{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2022/02/21/europa-e-africa-mais-proximas-charles-michel-e-macky-sall-em-entrevista" }, "headline": "Europa e \u00c1frica mais pr\u00f3ximas - Charles Michel e Macky Sall em entrevista", "description": "Os l\u00edderes da Uni\u00e3o Europeia e da Uni\u00e3o Africana falaram em exclusivo \u00e0 Euronews sobre a recente cimeira.", "articleBody": "Os l\u00edderes europeus e africanos reuniram-se em Bruxelas para a sexta cimeira entre os dois parceiros . \u00c1frica e Europa querem lan\u00e7ar as bases para uma nova parceria. A Uni\u00e3o Europeia quer continuar a ser o principal parceiro multilateral do continente africano. Aos olhos dos l\u00edderes, esta parceria renovada deve ir al\u00e9m das quest\u00f5es econ\u00f3micas. \u00c9 tamb\u00e9m uma quest\u00e3o de educa\u00e7\u00e3o, sa\u00fade, clima e tecnologia digital. De certa forma, trata-se de moldar a governa\u00e7\u00e3o global e colocar esta parceria na cena internacional.\u00a0 Para falar sobre tudo isto, a Euronews encontrou-se com o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel , e com\u00a0 o Presidente do Senegal e da Uni\u00e3o Africana, Macky Sall . Balan\u00e7o da cimeira Nathalie Wakam, Euronews:\u00a0Charles Michel, o primeiro objetivo desta cimeira foi reordenar um pouco o jogo. Est\u00e1 plenamente satisfeito com o que foi alcan\u00e7ado durante estes dois dias em Bruxelas? Charles Michel:\u00a0 Estou muito satisfeito, porque estou convencido de que durante estas poucas horas, durante estes dois dias em Bruxelas, a parceria entre a \u00c1frica e a Europa foi reformulada e renovada. Mud\u00e1mos o paradigma e a prepara\u00e7\u00e3o da cimeira j\u00e1 refletia essa vontade pol\u00edtica comum. Como podemos identificar os objetivos e desafios em conjunto? Como podemos identificar em conjunto as melhores solu\u00e7\u00f5es com mais pragmatismo, sendo mais operacional e mais concreto? Estabelecemos estes princ\u00edpios de respeito m\u00fatuo e de interesse m\u00fatuo e estas avalia\u00e7\u00f5es regulares para que possamos realmente cumprir os nossos compromissos. NW:\u00a0Ent\u00e3o est\u00e1 feliz? CM:\u00a0 Estou feliz porque senti uma boa atmosfera. Senti que os l\u00edderes africanos e europeus estavam empenhados, motivados e mobilizados para se ouvirem uns aos outros e isso \u00e9 importante, porque essa \u00e9 a chave para a confian\u00e7a. Para compreender melhor os pontos de vista de ambos os lados. Para compreender melhor, desde o in\u00edcio, pontos de vista que por vezes n\u00e3o s\u00e3o necessariamente os mesmos, mas onde se encontram pontes, caminhos comuns para que quando h\u00e1 dificuldades, porque pode haver, tenhamos capacidade de ultraar o obst\u00e1culo de uma forma inteligente. Gr\u00e9goire Lory, Euronews:\u00a0Macky Sall, pensa que depois desta cimeira \u00e9 poss\u00edvel construir esta parceria renovada? Macky Sall:\u00a0 Absolutamente. Como disse Charles, gostaria de lhe agradecer em primeiro lugar pela boa organiza\u00e7\u00e3o desta cimeira, mas tamb\u00e9m pela forma como esta cimeira foi preparada. Isso permitiu-nos alcan\u00e7ar este resultado, que ser\u00e1 o ponto de partida desta parceria renovada e repensada, mas constru\u00edda no respeito m\u00fatuo, na solidariedade e, finalmente, na escuta uns dos outros porque muitas vezes n\u00e3o fomos ouvidos. Muitas vezes foram-nos dadas apenas receitas, solu\u00e7\u00f5es. Registo esta mudan\u00e7a de paradigma fundamental na rela\u00e7\u00e3o, constru\u00edda sobre a amizade, a considera\u00e7\u00e3o, a escuta m\u00fatua e a procura de solu\u00e7\u00f5es comuns, a constru\u00e7\u00e3o conjunta de solu\u00e7\u00f5es. Quando cheg\u00e1mos a Bruxelas, claro, havia assuntos delicados sobre os quais ainda n\u00e3o t\u00ednhamos terminado as negocia\u00e7\u00f5es: A quest\u00e3o da transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica, a transi\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica, as quest\u00f5es dos direitos de propriedade em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s vacinas. S\u00e3o assuntos dif\u00edceis que temos mais ou menos conseguido resolver. Em primeiro lugar, o m\u00e9todo de trabalho foi uma grande inova\u00e7\u00e3o, deu-nos uma maior efici\u00eancia e acabou por nos levar a resultados bastante convincentes. Agora h\u00e1 a implementa\u00e7\u00e3o, com a qual tamb\u00e9m nos comprometemos. \u00c1frica e Covid NW:\u00a0Macky Sall, a gest\u00e3o da Covid provocou alguma tens\u00e3o nas rela\u00e7\u00f5es entre a Uni\u00e3o Africana e a Uni\u00e3o Europeia. Apareceu a variante \u00f3micron e foram tomadas v\u00e1rias decis\u00f5es em consequ\u00eancia disso. Agora, h\u00e1 a quest\u00e3o premente do levantamento das patentes de vacinas. N\u00e3o conseguiu o que queria nesse sentido. Ser\u00e1 isso um fracasso? MS:\u00a0 N\u00e3o, de forma alguma. N\u00e3o \u00e9, de todo, um fracasso. Ou seja, quando existem duas posi\u00e7\u00f5es opostas, tentamos encontrar um compromisso, uma solu\u00e7\u00e3o que satisfa\u00e7a ambas as posi\u00e7\u00f5es. N\u00e3o estamos numa rela\u00e7\u00e3o manique\u00edsta, de \u0022sim ou n\u00e3o\u0022. Para conseguirmos o que queremos, ou seja, que as vacinas sejam produzidas em \u00c1frica, pelo menos 60%, a Europa tem feito esfor\u00e7os. Em primeiro lugar, o fornecimento de vacinas no programa covax, independentemente do que se possa pensar sobre ele. J\u00e1 foram istradas 150 milh\u00f5es de doses. A Europa est\u00e1 empenhada em disponibilizar 400 milh\u00f5es de doses at\u00e9 ao ver\u00e3o de 2022. Portanto, esse \u00e9 o primeiro o. Mas dizemos que receber doses n\u00e3o \u00e9 suficiente. Queremos produzi-las em \u00c1frica. Nesse quadro, houve um interc\u00e2mbio extremamente importante. Os pa\u00edses europeus comprometeram-se connosco e com a OMS, a transferir a nova tecnologia de ARN mensageiro para seis pa\u00edses africanos inicialmente, seis centros. Neste contexto, temos tamb\u00e9m de tratar da quest\u00e3o das patentes. Algumas pessoas dizem que as patentes devem ser suspensas. Outros dizem que n\u00e3o se pode questionar a propriedade intelectual. Ent\u00e3o, o que devemos fazer? Temos uma pandemia. As pessoas est\u00e3o a morrer durante esta pandemia. Demos um mandato \u00e0s duas comiss\u00f5es, da Uni\u00e3o Europeia e a Uni\u00e3o Africana , e a OMC vai acompanhar-nos para que possamos encontrar um compromisso. O compromisso \u00e9, antes de mais, a transfer\u00eancia de tecnologia. Uma vez que tenhamos a tecnologia, \u00e9 mais f\u00e1cil discutir com a pessoa que tem a patente, talvez para melhorar as condi\u00e7\u00f5es, para reduzir os custos de modo a que aqueles que t\u00eam a tecnologia possam reproduzi-la no continente. Portanto, este debate foi adiado para abril-maio e n\u00e3o creio que possamos dizer que seja um fracasso. Pelo contr\u00e1rio, existe uma vontade comum de alcan\u00e7ar este compromisso, que tenho a certeza que ser\u00e1 encontrada. GL:\u00a0Charles Michel, porque \u00e9 que a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o quis levantar as patentes? N\u00e3o tem medo de acentuar a desconfian\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o aos parceiros africanos? CM:\u00a0 Estamos convencidos que partilhamos exatamente o mesmo objetivo. Queremos, l\u00edderes africanos e l\u00edderes europeus, ter a capacidade de desenvolver a produ\u00e7\u00e3o de vacinas, e no setor farmac\u00eautico em geral, no continente africano. Esse \u00e9 o ponto de partida. Em segundo lugar, estamos bem cientes de que a propriedade intelectual \u00e9 uma poderosa alavanca para promover a inova\u00e7\u00e3o e a investiga\u00e7\u00e3o e \u00e9 essencial proteg\u00ea-la. Depois, compreendemos que quando s\u00e3o produzidos medicamentos ou vacinas, existe um elemento muito importante que \u00e9 a tecnologia, o know-how e a capacidade reguladora. Queremos ser extremamente pragm\u00e1ticos, porqu\u00ea? Porque nos \u00faltimos meses, em vez de termos um debate ideol\u00f3gico intermin\u00e1vel em que duas posi\u00e7\u00f5es antag\u00f3nicas e algo extremas se chocam, dissemos a n\u00f3s pr\u00f3prios que ir\u00edamos arrega\u00e7ar as mangas. Estive em Dakar em visita ao Instituto Pasteur, quer no Senegal quer noutros pa\u00edses africanos, para pressionar o setor privado a desenvolver projetos em que h\u00e1 uma vontade pol\u00edtica muito forte. Foi isso que deu origem \u00e0 capacidade atual de implementar estas transfer\u00eancias de tecnologia. Estamos a ir mais longe. Vamos agora trabalhar em conjunto numa posi\u00e7\u00e3o africana e europeia comum que podemos defender no seio da OMS e da OMC. Isso significa que este \u00e9 um bom exemplo de como a federa\u00e7\u00e3o de for\u00e7as pol\u00edticas africanas e europeias pode levar o mundo a encontrar uma solu\u00e7\u00e3o inteligente. Quando somos atingidos por uma pandemia como esta, temos de encontrar um equil\u00edbrio entre a propriedade intelectual, para garantir a inova\u00e7\u00e3o, e a garantia de que n\u00e3o perdemos tempo e h\u00e1 o a vacinas em todo o mundo. Investimento, energias e clima GL:\u00a0Tenho uma pergunta sobre investimento. A Uni\u00e3o Europeia est\u00e1 a oferecer 150 mil milh\u00f5es de euros a \u00c1frica. Ser\u00e1 esta quantia suficiente para contrariar a influ\u00eancia da China e da R\u00fassia? Ser\u00e1 esta a \u00fanica resposta poss\u00edvel? CM:\u00a0 Gostaria talvez de corrigir um ponto. N\u00e3o deve haver mal-entendidos. A vontade da Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o \u00e9 de forma alguma contrariar a influ\u00eancia de algu\u00e9m. Trata-se de desenvolver um projeto positivo, uma parceria positiva, inteligente e empenhada. Porqu\u00ea? Porque temos um desejo sincero, porque \u00e9 do nosso interesse m\u00fatuo. Sabemos que quando \u00c1frica se est\u00e1 a sair bem em termos de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade, isso \u00e9 bom para a Europa. E da mesma forma, quando a Europa se est\u00e1 a sair bem em termos de prosperidade e estabilidade, tamb\u00e9m \u00e9 bom para \u00c1frica. Este \u00e9 um primeiro elemento que \u00e9 importante sublinhar e esclarecer. Esta \u00e9 a sinceridade deste compromisso. Agora, em rela\u00e7\u00e3o ao montante: Trata-se de uma quantia sem precedentes. Nunca antes t\u00ednhamos sido capazes de mobilizar um envelope financeiro t\u00e3o grande. Porqu\u00ea? Porque decidimos, ao mesmo tempo que canalizamos os meios p\u00fablicos, os meios tradicionalmente mobilizados para esta parceria, ter a preocupa\u00e7\u00e3o de melhor canalizar o dinheiro do setor privado. Este \u00e9 um elemento adicional que tem a ver com a nova tecnologia que descrevemos h\u00e1 pouco. Vamos procurar aquilo a que chamamos o efeito de alavanca. O Banco Europeu de Investimento est\u00e1 a tornar-se um ator importante, do ponto de vista europeu, no desenvolvimento de parcerias com os nossos parceiros africanos. Al\u00e9m disso, quando estamos a trabalhar com l\u00edderes africanos, certifico-me sempre de levar connosco os peritos do Banco Europeu, para estar sempre bem informado sobre as prioridades dos pa\u00edses africanos em termos de investimento, particularmente no setor das infraestruturas, por exemplo. NW:\u00a0Macky Sall, sabemos que a Europa est\u00e1 relutante em financiar projetos relacionados com combust\u00edveis f\u00f3sseis. E sei que esse, para si, \u00e9 um ponto importante. Isto significa que vai procurar investidores noutro lugar? MS:\u00a0 N\u00e3o. Em primeiro lugar, \u00e9 preciso dizer que no final desta cimeira, cheg\u00e1mos a um compromisso com a Europa sobre esta quest\u00e3o essencial, que me \u00e9 muito cara porque sou contra a injusti\u00e7a. O que estavam a querer fazer era injusto para com \u00c1frica. \u00c1frica emite menos de 3% do CO2 mundial e \u00e9 drasticamente afetada pelas consequ\u00eancias das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Pedem para acabar com tudo o que \u00e9 energia f\u00f3ssil e isso n\u00e3o \u00e9 realista nem justo. Mas \u00c1frica est\u00e1 empenhada na luta contra as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Sobre o Acordo de Paris, na maioria dos pa\u00edses africanos, as pessoas est\u00e3o empenhadas na diversifica\u00e7\u00e3o das energias e temos pol\u00edticas de adapta\u00e7\u00e3o em curso. O meu pa\u00eds, por exemplo, funciona com 31% de energia limpa, energia renov\u00e1vel. 31% de energia renov\u00e1vel. N\u00e3o h\u00e1 muitos pa\u00edses que estejam hoje a esse n\u00edvel. Mas tal como precisamos de dar eletricidade a 600 milh\u00f5es de africanos que ainda n\u00e3o a t\u00eam, porque h\u00e1 falta de eletricidade, tamb\u00e9m precisamos de desenvolver a ind\u00fastria em \u00c1frica para criar empregos e valor acrescentado. N\u00e3o podemos limitar-nos a vender mat\u00e9rias-primas e comprar bens transformados. Precisamos de industrializar o continente. F\u00e1-lo-emos com baixas emiss\u00f5es de carbono, mas com energia capaz de ser competitiva para as nossas economias. Ao mesmo tempo, iremos adaptar e desenvolver projetos sustent\u00e1veis como a Grande Muralha Verde em \u00c1frica e tudo o que esteja relacionado com energia limpa e energia renov\u00e1vel. GL: A impress\u00e3o com que ficamos \u00e9 que estas normas, estes crit\u00e9rios europeus talvez n\u00e3o sejam adapt\u00e1veis a \u00c1frica. Isso significa que a UE deve rever os seus crit\u00e9rios? Dever\u00e1 rever a escala do esfor\u00e7o clim\u00e1tico? Vejo, neste exemplo que foi explicado por Macky Sall, algo muito interessante, porque n\u00e3o s\u00f3 Macky Sall \u00e9 um advogado formid\u00e1vel que lida bem com argumenta\u00e7\u00e3o objetiva e racional, como h\u00e1 um clima de confian\u00e7a entre Macky Sall e eu pr\u00f3prio, que deu ocasi\u00e3o, durante meses, para trocarmos sobre este assunto. Compreendo muito bem, tal como outros l\u00edderes europeus, que por um lado, foi a Europa, juntamente com outras economias avan\u00e7adas, que abusou dos recursos naturais e isso est\u00e1 na origem do aquecimento global. Portanto, \u00e9 verdade que h\u00e1 uma injusti\u00e7a, ou haveria uma injusti\u00e7a ao considerar que para a transi\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria, n\u00e3o se aceita que haja uma considera\u00e7\u00e3o pragm\u00e1tica das realidades do continente africano. Inicialmente, n\u00e3o houve muito entusiasmo a n\u00edvel europeu para ouvir esta mensagem, porque existe uma atitude radical, porque estamos bem conscientes da emerg\u00eancia clim\u00e1tica. Depois, houve di\u00e1logo, houve escuta m\u00fatua, houve esta mudan\u00e7a de mentalidade que tornou poss\u00edvel a prepara\u00e7\u00e3o para este encontro, com muitos os pr\u00e9vios, muitas trocas de informa\u00e7\u00e3o pr\u00e9vias. E depois, conseguimos chegar a acordo sobre um texto, que \u00e9 a demonstra\u00e7\u00e3o de que onde h\u00e1 vontade pol\u00edtica h\u00e1 confian\u00e7a. E a confian\u00e7a \u00e9 alcan\u00e7ada atrav\u00e9s da transpar\u00eancia, atrav\u00e9s de lealdade m\u00fatua. Seguran\u00e7a e luta antiterrorista NW:\u00a0emos agora \u00e0 quest\u00e3o da seguran\u00e7a. A Fran\u00e7a anunciou uma retirada coordenada de Barkhane e Takuba. Reagiu e disse estar contente por este compromisso ter sido renovado. Em termos concretos, o que vamos ver nos pr\u00f3ximos meses nesta regi\u00e3o? MS:\u00a0 Antes de mais, devemos recordar que tivemos uma troca extremamente importante no Eliseu anteontem, Charles Michel e os l\u00edderes europeus e africanos falaram sobre a quest\u00e3o da seguran\u00e7a e a luta contra o terrorismo. Este \u00e9 um debate franco, as coisas s\u00e3o ditas de forma clara, mas com respeito. Emergiu neste debate que a Europa n\u00e3o quer deixar a \u00c1frica sozinha para enfrentar o terrorismo. Isto \u00e9 uma coisa boa. Gostar\u00edamos que todas as partes do mundo raciocinassem assim, porque se todos pensassem assim, os africanos n\u00e3o seriam deixados sozinhos a enfrentar o terrorismo. Quando se tratou de terrorismo no Afeganist\u00e3o ou na S\u00edria, foram as coliga\u00e7\u00f5es mundiais que se mobilizaram, bili\u00f5es de d\u00f3lares foram mobilizados durante vinte anos no Afeganist\u00e3o. Porque \u00e9 que quando se trata de \u00c1frica, \u00e9-nos dito para fazermos o nosso pr\u00f3prio trabalho? Assim, houve alguns pa\u00edses, a Fran\u00e7a \u00e9 um desses pa\u00edses que responderam ao apelo do Mali em 2013. Os africanos responderam antes de a ONU ter estabelecido uma miss\u00e3o de capacetes azuis. Os nossos diferentes pa\u00edses enviaram os seus soldados de gra\u00e7a. Lembro-me que os meus soldados viajaram de Dakar para o norte do Mali, viajaram 2.300 quil\u00f3metros para ajudar o Mali porque foi um dos nossos vizinhos que foi afetado. Queremos que esta solidariedade seja global e \u00e9 uma sorte que a Europa tenha renovado esta vontade e esta solidariedade para com \u00c1frica. \u00c9 por isso que a Europa nos disse: agora, no Mali, h\u00e1 problemas, h\u00e1 situa\u00e7\u00f5es e condi\u00e7\u00f5es operacionais que j\u00e1 n\u00e3o nos permitem manter a nossa miss\u00e3o no local, mas vamos rearticular para permanecer no Sahel, para permanecer na zona, articulada em dire\u00e7\u00e3o ao N\u00edger, mas tamb\u00e9m com os pa\u00edses costeiros do Golfo da Guin\u00e9. O que espero no Mali \u00e9 que as coisas melhorem para se poder voltar l\u00e1. Porque n\u00e3o se pode combater o terrorismo no Sahel ignorando o Mali, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel. \u00c9 um vasto territ\u00f3rio de 1 milh\u00e3o e 200 mil quil\u00f3metros quadrados, que faz fronteira com sete outros pa\u00edses: Arg\u00e9lia, Maurit\u00e2nia, N\u00edger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guin\u00e9 e Senegal. Tudo isso \u00e9 o Mali. N\u00e3o podemos lutar eficazmente contra o terrorismo sem estar presentes l\u00e1. Agora, considero que h\u00e1 situa\u00e7\u00f5es conjunturais que espero que possamos ultraar muito rapidamente, para nos permitir retomar a efic\u00e1cia da luta contra o terrorismo no Sahel. GL: Ser\u00e1 que o fracasso da opera\u00e7\u00e3o sa Barkhane e o fracasso da opera\u00e7\u00e3o europeia em Kouba p\u00f5em em causa este formato de opera\u00e7\u00e3o e podem p\u00f4r em causa outras interven\u00e7\u00f5es europeias? CM:\u00a0 Permita-me contestar a sua an\u00e1lise, porque tem de se lembrar de qual foi o ponto de partida. O ponto de partida foi um risco de colapso total e extremamente grave do Mali, com implica\u00e7\u00f5es para toda a regi\u00e3o e para al\u00e9m dela. E foi porque, na altura, os Estados soberanos consideraram que era \u00fatil ter a parceria da Fran\u00e7a e dos pa\u00edses europeus que foi tomada a decis\u00e3o de destacar apoio para tentar evitar o que teria sido uma cat\u00e1strofe ainda mais grave do que a situa\u00e7\u00e3o atual. O segundo elemento \u00e9 que temos em considera\u00e7\u00e3o a evolu\u00e7\u00e3o da amea\u00e7a, mas tamb\u00e9m a situa\u00e7\u00e3o no Mali que, como foi indicado, est\u00e1 a causar uma dificuldade, espero que circunstancial, e esperamos que o mais rapidamente poss\u00edvel possamos regressar a uma forma mais normalizada de coopera\u00e7\u00e3o com este pa\u00eds, que \u00e9 um pa\u00eds importante no cora\u00e7\u00e3o do Sahel. Mas estamos tamb\u00e9m a adaptar-nos atrav\u00e9s da rearticula\u00e7\u00e3o que foi explicada. Estamos tamb\u00e9m a adaptar-nos em pleno di\u00e1logo com os pa\u00edses africanos, tendo em conta, por exemplo, a iniciativa de Acra e a import\u00e2ncia de ter tamb\u00e9m em considera\u00e7\u00e3o os pa\u00edses do Golfo da Guin\u00e9, que estiveram igualmente representados nesta reuni\u00e3o, pelo que tinha os pa\u00edses europeus e os pa\u00edses africanos \u00e0 mesa, e foi uma oportunidade para um interc\u00e2mbio direto, uma an\u00e1lise conjunta da situa\u00e7\u00e3o, e com base nesta an\u00e1lise conjunta, vemos como nos podemos implantar de forma operacional. Mais uma vez, como europeus, tent\u00e1mos utilizar os meios mais judiciosos e \u00fateis, na sequ\u00eancia das an\u00e1lises feitas pelos nossos amigos africanos. Migra\u00e7\u00e3o NW:\u00a0Charles Michel, h\u00e1 cinco anos em Abidjan, foram tomadas decis\u00f5es sobre quest\u00f5es de imigra\u00e7\u00e3o, nomeadamente para p\u00f4r fim ao tr\u00e1fico ilegal. Est\u00e1vamos a falar, por exemplo, sobre a L\u00edbia, do refor\u00e7o das parcerias. Mas apercebemo-nos que at\u00e9 agora, os migrantes n\u00e3o pararam de ser encontrados na rota de partida, h\u00e1 salvamentos no mar todo o tempo. Nada parece ter mudado entre 2017 e agora... CM:\u00a0 Antes de mais, \u00e9 certo que a quest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o politicamente sens\u00edvel na Europa, provavelmente tamb\u00e9m em \u00c1frica. E era importante que houvesse este di\u00e1logo. Lembro-me que no per\u00edodo que antecedeu esta cimeira, alguns amigos, tanto do lado africano como europeu, estavam um pouco apreensivos em rela\u00e7\u00e3o a este debate, um pouco apreensivos com a ideia de que o debate seria uma oportunidade para um grande confronto, uma grande disputa, os africanos contra os europeus. Em prepara\u00e7\u00e3o, quer\u00edamos ouvir-nos uns aos outros e ter um olhar inteligente e matizado sobre o assunto. Em primeiro lugar, entendemos como europeus que um dos primeiros desafios para a migra\u00e7\u00e3o \u00e9 intra-africana, existe antes de mais um debate que \u00e9 a migra\u00e7\u00e3o intra-africana. Por ter isso em considera\u00e7\u00e3o, mobiliz\u00e1mos, como foi decidido, projetos muito concretos de investimento em forma\u00e7\u00e3o profissional, aprendizagem, para assegurar que estes jovens africanos tenham perspetivas otimistas. Em segundo lugar, como podemos combater eficazmente em conjunto as formas criminosas que usam e abusam desta ang\u00fastia humana de forma algo c\u00ednica? Aqui temos interesses comuns porque temos a mesma compreens\u00e3o da dignidade das pessoas e por isso queremos agir em conjunto nesta mat\u00e9ria. Depois, neste quadro mais global, devemos tamb\u00e9m analisar como podemos cooperar em termos de regresso e reiss\u00e3o para aqueles que n\u00e3o preenchem as condi\u00e7\u00f5es. E tamb\u00e9m quero salientar, deix\u00e1mos claro, que se somos firmes, se queremos ser firmes no combate \u00e0 migra\u00e7\u00e3o irregular e ilegal, devemos tamb\u00e9m oferecer canais regulares e legais para a migra\u00e7\u00e3o. Sobre um assunto como este, assim que trazemos de volta a racionalidade, penso que somos capazes de olhar para a forma como podemos encontrar solu\u00e7\u00f5es em conjunto com serenidade e intelig\u00eancia. 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Europa e África mais próximas - Charles Michel e Macky Sall em entrevista

Europa e África mais próximas - Charles Michel e Macky Sall em entrevista
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Os líderes da União Europeia e da União Africana falaram em exclusivo à Euronews sobre a recente cimeira.

Os líderes europeus e africanos reuniram-se em Bruxelas para a sexta cimeira entre os dois parceiros. África e Europa querem lançar as bases para uma nova parceria. A União Europeia quer continuar a ser o principal parceiro multilateral do continente africano.

Aos olhos dos líderes, esta parceria renovada deve ir além das questões económicas. É também uma questão de educação, saúde, clima e tecnologia digital. De certa forma, trata-se de moldar a governação global e colocar esta parceria na cena internacional. Para falar sobre tudo isto, a Euronews encontrou-se com o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e com o Presidente do Senegal e da União Africana, Macky Sall.

Balanço da cimeira

Nathalie Wakam, Euronews: Charles Michel, o primeiro objetivo desta cimeira foi reordenar um pouco o jogo. Está plenamente satisfeito com o que foi alcançado durante estes dois dias em Bruxelas?

Charles Michel: Estou muito satisfeito, porque estou convencido de que durante estas poucas horas, durante estes dois dias em Bruxelas, a parceria entre a África e a Europa foi reformulada e renovada. Mudámos o paradigma e a preparação da cimeira já refletia essa vontade política comum.

Como podemos identificar os objetivos e desafios em conjunto? Como podemos identificar em conjunto as melhores soluções com mais pragmatismo, sendo mais operacional e mais concreto? Estabelecemos estes princípios de respeito mútuo e de interesse mútuo e estas avaliações regulares para que possamos realmente cumprir os nossos compromissos.

NW: Então está feliz?

CM: Estou feliz porque senti uma boa atmosfera. Senti que os líderes africanos e europeus estavam empenhados, motivados e mobilizados para se ouvirem uns aos outros e isso é importante, porque essa é a chave para a confiança. Para compreender melhor os pontos de vista de ambos os lados. Para compreender melhor, desde o início, pontos de vista que por vezes não são necessariamente os mesmos, mas onde se encontram pontes, caminhos comuns para que quando há dificuldades, porque pode haver, tenhamos capacidade de ultraar o obstáculo de uma forma inteligente.

Euronews
Charles MichelEuronews

Grégoire Lory, Euronews: Macky Sall, pensa que depois desta cimeira é possível construir esta parceria renovada?

Macky Sall: Absolutamente. Como disse Charles, gostaria de lhe agradecer em primeiro lugar pela boa organização desta cimeira, mas também pela forma como esta cimeira foi preparada.

Isso permitiu-nos alcançar este resultado, que será o ponto de partida desta parceria renovada e repensada, mas construída no respeito mútuo, na solidariedade e, finalmente, na escuta uns dos outros porque muitas vezes não fomos ouvidos. Muitas vezes foram-nos dadas apenas receitas, soluções. Registo esta mudança de paradigma fundamental na relação, construída sobre a amizade, a consideração, a escuta mútua e a procura de soluções comuns, a construção conjunta de soluções. Quando chegámos a Bruxelas, claro, havia assuntos delicados sobre os quais ainda não tínhamos terminado as negociações: A questão da transição energética, a transição climática, as questões dos direitos de propriedade em relação às vacinas.

São assuntos difíceis que temos mais ou menos conseguido resolver. Em primeiro lugar, o método de trabalho foi uma grande inovação, deu-nos uma maior eficiência e acabou por nos levar a resultados bastante convincentes. Agora há a implementação, com a qual também nos comprometemos.

Muitas vezes não fomos ouvidos. Muitas vezes foram-nos dadas apenas receitas, soluções.
Macky Sall
Presidente do Senegal e da União Africana

África e Covid

NW: Macky Sall, a gestão da Covid provocou alguma tensão nas relações entre a União Africana e a União Europeia. Apareceu a variante ómicron e foram tomadas várias decisões em consequência disso. Agora, há a questão premente do levantamento das patentes de vacinas. Não conseguiu o que queria nesse sentido. Será isso um fracasso?

MS: Não, de forma alguma. Não é, de todo, um fracasso. Ou seja, quando existem duas posições opostas, tentamos encontrar um compromisso, uma solução que satisfaça ambas as posições. Não estamos numa relação maniqueísta, de "sim ou não".

Para conseguirmos o que queremos, ou seja, que as vacinas sejam produzidas em África, pelo menos 60%, a Europa tem feito esforços. Em primeiro lugar, o fornecimento de vacinas no programa covax, independentemente do que se possa pensar sobre ele. Já foram istradas 150 milhões de doses. A Europa está empenhada em disponibilizar 400 milhões de doses até ao verão de 2022. Portanto, esse é o primeiro o.

Mas dizemos que receber doses não é suficiente. Queremos produzi-las em África. Nesse quadro, houve um intercâmbio extremamente importante. Os países europeus comprometeram-se connosco e com a OMS, a transferir a nova tecnologia de ARN mensageiro para seis países africanos inicialmente, seis centros. Neste contexto, temos também de tratar da questão das patentes. Algumas pessoas dizem que as patentes devem ser suspensas. Outros dizem que não se pode questionar a propriedade intelectual. Então, o que devemos fazer? Temos uma pandemia. As pessoas estão a morrer durante esta pandemia. Demos um mandato às duas comissões, da União Europeia e a União Africana, e a OMC vai acompanhar-nos para que possamos encontrar um compromisso. O compromisso é, antes de mais, a transferência de tecnologia. Uma vez que tenhamos a tecnologia, é mais fácil discutir com a pessoa que tem a patente, talvez para melhorar as condições, para reduzir os custos de modo a que aqueles que têm a tecnologia possam reproduzi-la no continente.

Portanto, este debate foi adiado para abril-maio e não creio que possamos dizer que seja um fracasso. Pelo contrário, existe uma vontade comum de alcançar este compromisso, que tenho a certeza que será encontrada.

Queremos produzir vacinas em África.
Macky Sall
Presidente do Senegal e da União Africana

GL: Charles Michel, porque é que a União Europeia não quis levantar as patentes? Não tem medo de acentuar a desconfiança em relação aos parceiros africanos?

CM: Estamos convencidos que partilhamos exatamente o mesmo objetivo. Queremos, líderes africanos e líderes europeus, ter a capacidade de desenvolver a produção de vacinas, e no setor farmacêutico em geral, no continente africano. Esse é o ponto de partida.

Em segundo lugar, estamos bem cientes de que a propriedade intelectual é uma poderosa alavanca para promover a inovação e a investigação e é essencial protegê-la. Depois, compreendemos que quando são produzidos medicamentos ou vacinas, existe um elemento muito importante que é a tecnologia, o know-how e a capacidade reguladora. Queremos ser extremamente pragmáticos, porquê?

Porque nos últimos meses, em vez de termos um debate ideológico interminável em que duas posições antagónicas e algo extremas se chocam, dissemos a nós próprios que iríamos arregaçar as mangas. Estive em Dakar em visita ao Instituto Pasteur, quer no Senegal quer noutros países africanos, para pressionar o setor privado a desenvolver projetos em que há uma vontade política muito forte. Foi isso que deu origem à capacidade atual de implementar estas transferências de tecnologia. Estamos a ir mais longe. Vamos agora trabalhar em conjunto numa posição africana e europeia comum que podemos defender no seio da OMS e da OMC. Isso significa que este é um bom exemplo de como a federação de forças políticas africanas e europeias pode levar o mundo a encontrar uma solução inteligente.

Quando somos atingidos por uma pandemia como esta, temos de encontrar um equilíbrio entre a propriedade intelectual, para garantir a inovação, e a garantia de que não perdemos tempo e há o a vacinas em todo o mundo.

Euronews
Charles Michel e Macky Sall com os repórteres da EuronewsEuronews

Investimento, energias e clima

GL: Tenho uma pergunta sobre investimento. A União Europeia está a oferecer 150 mil milhões de euros a África. Será esta quantia suficiente para contrariar a influência da China e da Rússia? Será esta a única resposta possível?

CM: Gostaria talvez de corrigir um ponto. Não deve haver mal-entendidos. A vontade da União Europeia não é de forma alguma contrariar a influência de alguém. Trata-se de desenvolver um projeto positivo, uma parceria positiva, inteligente e empenhada. Porquê? Porque temos um desejo sincero, porque é do nosso interesse mútuo. Sabemos que quando África se está a sair bem em termos de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade, isso é bom para a Europa. E da mesma forma, quando a Europa se está a sair bem em termos de prosperidade e estabilidade, também é bom para África. Este é um primeiro elemento que é importante sublinhar e esclarecer. Esta é a sinceridade deste compromisso.

Quando África se está a sair bem, isso é bom para a Europa. Quando a Europa se está a sair bem, isso é bom para África.
Charles Michel
Presidente da União Europeia

Agora, em relação ao montante: Trata-se de uma quantia sem precedentes. Nunca antes tínhamos sido capazes de mobilizar um envelope financeiro tão grande. Porquê? Porque decidimos, ao mesmo tempo que canalizamos os meios públicos, os meios tradicionalmente mobilizados para esta parceria, ter a preocupação de melhor canalizar o dinheiro do setor privado. Este é um elemento adicional que tem a ver com a nova tecnologia que descrevemos há pouco. Vamos procurar aquilo a que chamamos o efeito de alavanca. O Banco Europeu de Investimento está a tornar-se um ator importante, do ponto de vista europeu, no desenvolvimento de parcerias com os nossos parceiros africanos. Além disso, quando estamos a trabalhar com líderes africanos, certifico-me sempre de levar connosco os peritos do Banco Europeu, para estar sempre bem informado sobre as prioridades dos países africanos em termos de investimento, particularmente no setor das infraestruturas, por exemplo.

NW: Macky Sall, sabemos que a Europa está relutante em financiar projetos relacionados com combustíveis fósseis. E sei que esse, para si, é um ponto importante. Isto significa que vai procurar investidores noutro lugar?

MS: Não. Em primeiro lugar, é preciso dizer que no final desta cimeira, chegámos a um compromisso com a Europa sobre esta questão essencial, que me é muito cara porque sou contra a injustiça.

O que estavam a querer fazer era injusto para com África. África emite menos de 3% do CO2 mundial e é drasticamente afetada pelas consequências das alterações climáticas. Pedem para acabar com tudo o que é energia fóssil e isso não é realista nem justo. Mas África está empenhada na luta contra as alterações climáticas.

Sobre o Acordo de Paris, na maioria dos países africanos, as pessoas estão empenhadas na diversificação das energias e temos políticas de adaptação em curso. O meu país, por exemplo, funciona com 31% de energia limpa, energia renovável. 31% de energia renovável. Não há muitos países que estejam hoje a esse nível. Mas tal como precisamos de dar eletricidade a 600 milhões de africanos que ainda não a têm, porque há falta de eletricidade, também precisamos de desenvolver a indústria em África para criar empregos e valor acrescentado. Não podemos limitar-nos a vender matérias-primas e comprar bens transformados. Precisamos de industrializar o continente. Fá-lo-emos com baixas emissões de carbono, mas com energia capaz de ser competitiva para as nossas economias. Ao mesmo tempo, iremos adaptar e desenvolver projetos sustentáveis como a Grande Muralha Verde em África e tudo o que esteja relacionado com energia limpa e energia renovável.

GL: A impressão com que ficamos é que estas normas, estes critérios europeus talvez não sejam adaptáveis a África. Isso significa que a UE deve rever os seus critérios? Deverá rever a escala do esforço climático?

Vejo, neste exemplo que foi explicado por Macky Sall, algo muito interessante, porque não só Macky Sall é um advogado formidável que lida bem com argumentação objetiva e racional, como há um clima de confiança entre Macky Sall e eu próprio, que deu ocasião, durante meses, para trocarmos sobre este assunto.

Compreendo muito bem, tal como outros líderes europeus, que por um lado, foi a Europa, juntamente com outras economias avançadas, que abusou dos recursos naturais e isso está na origem do aquecimento global. Portanto, é verdade que há uma injustiça, ou haveria uma injustiça ao considerar que para a transição necessária, não se aceita que haja uma consideração pragmática das realidades do continente africano. Inicialmente, não houve muito entusiasmo a nível europeu para ouvir esta mensagem, porque existe uma atitude radical, porque estamos bem conscientes da emergência climática.

Depois, houve diálogo, houve escuta mútua, houve esta mudança de mentalidade que tornou possível a preparação para este encontro, com muitos os prévios, muitas trocas de informação prévias. E depois, conseguimos chegar a acordo sobre um texto, que é a demonstração de que onde há vontade política há confiança. E a confiança é alcançada através da transparência, através de lealdade mútua.

Segurança e luta antiterrorista

NW: emos agora à questão da segurança. A França anunciou uma retirada coordenada de Barkhane e Takuba. Reagiu e disse estar contente por este compromisso ter sido renovado. Em termos concretos, o que vamos ver nos próximos meses nesta região?

MS: Antes de mais, devemos recordar que tivemos uma troca extremamente importante no Eliseu anteontem, Charles Michel e os líderes europeus e africanos falaram sobre a questão da segurança e a luta contra o terrorismo. Este é um debate franco, as coisas são ditas de forma clara, mas com respeito. Emergiu neste debate que a Europa não quer deixar a África sozinha para enfrentar o terrorismo.

Isto é uma coisa boa. Gostaríamos que todas as partes do mundo raciocinassem assim, porque se todos pensassem assim, os africanos não seriam deixados sozinhos a enfrentar o terrorismo. Quando se tratou de terrorismo no Afeganistão ou na Síria, foram as coligações mundiais que se mobilizaram, biliões de dólares foram mobilizados durante vinte anos no Afeganistão. Porque é que quando se trata de África, é-nos dito para fazermos o nosso próprio trabalho? Assim, houve alguns países, a França é um desses países que responderam ao apelo do Mali em 2013. Os africanos responderam antes de a ONU ter estabelecido uma missão de capacetes azuis. Os nossos diferentes países enviaram os seus soldados de graça. Lembro-me que os meus soldados viajaram de Dakar para o norte do Mali, viajaram 2.300 quilómetros para ajudar o Mali porque foi um dos nossos vizinhos que foi afetado. Queremos que esta solidariedade seja global e é uma sorte que a Europa tenha renovado esta vontade e esta solidariedade para com África.

É por isso que a Europa nos disse: agora, no Mali, há problemas, há situações e condições operacionais que já não nos permitem manter a nossa missão no local, mas vamos rearticular para permanecer no Sahel, para permanecer na zona, articulada em direção ao Níger, mas também com os países costeiros do Golfo da Guiné. O que espero no Mali é que as coisas melhorem para se poder voltar lá. Porque não se pode combater o terrorismo no Sahel ignorando o Mali, não é possível. É um vasto território de 1 milhão e 200 mil quilómetros quadrados, que faz fronteira com sete outros países: Argélia, Mauritânia, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Guiné e Senegal. Tudo isso é o Mali. Não podemos lutar eficazmente contra o terrorismo sem estar presentes lá. Agora, considero que há situações conjunturais que espero que possamos ultraar muito rapidamente, para nos permitir retomar a eficácia da luta contra o terrorismo no Sahel.

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Macky SallEuronews

GL: Será que o fracasso da operação sa Barkhane e o fracasso da operação europeia em Kouba põem em causa este formato de operação e podem pôr em causa outras intervenções europeias?

CM: Permita-me contestar a sua análise, porque tem de se lembrar de qual foi o ponto de partida. O ponto de partida foi um risco de colapso total e extremamente grave do Mali, com implicações para toda a região e para além dela. E foi porque, na altura, os Estados soberanos consideraram que era útil ter a parceria da França e dos países europeus que foi tomada a decisão de destacar apoio para tentar evitar o que teria sido uma catástrofe ainda mais grave do que a situação atual.

O segundo elemento é que temos em consideração a evolução da ameaça, mas também a situação no Mali que, como foi indicado, está a causar uma dificuldade, espero que circunstancial, e esperamos que o mais rapidamente possível possamos regressar a uma forma mais normalizada de cooperação com este país, que é um país importante no coração do Sahel.

Mas estamos também a adaptar-nos através da rearticulação que foi explicada. Estamos também a adaptar-nos em pleno diálogo com os países africanos, tendo em conta, por exemplo, a iniciativa de Acra e a importância de ter também em consideração os países do Golfo da Guiné, que estiveram igualmente representados nesta reunião, pelo que tinha os países europeus e os países africanos à mesa, e foi uma oportunidade para um intercâmbio direto, uma análise conjunta da situação, e com base nesta análise conjunta, vemos como nos podemos implantar de forma operacional. Mais uma vez, como europeus, tentámos utilizar os meios mais judiciosos e úteis, na sequência das análises feitas pelos nossos amigos africanos.

Migração

NW: Charles Michel, há cinco anos em Abidjan, foram tomadas decisões sobre questões de imigração, nomeadamente para pôr fim ao tráfico ilegal. Estávamos a falar, por exemplo, sobre a Líbia, do reforço das parcerias. Mas apercebemo-nos que até agora, os migrantes não pararam de ser encontrados na rota de partida, há salvamentos no mar todo o tempo. Nada parece ter mudado entre 2017 e agora...

CM: Antes de mais, é certo que a questão da migração é uma questão politicamente sensível na Europa, provavelmente também em África. E era importante que houvesse este diálogo. Lembro-me que no período que antecedeu esta cimeira, alguns amigos, tanto do lado africano como europeu, estavam um pouco apreensivos em relação a este debate, um pouco apreensivos com a ideia de que o debate seria uma oportunidade para um grande confronto, uma grande disputa, os africanos contra os europeus.

Em preparação, queríamos ouvir-nos uns aos outros e ter um olhar inteligente e matizado sobre o assunto. Em primeiro lugar, entendemos como europeus que um dos primeiros desafios para a migração é intra-africana, existe antes de mais um debate que é a migração intra-africana. Por ter isso em consideração, mobilizámos, como foi decidido, projetos muito concretos de investimento em formação profissional, aprendizagem, para assegurar que estes jovens africanos tenham perspetivas otimistas.

Em segundo lugar, como podemos combater eficazmente em conjunto as formas criminosas que usam e abusam desta angústia humana de forma algo cínica? Aqui temos interesses comuns porque temos a mesma compreensão da dignidade das pessoas e por isso queremos agir em conjunto nesta matéria. Depois, neste quadro mais global, devemos também analisar como podemos cooperar em termos de regresso e reissão para aqueles que não preenchem as condições. E também quero salientar, deixámos claro, que se somos firmes, se queremos ser firmes no combate à migração irregular e ilegal, devemos também oferecer canais regulares e legais para a migração. Sobre um assunto como este, assim que trazemos de volta a racionalidade, penso que somos capazes de olhar para a forma como podemos encontrar soluções em conjunto com serenidade e inteligência.

Se somos firmes, se queremos ser firmes no combate à migração irregular e ilegal, devemos também oferecer canais regulares e legais para a migração.
Charles Michel
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