{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2023/01/19/decisores-mundiais-debatem-guerra-na-ucrania" }, "headline": "Decisores mundiais debatem guerra na Ucr\u00e2nia", "description": "No \u00e2mbito do F\u00f3rum Econ\u00f3mico Mundial de Davos, a Euronews convidou um conjunto de dirigentes pol\u00edticos e empresariais a debater a guerra e suas consequ\u00eancias. Veja aqui o debate.", "articleBody": "No discurso de abertura do F\u00f3rum Econ\u00f3mico Mundial (FEM) em Davos , na Su\u00ed\u00e7a , a presidente da Comiss\u00e3o Europeia, Ursula von der Leyen , afirmou: \u0022A rea\u00e7\u00e3o da Europa \u00e0 guerra \u00e9 o mais recente exemplo de como a nossa uni\u00e3o se uniu quando \u00e9 mais importante\u0022. ou quase um ano desde a invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia pela R\u00fassia e a guerra est\u00e1 a ter um impacto enorme, n\u00e3o s\u00f3 na Ucr\u00e2nia mas tamb\u00e9m em toda a Europa e em todo o mundo. Quais s\u00e3o as vias pol\u00edticas a abordar e os pontos de vulnerabilidade a abordar na Europa, \u00e0 medida que a guerra movida pela R\u00fassia, sem responder a qualquer provoca\u00e7\u00e3o, se desenrola? E \u00e9 isto que vamos discutir. Este \u00e9 um debate da Euronews no \u00e2mbito do FEM, animado pela jornalista Sasha Vakulina e com o seguinte : Sanna Marin , primeira-ministra da Finl\u00e2ndia , Gregory Meeks , congressista de Nova Iorque, membro do Comit\u00e9 dos Neg\u00f3cios Estrangeiros da C\u00e2mara dos Representantes dos EUA , Maia Sandu , Presidente da Rep\u00fablica da Mold\u00e1via e Jean-Pierre Clamadieu , Presidente do Conselho de istra\u00e7\u00e3o do Grupo Engie . Debate Em que medida \u00e9 que a guerra resultou em grandes mudan\u00e7as em todos estes aspetos: la\u00e7os e liga\u00e7\u00f5es econ\u00f3micas, pol\u00edticas e militares em toda a Europa? De que forma podemos esperar que estas liga\u00e7\u00f5es continuem a evoluir este ano, j\u00e1 que vamos entrar no ano dois da guerra na Europa? Sanna Marin: Concordo plenamente com Ursula von der Leyen . A guerra n\u00e3o est\u00e1 apenas a afetar a Ucr\u00e2nia , afeta toda a Europa, o mundo inteiro na realidade. Estamos a assistir a esta mudan\u00e7a geopol\u00edtica no mundo e h\u00e1 uma guerra de valores a decorrer no mundo. A ordem baseada em regras est\u00e1 a ser desafiada e isso afeta toda a gente: n\u00e3o s\u00f3 a Ucr\u00e2nia, mas toda a gente no mundo. A guerra tamb\u00e9m afeta a Europa de formas muito concretas. Estamos tamb\u00e9m n\u00e3o s\u00f3 em guerra na Ucr\u00e2nia, mas tamb\u00e9m numa guerra energ\u00e9tica na Europa. A R\u00fassia est\u00e1 a utilizar a energia como instrumento, como arma contra a Europa, e tenta diminuir o nosso apoio \u00e0 Ucr\u00e2nia. Putin tenta fazer-nos temer a R\u00fassia, em rela\u00e7\u00e3o ao que poder\u00e1 acontecer. Ele quer que n\u00f3s e os nossos cidad\u00e3os pensemos: Quais s\u00e3o os pre\u00e7os da guerra? E j\u00e1 estamos a ver as pessoas frustradas com os elevados pre\u00e7os da energia em toda a Europa.\u00a0 Mas a resposta n\u00e3o \u00e9 enfraquecer o nosso apoio \u00e0 Ucr\u00e2nia. A resposta tem de ser o oposto. Precisamos de enviar mais apoio \u00e0 Ucr\u00e2nia, mais armas, mais ajuda humanit\u00e1ria, mais ajuda financeira para garantir que a guerra acabe o mais depressa poss\u00edvel e para uma vit\u00f3ria ucraniana. Isso \u00e9 crucial. Assim, a nossa resposta \u00e0 forma como Putin est\u00e1 a usar a energia contra a Europa deveria ser enviar mais apoio \u00e0 Ucr\u00e2nia. Presidente Sandu, a par das perturba\u00e7\u00f5es socioecon\u00f3micas, quais s\u00e3o os outros pontos-chave da vulnerabilidade na Europa como consequ\u00eancia da guerra e o que est\u00e1 a ser feito para mitigar essas vulnerabilidades? Porque o seu pa\u00eds tem uma posi\u00e7\u00e3o muito espec\u00edfica no que toca a esta guerra na Europa e \u00e0 agress\u00e3o da R\u00fassia \u00e0 Ucr\u00e2nia... \u00a0Maia Sandu: \u00c9 claro que a Mold\u00e1via era mais vulner\u00e1vel porque dependia a 100% da compra de g\u00e1s russo antes do in\u00edcio da guerra. Agora s\u00f3 recebemos 40% das nossas necessidades de g\u00e1s da Gazprom , e conseguimos rapidamente diversificar e encontrar outras fontes para fornecer energia ao pa\u00eds. A propaganda e desinforma\u00e7\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o muito importante para o meu pa\u00eds. Mas penso que esta \u00e9 uma quest\u00e3o importante para muitos pa\u00edses e precisamos de aprender a ser mais eficientes para lidar com ela, no que toca \u00e0 seguran\u00e7a cibern\u00e9tica. Concordo plenamente com a quest\u00e3o de que a R\u00fassia contava chantagear-nos com a crise energ\u00e9tica e a Europa conseguiu encontrar uma solu\u00e7\u00e3o. E isto n\u00e3o foi f\u00e1cil. E sim, temos de pagar um pre\u00e7o e sentimo-nos mal por o nosso povo ter de pagar um pre\u00e7o elevado. Mas n\u00f3s acreditamos na democracia. Valorizamos a democracia. Queremos fazer parte do mundo livre. E a \u00fanica solu\u00e7\u00e3o \u00e9 ficarmos juntos. Sim, \u00e9 dif\u00edcil, mas temos de ajudar a Ucr\u00e2nia a vencer esta guerra porque, caso contr\u00e1rio, todos n\u00f3s estaremos em perigo.\u00a0 Sr. Clamadieu, quais os fatores subjacentes \u00e0 atual situa\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica e potencial recess\u00e3o que a Europa enfrenta? Acha que s\u00e3o mais exacerbados pela guerra? E at\u00e9 que ponto ir\u00e1 a recupera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica da Europa depender dos resultados desta guerra? Jean-Pierre Clamadieu: Estamos hoje numa situa\u00e7\u00e3o em que estou bastante confiante para dizer que n\u00e3o haver\u00e1 perturba\u00e7\u00f5es no fornecimento de energia, nem de g\u00e1s nem de eletricidade na Europa durante os \u00faltimos meses de inverno. Os pre\u00e7os est\u00e3o a come\u00e7ar a baixar. N\u00e3o estamos de volta ao ponto onde est\u00e1vamos h\u00e1 dois anos, mas estamos de volta a um n\u00edvel que \u00e9 um pouco mais sustent\u00e1vel. E n\u00e3o quero minimizar o impacto deste conflito. Obviamente, isto cria grandes quest\u00f5es de competitividade para as ind\u00fastrias da Europa em rela\u00e7\u00e3o aos Estados Unidos. Penso que levar\u00e1 provavelmente mais dois anos at\u00e9 que o fluxo de g\u00e1s natural liquefeito (GNL) esteja novamente a oferecer visibilidade aos consumidores europeus. Mas, gra\u00e7as ao alinhamento dos decisores pol\u00edticos e das ind\u00fastrias, conseguimos atravessar este ano de 2022 provavelmente muito melhor do que esper\u00e1vamos quando este conflito come\u00e7ou. No dia 24 de fevereiro dentro a um ano desde o in\u00edcio desta guerra. Todos querem saber - \u00e9 uma pergunta para mil milh\u00f5es de d\u00f3lares ou mais - quanto tempo a situa\u00e7\u00e3o vai durar e como vai evoluir... Sanna Marin: Temos de dizer muito francamente e em voz alta que apoiaremos a Ucr\u00e2nia enquanto for necess\u00e1rio. N\u00e3o h\u00e1 um cen\u00e1rio ou possibilidade de que o apoio da Europa, do mundo ocidental ou das democracias venha a diminuir. Isso n\u00e3o \u00e9 uma possibilidade. Apoiaremos o tempo que for necess\u00e1rio: cinco anos, dez anos, quinze anos... o que for preciso. Apoiaremos a Ucr\u00e2nia e isto n\u00e3o vai parar.\u00a0 Cabe aos ucranianos decidir quando est\u00e3o prontos para negociar, quando est\u00e3o prontos para fazer algum acordo de paz. E n\u00f3s apoiaremos. O nosso trabalho \u00e9 apoi\u00e1-los. J\u00e1 estamos a enviar armas e precisamos de enviar armas cada vez mais avan\u00e7adas. Precisamos de continuar a enviar apoio financeiro e apoio humanit\u00e1rio, levando refugiados da Ucr\u00e2nia e impondo san\u00e7\u00f5es cada vez mais pesadas contra a R\u00fassia.\u00a0 Mas uma coisa que pode afetar a situa\u00e7\u00e3o s\u00e3o os bens congelados. H\u00e1 muitos bens congelados do Banco Central Russo , muitos bens congelados de oligarcas. Precisamos de encontrar solu\u00e7\u00f5es para a utiliza\u00e7\u00e3o destes bens. Sei que legalmente - e de um ponto de vista jur\u00eddico - \u00e9 uma quest\u00e3o muito dif\u00edcil. Mas penso que precisamos de encontrar solu\u00e7\u00f5es. Como utilizar estes fundos para apoiar a Ucr\u00e2nia, para reconstruir a Ucr\u00e2nia? Penso que isso pode afetar a guerra mais do que pensamos, porque h\u00e1 muitos interesses por detr\u00e1s destes bens e deste dinheiro. Portanto, penso que isso pode influenciar a situa\u00e7\u00e3o. N\u00e3o resolve tudo, mas penso que \u00e9 a \u00fanica coisa que ainda n\u00e3o utiliz\u00e1mos. Precisamos de encontrar um quadro legal para o fazer, para utilizar esses bens para apoiar a Ucr\u00e2nia. Este processo de reconstru\u00e7\u00e3o n\u00e3o est\u00e1 a ser adiado. N\u00e3o \u00e9 quando a guerra acabar que isso vai acontecer. Todos aqueles que visitaram o pa\u00eds sabem que ele j\u00e1 come\u00e7ou o a o. Nas regi\u00f5es, nos sub\u00farbios. Os locais que foram libertados j\u00e1 est\u00e3o a ser reconstru\u00eddos. \u00c9 algo que j\u00e1 est\u00e1 em curso e que vai estar em foco este ano. Gregory Meeks, qual \u00e9 a sua avalia\u00e7\u00e3o das poss\u00edveis trajet\u00f3rias que a guerra na Ucr\u00e2nia poder\u00e1 tomar em 2023 e que poss\u00edveis trajet\u00f3rias poder\u00e1 a NATO tomar tamb\u00e9m? Gregory Meeks: Penso que continuar\u00e1 a ver a Ucr\u00e2nia a ganhar esta guerra e a lutar enquanto lhes dermos as muni\u00e7\u00f5es e do que precisam para lutar. Porque essa determina\u00e7\u00e3o n\u00e3o vai mudar. Isso \u00e9 inabal\u00e1vel. E como a primeira-ministra acabou de indicar, o que \u00e9 absolutamente devastador para Putin \u00e9 a nossa s\u00f3lida unidade. Ele espera e procura formas de a abalar.\u00a0\u00a0 Eu penso que a propaganda russa vai ser derrotada, avan\u00e7ando. Quando falei com algumas pessoas, mesmo nos Estados Unidos, ouvindo a propaganda, pensaram que, como a R\u00fassia estava a dizer, era a Ucr\u00e2nia que estava a ser a agressora. Obviamente, n\u00e3o \u00e9 verdade. Vejo-nos a aproximar-nos e a trazer outros aliados de outras \u00e1reas do mundo. Porque, \u00e0 medida que isto se intensifica e eles veem as crises humanit\u00e1rias que est\u00e3o a ocorrer, quando veem que as pessoas s\u00e3o for\u00e7adas, que est\u00e3o a ser utilizadas, os civis est\u00e3o a ser utilizados, mortos, congelados at\u00e9 \u00e0 morte em tempo frio... Quando veem os perigos humanos que t\u00eam vindo a ocorrer e o ato criminoso humanit\u00e1rio que Putin est\u00e1 a cometer, isso vai aproximar-nos ainda mais.\u00a0 As pessoas t\u00eam falado das mudan\u00e7as no Congresso dos EUA. Agora, na C\u00e2mara dos Representantes, h\u00e1 uma cis\u00e3o. Mas o povo norte-americano, esmagadoramente, democratas e republicanos, est\u00e1 concentrado em apoiar fortemente a Ucr\u00e2nia. E isso s\u00f3 se vai intensificar \u00e0 medida que avan\u00e7armos, o que me faz acreditar que conduzir\u00e1 ao sucesso a longo prazo \u00e0 medida que atravessarmos o inverno e nos dirigimos para o ver\u00e3o.\u00a0 Como consequ\u00eancia da guerra, todos n\u00f3s temos tamb\u00e9m uma maior aprecia\u00e7\u00e3o das alian\u00e7as, sendo a NATO uma delas. Quando a Finl\u00e2ndia e a Su\u00e9cia anunciaram a aspira\u00e7\u00e3o \u00e0 NATO, houve um tweet que dizia que o que Putin tentou fazer foi uma \u201cfinlandiza\u00e7\u00e3o\u201d da Ucr\u00e2nia, mas em vez disso, acabou por fazer uma \u201cucraniza\u00e7\u00e3o\u201d da Finl\u00e2ndia e da Su\u00e9cia. Agora, est\u00e3o a caminho da NATO. Como est\u00e1 a correr o processo? A aspira\u00e7\u00e3o da Su\u00e9cia e da Finl\u00e2ndia \u00e0 NATO aconteceu em resposta \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia. Como \u00e9 que est\u00e1 a correr? Como est\u00e1 a decorrer a coopera\u00e7\u00e3o e a solidariedade? Porque n\u00e3o o est\u00e1 a fazer sozinha, mas de m\u00e3os dadas com a Su\u00e9cia... Sanna Marin: A atmosfera finlandesa e a mentalidade das pessoas mudou ao mesmo tempo, quando a R\u00fassia atacou a Ucr\u00e2nia. Antes desse momento, se perguntassem ao povo finland\u00eas se achavam que a Finl\u00e2ndia devia aderir \u00e0 NATO , a maioria teria dito n\u00e3o. Temos a possibilidade de nos candidatar. \u00c9 muito importante que tenhamos essa possibilidade. Mas n\u00e3o tivemos essa discuss\u00e3o ativa, antes. E se perguntassem \u00e0 maioria do povo finland\u00eas ou ao parlamento, eles teriam dito: \u0022N\u00e3o, n\u00e3o vemos que nos devamos candidatar agora \u00e0 ades\u00e3o \u00e0 NATO\u0022.\u00a0 Mas, quando a R\u00fassia atacou a Ucr\u00e2nia, tudo mudou. O mundo mudou. O nosso vizinho j\u00e1 n\u00e3o era o mesmo. Era um vizinho agressivo, que atravessou aquela fronteira. E os finlandeses perguntaram-se qual a fronteira que a R\u00fassia n\u00e3o iria atravessar. Essa \u00e9 a fronteira da NATO. Por isso, o povo finland\u00eas quis que f\u00f4ssemos para a NATO. 188 parlamentares dos 200 votaram a favor da ades\u00e3o \u00e0 NATO. N\u00e3o temos 100%, mas temos esta unidade na Finl\u00e2ndia. Temos esta coes\u00e3o e consenso sobre a candidatura \u00e0 NATO. Tamb\u00e9m estou muito satisfeita por termos tomado esta decis\u00e3o ao mesmo tempo que os nossos vizinhos suecos, porque partilhamos a mesma atmosfera geopol\u00edtica, o mesmo ambiente de seguran\u00e7a geopol\u00edtica. Por isso, penso que da perspetiva da NATO tamb\u00e9m \u00e9 muito importante que a Finl\u00e2ndia e a Su\u00e9cia estejam a candidatar-se e a aderir em conjunto. \u00c9 claro que h\u00e1 dois pa\u00edses que ainda n\u00e3o ratificaram: a Hungria e a Turquia . E falei, por exemplo, com o primeiro-ministro Orb\u00e1n sempre que nos reunimos no Conselho Europeu. Ele disse que ir\u00e3o ratificar assim que o parlamento iniciar o seu mandato nesta primavera, esperemos que muito em breve. Na Turquia, ainda n\u00e3o temos esse calend\u00e1rio. Naturalmente, esperamos que isso aconte\u00e7a mais cedo do que tarde. Estamos a cumprir todos os crit\u00e9rios, estamos a picar todos os pontos necess\u00e1rios para nos tornarmos um membro da NATO.\u00a0 A Finl\u00e2ndia j\u00e1 est\u00e1 a utilizar mais de 2% do PIB na defesa e j\u00e1 o fazemos h\u00e1 bastante tempo. Estamos a ver um grande apoio do povo ucraniano para lutar pelo seu pa\u00eds. Est\u00e3o a lutar pela sua liberdade, pela sua independ\u00eancia e pelo seu pa\u00eds. Se perguntarmos ao povo finland\u00eas como est\u00e1 disposto a defender a Finl\u00e2ndia, penso que estamos em primeiro lugar. A Ucr\u00e2nia \u00e9 a n\u00famero dois. Portanto, temos estado em guerra com a R\u00fassia e sabemos como isso \u00e9. E n\u00e3o queremos nunca mais que haja uma guerra em solo finland\u00eas. \u00c9 por isso que estamos a candidatar-nos \u00e0 NATO, para que n\u00e3o volte a haver uma guerra na Finl\u00e2ndia. Essa \u00e9 a fronteira que a R\u00fassia n\u00e3o atravessa. \u00c9 por isso que nos estamos a candidatar \u00e0 NATO. Presidente Sandu, a Mold\u00e1via est\u00e1 a candidatar-se \u00e0 Uni\u00e3o Europeia. \u00c9 uma outra alian\u00e7a. Qual a import\u00e2ncia disso? Como mudou a opini\u00e3o neste sentido? Porque a Mold\u00e1via tamb\u00e9m j\u00e1 teve algumas sondagens de opini\u00e3o que nem sempre apoiaram a ideia. A quest\u00e3o da propaganda, que Gregory Meeks referiu h\u00e1 pouco, \u00e9 algo pelo qual a Mold\u00e1via tem ado ao longo dos anos\u2026 Maia Sandu: Na verdade, acredito que a oportunidade de a Mold\u00e1via sobreviver como democracia est\u00e1 apenas dentro da Uni\u00e3o Europeia e \u00e9 preciso ser realista sobre o que vai acontecer na nossa regi\u00e3o nos pr\u00f3ximos 10 ou 15 anos. \u00c9 claro que todos esperamos uma vit\u00f3ria r\u00e1pida da Ucr\u00e2nia e isso vai acontecer. Mas devemos esperar ver a R\u00fassia tornar-se um pa\u00eds democr\u00e1tico muito em breve. Isto significa que os desafios para a regi\u00e3o v\u00e3o continuar a existir. A Mold\u00e1via sobreviveu, conseguiu lidar com os desafios de que falou no in\u00edcio, em grande medida gra\u00e7as ao apoio que recebemos da UE e dos parceiros de desenvolvimento. Estamos muito gratos.\u00a0 \u00c9 importante ter uma Mold\u00e1via est\u00e1vel. \u00c9 importante para n\u00f3s, \u00e9 importante para a Ucr\u00e2nia, \u00e9 importante para a Uni\u00e3o Europeia. Para a UE, \u00e9 importante ter uma Ucr\u00e2nia pac\u00edfica e est\u00e1vel. \u00c9 por isso que o alargamento da UE \u00e9 importante. Penso que a Ucr\u00e2nia provou que est\u00e1 a pagar o pre\u00e7o mais alto pela democracia e pelos valores da UE. Os moldavos t\u00eam feito o seu melhor. E sim, a propaganda ainda \u00e9 forte e n\u00f3s estamos a combat\u00ea-la. Mas temos mais de 70% das pessoas ao longo dos anos a apoiar a ideia da ades\u00e3o, apesar da propaganda, apesar da pobreza e dos muitos problemas que temos vindo a enfrentar. Temos este apoio constante \u00e0 integra\u00e7\u00e3o na UE. Penso que o gesto recente da generosidade demonstrada pelo povo moldavo, quando conseguiu ajudar 600.000 a 700.000 refugiados ucranianos, mostra que valorizamos os valores da Uni\u00e3o Europeia. N\u00f3s valorizamos a paz e a liberdade. Portanto, o alargamento da Uni\u00e3o Europeia torn\u00e1-la-\u00e1 mais forte, porque a UE precisa de uma Ucr\u00e2nia pac\u00edfica e est\u00e1vel, da Mold\u00e1via e dos restantes pa\u00edses que aspiram \u00e0 ades\u00e3o. Pensa, a longo prazo, que a Mold\u00e1via pode aspirar a uma ades\u00e3o \u00e0 NATO? Maia Sandu: Sentimos como somos vulner\u00e1veis. A Ucr\u00e2nia est\u00e1 a defender-nos literalmente e n\u00f3s estamos a tomar medidas para melhorar o nosso setor da defesa. Mas somos muito realistas quanto ao que podemos fazer. Somos um pa\u00eds democr\u00e1tico e temos de ter essa discuss\u00e3o. Deve haver apoio popular. Estamos agora a ter esta discuss\u00e3o s\u00e9ria sobre se podemos, por n\u00f3s pr\u00f3prios, defender-nos num mundo novo, em que vemos que a guerra \u00e9 um perigo real. Como \u00e9 que o impacto da guerra na Ucr\u00e2nia remodelou a paisagem energ\u00e9tica global e quais s\u00e3o as suas expectativas quando se trata de acelerar esta transi\u00e7\u00e3o para longe da depend\u00eancia dos combust\u00edveis f\u00f3sseis russos, mas tamb\u00e9m uma transi\u00e7\u00e3o em geral? Jean-Pierre Clamadieu: Penso que o desafio para a Europa \u00e9 garantir que podemos refor\u00e7ar o nosso sistema energ\u00e9tico e isto est\u00e1 completamente alinhado com a necessidade de acelerar a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica. N\u00e3o temos quaisquer recursos f\u00f3sseis na Europa. Temos um pouco de carv\u00e3o, mas n\u00e3o \u00e9 algo que queiramos desenvolver. Portanto, o desafio agora \u00e9 garantir que podemos acelerar o desenvolvimento das energias renov\u00e1veis. A UE tem uma agenda, a agenda Fit for 55 . Temos de garantir que a situa\u00e7\u00e3o atual, a atenua\u00e7\u00e3o de uma crise, n\u00e3o abranda esta agenda. Pelo contr\u00e1rio. O que vemos hoje \u00e9 uma s\u00e9rie de decis\u00f5es que devem criar as condi\u00e7\u00f5es para acelerarmos o desenvolvimento das energias renov\u00e1veis, do armazenamento, do hidrog\u00e9nio... Com este objetivo de acelerar a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica, isto ir\u00e1 ajudar-nos a alcan\u00e7ar a independ\u00eancia estrat\u00e9gica. \u00c9 algo de que precisamos absolutamente.\u00a0 ", "dateCreated": "2023-01-12T17:15:46+01:00", "dateModified": "2023-01-19T19:17:27+01:00", "datePublished": "2023-01-19T19:15:51+01:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F30%2F29%2F94%2F1440x810_cmsv2_bbb91cf9-4477-5a16-9692-d1df0dbcefeb-7302994.jpg", "width": "1440px", "height": "810px", "caption": "No \u00e2mbito do F\u00f3rum Econ\u00f3mico Mundial de Davos, a Euronews convidou um conjunto de dirigentes pol\u00edticos e empresariais a debater a guerra e suas consequ\u00eancias. 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Decisores mundiais debatem guerra na Ucrânia

Decisores mundiais debatem guerra na Ucrânia
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No âmbito do Fórum Económico Mundial de Davos, a Euronews convidou um conjunto de dirigentes políticos e empresariais a debater a guerra e suas consequências. Veja aqui o debate.

No discurso de abertura do Fórum Económico Mundial (FEM) em Davos, na Suíça, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou: "A reação da Europa à guerra é o mais recente exemplo de como a nossa união se uniu quando é mais importante".

ou quase um ano desde a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra está a ter um impacto enorme, não só na Ucrânia mas também em toda a Europa e em todo o mundo.

Quais são as vias políticas a abordar e os pontos de vulnerabilidade a abordar na Europa, à medida que a guerra movida pela Rússia, sem responder a qualquer provocação, se desenrola? E é isto que vamos discutir. Este é um debate da Euronews no âmbito do FEM, animado pela jornalista Sasha Vakulina e com o seguinte :

  • Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia,
  • Gregory Meeks, congressista de Nova Iorque, membro do Comité dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes dos EUA,
  • Maia Sandu, Presidente da República da Moldávia e
  • Jean-Pierre Clamadieu, Presidente do Conselho de istração do Grupo Engie.

Debate

Em que medida é que a guerra resultou em grandes mudanças em todos estes aspetos: laços e ligações económicas, políticas e militares em toda a Europa? De que forma podemos esperar que estas ligações continuem a evoluir este ano, já que vamos entrar no ano dois da guerra na Europa?

Sanna Marin:

Concordo plenamente com Ursula von der Leyen. A guerra não está apenas a afetar a Ucrânia, afeta toda a Europa, o mundo inteiro na realidade.

Estamos a assistir a esta mudança geopolítica no mundo e há uma guerra de valores a decorrer no mundo. A ordem baseada em regras está a ser desafiada e isso afeta toda a gente: não só a Ucrânia, mas toda a gente no mundo. A guerra também afeta a Europa de formas muito concretas. Estamos também não só em guerra na Ucrânia, mas também numa guerra energética na Europa. A Rússia está a utilizar a energia como instrumento, como arma contra a Europa, e tenta diminuir o nosso apoio à Ucrânia. Putin tenta fazer-nos temer a Rússia, em relação ao que poderá acontecer. Ele quer que nós e os nossos cidadãos pensemos: Quais são os preços da guerra? E já estamos a ver as pessoas frustradas com os elevados preços da energia em toda a Europa. 

Mas a resposta não é enfraquecer o nosso apoio à Ucrânia. A resposta tem de ser o oposto. Precisamos de enviar mais apoio à Ucrânia, mais armas, mais ajuda humanitária, mais ajuda financeira para garantir que a guerra acabe o mais depressa possível e para uma vitória ucraniana. Isso é crucial. Assim, a nossa resposta à forma como Putin está a usar a energia contra a Europa deveria ser enviar mais apoio à Ucrânia.

Presidente Sandu, a par das perturbações socioeconómicas, quais são os outros pontos-chave da vulnerabilidade na Europa como consequência da guerra e o que está a ser feito para mitigar essas vulnerabilidades? Porque o seu país tem uma posição muito específica no que toca a esta guerra na Europa e à agressão da Rússia à Ucrânia...

Maia Sandu:

É claro que a Moldávia era mais vulnerável porque dependia a 100% da compra de gás russo antes do início da guerra. Agora só recebemos 40% das nossas necessidades de gás da Gazprom, e conseguimos rapidamente diversificar e encontrar outras fontes para fornecer energia ao país. A propaganda e desinformação é uma questão muito importante para o meu país. Mas penso que esta é uma questão importante para muitos países e precisamos de aprender a ser mais eficientes para lidar com ela, no que toca à segurança cibernética.

Concordo plenamente com a questão de que a Rússia contava chantagear-nos com a crise energética e a Europa conseguiu encontrar uma solução. E isto não foi fácil. E sim, temos de pagar um preço e sentimo-nos mal por o nosso povo ter de pagar um preço elevado. Mas nós acreditamos na democracia. Valorizamos a democracia. Queremos fazer parte do mundo livre. E a única solução é ficarmos juntos. Sim, é difícil, mas temos de ajudar a Ucrânia a vencer esta guerra porque, caso contrário, todos nós estaremos em perigo. 

Queremos fazer parte do mundo livre.
Maia Sandu
Presidente da Moldávia

Sr. Clamadieu, quais os fatores subjacentes à atual situação económica e potencial recessão que a Europa enfrenta? Acha que são mais exacerbados pela guerra? E até que ponto irá a recuperação económica da Europa depender dos resultados desta guerra? 

Jean-Pierre Clamadieu:

Estamos hoje numa situação em que estou bastante confiante para dizer que não haverá perturbações no fornecimento de energia, nem de gás nem de eletricidade na Europa durante os últimos meses de inverno. Os preços estão a começar a baixar. Não estamos de volta ao ponto onde estávamos há dois anos, mas estamos de volta a um nível que é um pouco mais sustentável. E não quero minimizar o impacto deste conflito. Obviamente, isto cria grandes questões de competitividade para as indústrias da Europa em relação aos Estados Unidos. Penso que levará provavelmente mais dois anos até que o fluxo de gás natural liquefeito (GNL) esteja novamente a oferecer visibilidade aos consumidores europeus. Mas, graças ao alinhamento dos decisores políticos e das indústrias, conseguimos atravessar este ano de 2022 provavelmente muito melhor do que esperávamos quando este conflito começou.

Não haverá perturbações no fornecimento de energia, nem de gás nem de eletricidade na Europa durante os últimos meses de inverno
Jean-Pierre Clamadieu
Presidente do Grupo Engie

No dia 24 de fevereiro dentro a um ano desde o início desta guerra. Todos querem saber - é uma pergunta para mil milhões de dólares ou mais - quanto tempo a situação vai durar e como vai evoluir...

Sanna Marin:

Temos de dizer muito francamente e em voz alta que apoiaremos a Ucrânia enquanto for necessário. Não há um cenário ou possibilidade de que o apoio da Europa, do mundo ocidental ou das democracias venha a diminuir. Isso não é uma possibilidade. Apoiaremos o tempo que for necessário: cinco anos, dez anos, quinze anos... o que for preciso. Apoiaremos a Ucrânia e isto não vai parar. 

Cabe aos ucranianos decidir quando estão prontos para negociar, quando estão prontos para fazer algum acordo de paz. E nós apoiaremos. O nosso trabalho é apoiá-los. Já estamos a enviar armas e precisamos de enviar armas cada vez mais avançadas. Precisamos de continuar a enviar apoio financeiro e apoio humanitário, levando refugiados da Ucrânia e impondo sanções cada vez mais pesadas contra a Rússia. 

Mas uma coisa que pode afetar a situação são os bens congelados. Há muitos bens congelados do Banco Central Russo, muitos bens congelados de oligarcas. Precisamos de encontrar soluções para a utilização destes bens. Sei que legalmente - e de um ponto de vista jurídico - é uma questão muito difícil. Mas penso que precisamos de encontrar soluções.

Como utilizar estes fundos para apoiar a Ucrânia, para reconstruir a Ucrânia? Penso que isso pode afetar a guerra mais do que pensamos, porque há muitos interesses por detrás destes bens e deste dinheiro. Portanto, penso que isso pode influenciar a situação. Não resolve tudo, mas penso que é a única coisa que ainda não utilizámos. Precisamos de encontrar um quadro legal para o fazer, para utilizar esses bens para apoiar a Ucrânia.

Este processo de reconstrução não está a ser adiado. Não é quando a guerra acabar que isso vai acontecer. Todos aqueles que visitaram o país sabem que ele já começou o a o. Nas regiões, nos subúrbios. Os locais que foram libertados já estão a ser reconstruídos. É algo que já está em curso e que vai estar em foco este ano. Gregory Meeks, qual é a sua avaliação das possíveis trajetórias que a guerra na Ucrânia poderá tomar em 2023 e que possíveis trajetórias poderá a NATO tomar também?

Gregory Meeks:

Penso que continuará a ver a Ucrânia a ganhar esta guerra e a lutar enquanto lhes dermos as munições e do que precisam para lutar. Porque essa determinação não vai mudar. Isso é inabalável. E como a primeira-ministra acabou de indicar, o que é absolutamente devastador para Putin é a nossa sólida unidade. Ele espera e procura formas de a abalar.  

Eu penso que a propaganda russa vai ser derrotada, avançando. Quando falei com algumas pessoas, mesmo nos Estados Unidos, ouvindo a propaganda, pensaram que, como a Rússia estava a dizer, era a Ucrânia que estava a ser a agressora. Obviamente, não é verdade.

Vejo-nos a aproximar-nos e a trazer outros aliados de outras áreas do mundo. Porque, à medida que isto se intensifica e eles veem as crises humanitárias que estão a ocorrer, quando veem que as pessoas são forçadas, que estão a ser utilizadas, os civis estão a ser utilizados, mortos, congelados até à morte em tempo frio... Quando veem os perigos humanos que têm vindo a ocorrer e o ato criminoso humanitário que Putin está a cometer, isso vai aproximar-nos ainda mais. 

As pessoas têm falado das mudanças no Congresso dos EUA. Agora, na Câmara dos Representantes, há uma cisão. Mas o povo norte-americano, esmagadoramente, democratas e republicanos, está concentrado em apoiar fortemente a Ucrânia. E isso só se vai intensificar à medida que avançarmos, o que me faz acreditar que conduzirá ao sucesso a longo prazo à medida que atravessarmos o inverno e nos dirigimos para o verão. 

A propaganda russa vai ser derrotada.
Gregory Meeks
Congressista norte-americano

Como consequência da guerra, todos nós temos também uma maior apreciação das alianças, sendo a NATO uma delas. Quando a Finlândia e a Suécia anunciaram a aspiração à NATO, houve um tweet que dizia que o que Putin tentou fazer foi uma “finlandização” da Ucrânia, mas em vez disso, acabou por fazer uma “ucranização” da Finlândia e da Suécia. Agora, estão a caminho da NATO. Como está a correr o processo? A aspiração da Suécia e da Finlândia à NATO aconteceu em resposta à guerra na Ucrânia. Como é que está a correr? Como está a decorrer a cooperação e a solidariedade? Porque não o está a fazer sozinha, mas de mãos dadas com a Suécia...

Sanna Marin:

A atmosfera finlandesa e a mentalidade das pessoas mudou ao mesmo tempo, quando a Rússia atacou a Ucrânia. Antes desse momento, se perguntassem ao povo finlandês se achavam que a Finlândia devia aderir à NATO, a maioria teria dito não. Temos a possibilidade de nos candidatar. É muito importante que tenhamos essa possibilidade. Mas não tivemos essa discussão ativa, antes. E se perguntassem à maioria do povo finlandês ou ao parlamento, eles teriam dito: "Não, não vemos que nos devamos candidatar agora à adesão à NATO". 

Mas, quando a Rússia atacou a Ucrânia, tudo mudou. O mundo mudou. O nosso vizinho já não era o mesmo. Era um vizinho agressivo, que atravessou aquela fronteira. E os finlandeses perguntaram-se qual a fronteira que a Rússia não iria atravessar. Essa é a fronteira da NATO. Por isso, o povo finlandês quis que fôssemos para a NATO. 188 parlamentares dos 200 votaram a favor da adesão à NATO. Não temos 100%, mas temos esta unidade na Finlândia. Temos esta coesão e consenso sobre a candidatura à NATO. Também estou muito satisfeita por termos tomado esta decisão ao mesmo tempo que os nossos vizinhos suecos, porque partilhamos a mesma atmosfera geopolítica, o mesmo ambiente de segurança geopolítica.

Há uma fronteira que a Rússia não vai querer ar: É a fronteira da NATO.
Sanna Marin
Primeira-ministra da Finlândia

Por isso, penso que da perspetiva da NATO também é muito importante que a Finlândia e a Suécia estejam a candidatar-se e a aderir em conjunto. É claro que há dois países que ainda não ratificaram: a Hungria e a Turquia. E falei, por exemplo, com o primeiro-ministro Orbán sempre que nos reunimos no Conselho Europeu. Ele disse que irão ratificar assim que o parlamento iniciar o seu mandato nesta primavera, esperemos que muito em breve. Na Turquia, ainda não temos esse calendário. Naturalmente, esperamos que isso aconteça mais cedo do que tarde. Estamos a cumprir todos os critérios, estamos a picar todos os pontos necessários para nos tornarmos um membro da NATO. 

A Finlândia já está a utilizar mais de 2% do PIB na defesa e já o fazemos há bastante tempo. Estamos a ver um grande apoio do povo ucraniano para lutar pelo seu país. Estão a lutar pela sua liberdade, pela sua independência e pelo seu país. Se perguntarmos ao povo finlandês como está disposto a defender a Finlândia, penso que estamos em primeiro lugar. A Ucrânia é a número dois. Portanto, temos estado em guerra com a Rússia e sabemos como isso é. E não queremos nunca mais que haja uma guerra em solo finlandês. É por isso que estamos a candidatar-nos à NATO, para que não volte a haver uma guerra na Finlândia. Essa é a fronteira que a Rússia não atravessa. É por isso que nos estamos a candidatar à NATO.

Presidente Sandu, a Moldávia está a candidatar-se à União Europeia. É uma outra aliança. Qual a importância disso? Como mudou a opinião neste sentido? Porque a Moldávia também já teve algumas sondagens de opinião que nem sempre apoiaram a ideia. A questão da propaganda, que Gregory Meeks referiu há pouco, é algo pelo qual a Moldávia tem ado ao longo dos anos…

Maia Sandu:

Na verdade, acredito que a oportunidade de a Moldávia sobreviver como democracia está apenas dentro da União Europeia e é preciso ser realista sobre o que vai acontecer na nossa região nos próximos 10 ou 15 anos. É claro que todos esperamos uma vitória rápida da Ucrânia e isso vai acontecer. Mas devemos esperar ver a Rússia tornar-se um país democrático muito em breve. Isto significa que os desafios para a região vão continuar a existir. A Moldávia sobreviveu, conseguiu lidar com os desafios de que falou no início, em grande medida graças ao apoio que recebemos da UE e dos parceiros de desenvolvimento. Estamos muito gratos. 

É importante ter uma Moldávia estável. É importante para nós, é importante para a Ucrânia, é importante para a União Europeia. Para a UE, é importante ter uma Ucrânia pacífica e estável. É por isso que o alargamento da UE é importante. Penso que a Ucrânia provou que está a pagar o preço mais alto pela democracia e pelos valores da UE. Os moldavos têm feito o seu melhor. E sim, a propaganda ainda é forte e nós estamos a combatê-la. Mas temos mais de 70% das pessoas ao longo dos anos a apoiar a ideia da adesão, apesar da propaganda, apesar da pobreza e dos muitos problemas que temos vindo a enfrentar. Temos este apoio constante à integração na UE. Penso que o gesto recente da generosidade demonstrada pelo povo moldavo, quando conseguiu ajudar 600.000 a 700.000 refugiados ucranianos, mostra que valorizamos os valores da União Europeia. Nós valorizamos a paz e a liberdade. Portanto, o alargamento da União Europeia torná-la-á mais forte, porque a UE precisa de uma Ucrânia pacífica e estável, da Moldávia e dos restantes países que aspiram à adesão.

Pensa, a longo prazo, que a Moldávia pode aspirar a uma adesão à NATO?

Maia Sandu:

Sentimos como somos vulneráveis. A Ucrânia está a defender-nos literalmente e nós estamos a tomar medidas para melhorar o nosso setor da defesa. Mas somos muito realistas quanto ao que podemos fazer. Somos um país democrático e temos de ter essa discussão. Deve haver apoio popular. Estamos agora a ter esta discussão séria sobre se podemos, por nós próprios, defender-nos num mundo novo, em que vemos que a guerra é um perigo real.

Como é que o impacto da guerra na Ucrânia remodelou a paisagem energética global e quais são as suas expectativas quando se trata de acelerar esta transição para longe da dependência dos combustíveis fósseis russos, mas também uma transição em geral?

Jean-Pierre Clamadieu:

Penso que o desafio para a Europa é garantir que podemos reforçar o nosso sistema energético e isto está completamente alinhado com a necessidade de acelerar a transição energética. Não temos quaisquer recursos fósseis na Europa. Temos um pouco de carvão, mas não é algo que queiramos desenvolver. Portanto, o desafio agora é garantir que podemos acelerar o desenvolvimento das energias renováveis. A UE tem uma agenda, a agenda Fit for 55. Temos de garantir que a situação atual, a atenuação de uma crise, não abranda esta agenda. Pelo contrário. O que vemos hoje é uma série de decisões que devem criar as condições para acelerarmos o desenvolvimento das energias renováveis, do armazenamento, do hidrogénio... Com este objetivo de acelerar a transição energética, isto irá ajudar-nos a alcançar a independência estratégica. É algo de que precisamos absolutamente.

Nome do jornalista • Ricardo Figueira

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