Um navio de cruzeiro resgatou 68 migrantes e encontrou cinco corpos num barco que estava à deriva ao largo das Ilhas Canárias. Em Itália, sobe para 34 o número de migrantes mortos no naufrágio de um barco no Mediterrâneo.
Segundo a autoridade marítima espanhola, o petroleiro Philipp Oldendorff, que viajava do noroeste de Espanha para o Brasil, avistou o barco à deriva na tarde de quarta-feira, a cerca de 440 milhas (aprox. 708 km) náuticas (815 km) a sul de Tenerife, uma das sete ilhas do arquipélago das Canárias.
As autoridades espanholas desviaram o Insígnia, um navio de cruzeiro de luxo da Oceania Cruises que estava próximo, para resgatar os migrantes. A tripulação do Insígnia recuperou também três dos cinco corpos que se encontravam no barco de pesca. Os restos mortais de duas pessoas foram deixados no mar devido ao mau tempo que dificultou a sua recuperação. Entre os resgatados, um migrante encontrava-se em estado crítico e morreu antes que um helicóptero de salvamento o pudesse alcançar.
Os barcos em forma de canoa, conhecidos como pirogas, são utilizados pelos pescadores na Mauritânia e no Senegal.
Não é habitual os navios de cruzeiro resgatarem migrantes na rota do Atlântico, mas a piroga "estava muito longe e eles podiam estar em perigo", disse um porta-voz da agência de salvamento marítimo espanhola, falando sob condição de anonimato ao abrigo das regras.
Um dos ageiros do navio de cruzeiro, Steve Dilbeck, de Huntington Beach, Califórnia, disse que não foi informado da existência de mortos.
"Disseram que o barco estava no mar há 20 dias", declarou Dilbeck à Associated Press (AP) numa mensagem de texto. "Fomos desviados ao fim da tarde e demorámos duas horas a chegar até eles. Foram trazidos para bordo e colocados no Insígnia Lounge, que é onde se realizam os eventos do cruzeiro."
"A zona foi vedada aos ageiros. Disseram-nos que os obrigaram a tirar a roupa e a vestir fatos de macaco. Depois, perguntaram aos ageiros se tinham sapatos e roupas que pudessem doar, sobretudo para os homens. O anúncio que fizeram dizia que 62 eram homens e as restantes mulheres e crianças", acrescentou.
O Insígnia, com pavilhão das Ilhas Marshall, tinha partido do Mindelo, uma cidade portuária em Cabo Verde, na terça-feira. O seu operador, a Oceania Cruises, sediada em Miami, não comentou o salvamento.
A agência de salvamento espanhola enviou um comunicado por correio eletrónico informando que o Insígnia deveria chegar ao porto de Santa Cruz, em Tenerife, na sexta-feira.
As Ilhas Canárias são um destino para os barcos cheios de migrantes que partem do noroeste de África numa perigosa rota atlântica em busca de uma vida melhor na Europa.
O Ministério do Interior de Espanha afirma que, no ano ado, chegaram de barco 55 618 imigrantes, a maioria dos quais às Ilhas Canárias, um número recorde que representa quase o dobro do ano anterior. Mais de 23.000 desembarcaram até agora este ano, segundo o ministério.
A organização espanhola sem fins lucrativos Caminando Fronteras (Caminhando Fronteiras) diz que mais de 5.000 migrantes morreram até maio deste ano enquanto tentavam chegar às costas espanholas, a maioria deles na rota do Atlântico. O número para todo o ano de 2023 foi de 6 600, mais do dobro do número registado em 2022.
Guarda costeira italiana recupera corpos do naufrágio no mar Jónico
Nos últimos dias, o Mediterrâneo tem assistido a uma série de acontecimentos trágicos e preocupantes envolvendo migrantes que tentam fazer viagens perigosas para chegar às costas europeias. Os mais recentes incidentes incluem a recuperação de corpos de um navio naufragado pela guarda costeira italiana e relatos de violência por parte da guarda costeira líbia, que aprofunda ainda mais a atual crise humanitária.
A Guarda Costeira italiana recuperou na quinta-feira mais 14 corpos de um naufrágio recente no Mar Jónico, elevando o número de mortos para 34.
O naufrágio ocorreu ao largo da costa sul de Itália e dezenas de outros migrantes continuam desaparecidos e presumivelmente mortos.
Os sobreviventes relataram que o motor do barco incendiou-se, provocando o naufrágio da embarcação. O barco tinha partido da Turquia com cerca de 75 migrantes do Irão, da Síria e do Iraque.
Este incidente vem juntar-se à triste estatística de mais de 800 mortes no Mediterrâneo central este ano, segundo as agências da ONU.
Na Líbia, a Guarda Costeira é acusada de violência contra migrantes resgatados
Num vídeo divulgado pela ONG Sea Watch, os agentes da guarda costeira líbia foram vistos a bater nos migrantes resgatados pelo navio mercante Maridive.
O vídeo, captado pelo avião de vigilância Seabird, mostra os guardas costeiros líbios a exigir a entrega de cerca de 60 migrantes que se encontravam no convés do navio.
A Sea Watch condenou as ações como ilegais ao abrigo do direito internacional e italiano, criticando a UE por financiar o que descreve práticas violentas e desumanas.
Este incidente põe em evidência a tensão e a violência com que se confrontam os migrantes que tentam chegar às costas europeias e sublinham os contínuos desafios e tragédias no Mediterrâneo, com milhares a arriscarem as suas vidas para chegarem a territórios mais seguros.