.
Foram mais de 60 anos de uma carreira política que, apesar de todas as polémicas, marcou uma era.
Nascido no seio de uma família de pescadores de Trinité-sur-Mer, na Bretanha, no noroeste de França, Jean-Marie Le Pen teve um percurso escolar marcado por vários episódios de indisciplina antes de ter ido estudar Direito para Paris. Para financiar o curso universitário, desdobrou-se em diferentes atividades: pescador, leiloeiro e até explorador de minas. Já com o diploma na mão, foi voluntário no 1.º regimento de paraquedistas, tendo sido destacado, entre outras missões, para a guerra da Argélia. Chegou ainda a ser proprietário de uma editora discográfica antes de se lançar na política.
Em 1956, aos 27 anos, é eleito deputado à Assembleia Nacional, e mais tarde, em 1972, funda a Frente Nacional (FN), que viria a ser a obra da sua vida. Com ele, a FN a de pequeno grupo de extrema-direita a partido, que embora de cariz familiar, se tornou influente na cena política sa.
Le Pen candidatou-se a cinco eleições presidenciais. Apesar do fraco desempenho em 1974, conseguiu um quarto lugar na primeira volta dos escrutínios de 1988, 1995 e 2007. Ao contrário das expectativas, chegou à segunda volta em 2002, numa eleição perdida para Jacques Chirac.
Quase 30 condenações
Jean-Marie Le Pen foi condenado quase trinta vezes por declarações xenófobas, antissemitas e homofóbicas, sendo que seis destas condenações estão relacionadas com comentários feitos sobre as câmaras de gás usadas pelos nazis durante o Holocausto.
“Não estou a dizer que as câmaras de gás não existiram. Eu próprio nunca vi nenhuma. Não estudei especificamente o assunto, mas penso que se trata de um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial", afirmou Le Pen em setembro de 1987, na RTL.
Em 1991, por causa destes comentários, o Tribunal de Recurso de Versalhes condenou-o a pagar 1,2 milhões de francos a 11 associações.
Em 2011, Jean-Marie Le Pen abandona a presidência da FN, após mais de quatro décadas no cargo, sendo substituído pela filha, Marine, que começou a suavizar a linha dura seguida pelo pai, dando origem a uma relação conflituosa entre os dois, com críticas em público e privado.
Jean-Marie considerou que a mudança de nome do partido de Frente Nacional para União Nacional, promovida pela filha Marine em 2018, foi "um verdadeiro assassinato político". A Frente Nacional "é mais do que uma designação, é uma alma, uma história, um ado", declarou na altura o fundador do partido, que acabaria por ser expulso da FN em 2016 e viria a pôr fim à vida política ativa em 2019, após 34 anos no Parlamento Europeu.
Na primavera de 2024, aos 95 anos, é colocado sob a tutela das suas três filhas, Marie-Caroline, Yann e Marine. Em setembro deste ano, aguardava-o um julgamento por desvio de fundos europeus atribuídos aos assistentes parlamentares em benefício da FN, num caso em que a filha Marine também era acusada, mas os juízes decidiram que Jean-Marie já não estava em condições de comparecer no tribunal.
Na sua última aparição, surge num vídeo, gravado em sua casa, em que é visto a cantar, de forma animada, ao lado dos músicos de um grupo de rock neonazi.