JD Vance é relativamente desconhecido na política norte-americana, mas tem falado abertamente sobre a Ucrânia e tem-se oposto veementemente a continuar a apoiar o país devastado pela guerra.
O antigo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escolheu na segunda-feira o senador do Ohio, JD Vance, como seu companheiro de candidatura, numa altura em que procura regressar à Casa Branca.
Apesar de ser relativamente desconhecido no plano político - já que é senador desde o ano ado - o republicano de 39 anos já levantou suspeitas com as suas opiniões conservadoras que tendem para o extremismo.
Vance ou de um dos mais ferozes críticos de Trump a candidato no mesmo escrutínio, a sua retórica contra a ajuda à Ucrânia e o seu impulso para a proibição do aborto em todo o país indicam que, ao contrário do antigo vice-presidente Mike Pence, Vance pertence a uma estirpe mais populista da política republicana dos EUA.
De "anti- Trump" a aliado feroz
Vance nasceu e cresceu em Middletown, Ohio. Alistou-se nos Marines, o Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, e serviu no Iraque. Mais tarde, licenciou-se na Universidade Estatal de Ohio e na Faculdade de Direito de Yale. Também trabalhou como capitalista de risco em Silicon Valley, na Califórnia.
Vance ganhou fama com o seu livro de memórias, o bestseller de 2016 "Hillbilly Elegy", publicado quando Trump se candidatava à presidência.
"Hillbilly Elegy" também apresentou Vance à família Trump. Donald Trump Jr. adorou o livro - os dois tornaram-se amigos desde então.
Em 2016, Vance considerou Trump "perigoso" e "inapto" para o cargo. Também criticou a retórica aparentemente racista de Trump, chegando a afirmar que ele poderia ser "o Hitler da América". Em 2021, encontrou-se com o ex presidente dos EUA e mudou de opinião.
Uma vez eleito, Vance é um "aliado de peso" de Trump, defendendo incessantemente as políticas e o comportamento de Trump.
Kevin Roberts, Presidente da Heritage Foundation, considera que Vance é uma das principais vozes do movimento conservador em matérias fundamentais, como, por exemplo, o afastamento da política externa intervencionista, da livre economia de mercado e da "cultura americana em geral".
Os democratas apelidam-no extremista, citando as opiniões provocatórias que Vance assumiu e que, por vezes, alterou posteriormente.
Durante a sua candidatura ao Senado, por exemplo, Vance manifestou apoio à proibição nacional do aborto até às 15 semanas. Contudo, suavizou essa posição quando os eleitores do Ohio apoiaram, por esmagadora maioria, uma emenda de 2023 sobre o direito ao aborto.
Charlie Kirk, fundador do grupo ativista conservador Turning Point USA, considera que Vance articula de forma convincente a visão de mundo da "America First" e pode ajudar Trump a ganhar votos em estados em que ele perdeu, por pouco, em 2020, como Michigan e Wisconsin, que compartilham os valores, a demografia e a economia de Ohio.
O que significa a escolha de Vance para Europa?
Grande parte da Europa já está preocupada com uma possível segunda presidência de Trump, e com as implicações que isto poderá trazer à política externa dos EUA.
A escolha de Vance como n.º2 de Tump trouxe ainda mais preocupação.
Vance é conhecido como um dos "membros mais isolacionistas" do Partido Republicano, o que significa que pretende colocar os EUA em primeiro lugar, em detrimento de outras nações. Isso inclui a Ucrânia.
No início de 2024, teve um papel fundamental para tentar eliminar um projeto de lei de ajuda à Ucrânia. Quando o projeto falhou, reiterou a sua posição, dizendo: "Conseguimos deixar bem claro à Europa e ao resto do mundo que a América não pode ar cheques em branco indefinidamente".
São também conhecidas as suas críticas ao que considerava ser a excessiva dependência da Europa, relativamente aos EUA, no que respeita o investimento militar.
Em fevereiro, Vance falou ao Politico sobre as razões pelas quais os EUA deveriam limitar a ajuda à Ucrânia.
"Simplesmente não temos capacidade de produção para ar uma guerra terrestre na Europa de Leste indefinidamente. E, penso que cabe aos líderes articular isto com as suas populações", disse: "Quanto tempo se espera que isto dure? Quanto é que se espera que custe? E, mais importante, como vamos produzir as armas necessárias para apoiar os ucranianos?"
Estas palavras foram proferidas na Conferência Anual de Segurança de Munique, onde Vance faltou a uma reunião entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e o Ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba, dizendo: "Achei que não ia aprender nada de novo".
Em abril, no Senado, criticou a NATO e a Europa por gastarem "muito pouco" na defesa.
"Durante três anos, os europeus disseram-nos que Vladimir Putin é uma ameaça existencial para a Europa. E durante três anos, não conseguiram responder como se isso fosse verdade", afirmou, acrescentando que a Alemanha não gastou 2% do seu PIB na defesa - o montante que os membros da NATO acordaram como objetivo comum.
A escolha de Vance acontece numa altura em que a UE procura recuperar relações comerciais entre Bruxelas e Washington.
Durante a sua presidência, Trump aplicou impostos pesados às importações europeias de aço e alumínio.
É provável que Vance apoie esta medida, bem como a promessa de Trump de proteger a indústria norte-americana, caso seja reeleito em novembro.