{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2021/02/15/bill-gates-e-as-solucoes-para-evitar-um-desastre-climatico" }, "headline": "Bill Gates e as solu\u00e7\u00f5es para \u0022evitar um desastre clim\u00e1tico\u0022", "description": "O empres\u00e1rio e filantropo Bill Gates falou com a Euronews sobre o panorama atual de pandemia e altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, no m\u00eas em que chega \u00e0s bancas o livro de sua autoria \u0022Como evitar um desastre clim\u00e1tico\u0022.", "articleBody": "Primeiro vieram os computadores, depois, a filantropia, agora, Bill Gates quer tornar-se numa voz ativa do combate \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. O cofundador da Microsoft e fundador da Breaktrough Energy lan\u00e7ou este m\u00eas o livro \u0022Como evitar um desastre clim\u00e1tico\u0022 e falou com a Euronews sobre o que ainda pode ser feito para salvar o planeta Terra. Jeremy Wilks, Euronews:\u00a0 Diz no seu livro que hoje em dia estamos no mesmo ponto, em termos de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas,que h\u00e1 v\u00e1rios anos, com pandemias. Isso significa que achamos que estamos preparados, mas na verdade n\u00e3o estamos. O que \u00e9 que n\u00e3o estamos a perceber sobre as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? Bill Gates: \u0022As fontes de emiss\u00f5es s\u00e3o muito vastas. E em muitos casos, ainda n\u00e3o come\u00e7\u00e1mos realmente a descobrir como evitar essas emiss\u00f5es. Todo o sector transformador, o transporte a\u00e9reo, mesmo os planos para fazer crescer a rede el\u00e9trica, exigem que fa\u00e7amos muito mais do que o que estamos a fazer agora, incluindo promover muita inova\u00e7\u00e3o. Portanto, \u00e9 \u00f3timo que os jovens se preocupem com esta causa, \u00e9 \u00f3timo que tenhamos um objetivo, mas o meu livro \u00e9 para dizer, \u0022aqui est\u00e1 o que pode ser um plano, vamos organizar um\u0022. J.W.: Falemos um pouco sobre a pandemia, rapidamente, antes de entrarmos no tema nas altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. J\u00e1 ou mais de um ano e ainda n\u00e3o estamos a geri-la bem. Est\u00e1 surpreendido com isso?\u0022 B.G.: \u0022Cada pa\u00eds fez algumas coisas bem e cometeu erros. Quando dei a minha palestra TED, em 2015, a dizer que n\u00e3o est\u00e1vamos prontos para a pr\u00f3xima pandemia, falei sobre diagn\u00f3sticos e pr\u00e1ticas e como se coordenam diferentes aspetos. A cria\u00e7\u00e3o da vacina foi mais r\u00e1pida do que o que esper\u00e1vamos. A nossa funda\u00e7\u00e3o tinha apoiado a tecnologia do ARN mensageiro, mas n\u00e3o tinham sido feitas vacinas, portanto, pelo menos nessa parte, h\u00e1 esperan\u00e7a e poder\u00e1 ser isso que vai p\u00f4r termo a esta epidemia\u0022. J.W.:\u00a0 Mas quando se trata da gest\u00e3o da situa\u00e7\u00e3o, do tipo de gest\u00e3o pol\u00edtica n\u00e3o tem tido grande sucesso, creio. O que pensa sobre isso? E o que \u00e9 que isso significa para a forma como vamos lidar com as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? B.G.:\u00a0 \u0022Ningu\u00e9m espera que um governo seja perfeito. Mas o governo em geral faz coisas fant\u00e1sticas: educa\u00e7\u00e3o, justi\u00e7a, sa\u00fade. Estamos sempre a pressionar porque somos cidad\u00e3os e podemos falar sobre como queremos que melhore. No caso do clima, vai ser preciso criar muitas pol\u00edticas criativas. E a voz pol\u00edtica, particularmente a dos jovens, tem de permanecer forte, vamos precisar de 30 anos para consegui-lo, porque vai ser dif\u00edcil, mas n\u00e3o \u00e9 imposs\u00edvel\u0022. J.W.:\u00a0 O lan\u00e7amento da vacina real\u00e7ou as diferen\u00e7as entre ricos e pobres, entre os pa\u00edses mais ricos e os pa\u00edses mais pobres. As altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas v\u00e3o provavelmente fazer o mesmo, n\u00e3o v\u00e3o? B.G.: \u0022Absolutamente. A raz\u00e3o pela qual estou t\u00e3o empenhado \u00e9 porque o trabalho feito pela Funda\u00e7\u00e3o Gates para ajudar a sa\u00fade nos pa\u00edses pobres, e para ajudar os agricultores de l\u00e1, vai ser revertido \u00e0 medida que os anos arem. Estas temperaturas mais altas significam que os agricultores de subsist\u00eancia n\u00e3o v\u00e3o conseguir fazer as colheitas crescer tanto, o que levar\u00e1 \u00e0 m\u00e1 nutri\u00e7\u00e3o, \u00e0 migra\u00e7\u00e3o e a uma total instabilidade por causa do clima\u0022. J.W.:\u00a0 Quando estava a ler o livro, tive a impress\u00e3o de que estava a tentar convencer algu\u00e9m sobre a import\u00e2ncia das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Dirige-se aos pol\u00edticos americanos, ao p\u00fablico americano, ou na verdade estava tentar convencer-se a si pr\u00f3prio da import\u00e2ncia das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? Tive genuinamente essa sensa\u00e7\u00e3o de que estava a tentar convencer algu\u00e9m da import\u00e2ncia das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e na verdade s\u00f3 recentemente \u00e9 que se apercebeu da dimens\u00e3o do problema. B.G.: \u0022Comecei muitas sess\u00f5es de aprendizagem em 2005, e tal como dei uma palestra TED em 2015 a alertar para a pandemia, dei uma outra, em 2010, a alertar para as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, porque j\u00e1 estamos a ver os efeitos, os efeitos negativos sobre os mais pobres que nada fizeram para criar o problema. A raz\u00e3o pela qual \u00e9 oportuno fazer agora o livro n\u00e3o se deve \u00e0s minhas opini\u00f5es, que sempre foram bem vincadas em rela\u00e7\u00e3o ao problema, mas devido \u00e0 energia dos defensores. H\u00e1 a possibilidade de as prioridades pol\u00edticas certas e o caminho acertado em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 inova\u00e7\u00e3o, e mesmo o trabalho nas partes dif\u00edceis das emiss\u00f5es, como o a\u00e7o e o cimento e o combust\u00edvel para a avia\u00e7\u00e3o, acontecerem. Particularmente este ano, tendo em conta que temos os fundos de recupera\u00e7\u00e3o a ser programados contra o clima, que temos em breve a reuni\u00e3o de Glasgow (COP26). E refleti sobre um contexto de como vai ser dif\u00edcil, como tenho visto a inova\u00e7\u00e3o avan\u00e7ar, e daquilo a que chamo \u0022 Green \u0022. Achei que era muito oportuno ter o livro como parte destes debates\u0022. J.W.: Sente que \u00e9 o momento apropriado de enviar um exemplar ao presidente Joe Biden? J\u00e1 o fez? Acha que as pessoas em Washington lhe v\u00e3o dar ouvidos? B.G.: \u0022 Sim, falei n\u00e3o s\u00f3 com o presidente, mas tamb\u00e9m com todas as pessoas fundamentais a trabalhar na \u00e1rea do clima, como John Kerry, que \u00e9 o enviado especial para o clima. Estou a ar muito tempo tamb\u00e9m a falar com o Reino Unido sobre a confer\u00eancia e como nos podemos certificar de que ela cobre n\u00e3o s\u00f3 os temas f\u00e1ceis, mas tamb\u00e9m os mais dif\u00edceis. Portanto, sim, o di\u00e1logo com a istra\u00e7\u00e3o Biden \u00e9 muito promissor\u0022. J.W.:\u00a0 E como est\u00e1 a reagir o p\u00fablico americano? Os Estados Unidos s\u00e3o um pa\u00eds de onde v\u00eam as vozes mais c\u00e9ticas em rela\u00e7\u00e3o ao clima. Como acha que v\u00eaem este livro? \u00c9 \u00f3bvio que o escreveu para um vasto p\u00fablico. B.G.:\u00a0 \u0022H\u00e1 cada vez mais jovens, incluindo republicanos, que veem isto como a causa moral, que vai al\u00e9m do seu pr\u00f3prio sucesso pessoal, \u00e9 algo com que se preocupam, que querem garantir que tem aten\u00e7\u00e3o. E os partidos podem ter opini\u00f5es diferentes, mas cada vez mais trata-se de pensar no que fazemos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e n\u00e3o em se \u00e9, ou n\u00e3o, um problema\u0022. J.W.: Falemos sobre alguma da tecnologia, porque faz uma grande cr\u00edtica \u00e0 tecnologia e fala sobre a implementa\u00e7\u00e3o do solar, sobre o vento e sobre como est\u00e3o a ficar mais baratos. Fala tamb\u00e9m muito sobre tecnologias nucleares, que \u00e9 algo em que os ambientalistas n\u00e3o est\u00e3o t\u00e3o interessados. Acha que o nuclear tem de estar presente num futuro sem carbono? B.G.:\u00a0 \u0022O setor da eletricidade vai ser muito maior, porque vai englobar toda a energia para os ve\u00edculos de ageiros, edif\u00edcios de aquecimento e arrefecimento e muitos processos industriais. E manter a fiabilidade, mesmo com mau tempo, vai ser um enorme problema. Portanto, ou precisamos de um milagre no armazenamento, que pode n\u00e3o acontecer, ou precisamos de alguma fonte renov\u00e1vel que n\u00e3o dependa das condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas. Ser\u00e1 que se considerarmos uma abordagem que parta do zero e contemple o custo, a seguran\u00e7a, o tratamento dos res\u00edduos, n\u00e3o podemos resolver todas as quest\u00f5es em torno do nuclear? Vale a pena trabalhar nisso, porque podemos precisar dele para resolver o clima. E por isso, sim, penso que dev\u00edamos explorar. Isto n\u00e3o tem nada a ver com a atual gera\u00e7\u00e3o de reatores. Trata-se de um plano em que a seguran\u00e7a se baseia apenas na f\u00edsica, e n\u00e3o no que os operadores fazem ou n\u00e3o fazem\u0022. J.W.:\u00a0 Ent\u00e3o diria que temos de chegar l\u00e1 at\u00e9 2050? E que provavelmente vamos ter mais nuclear do que o que temos agora? B.G.: \u0022N\u00e3o. Se obtivermos uma inven\u00e7\u00e3o milagrosa que nos permita armazenar uma quantidade de eletricidade incrivelmente grande, como duas semanas - que \u00e9 mais do que o que cada bateria alguma vez feita permite, vezes 10 - se obtivermos isso, ent\u00e3o podemos ter apenas as fontes intermitentes juntamente com o armazenamento como solu\u00e7\u00e3o. Mas como isso \u00e9 incerto, temos de seguir todos os caminhos que nos possam levar a zero emiss\u00f5es at\u00e9 2050. E com o nuclear ainda h\u00e1 muito a provar, incluindo, saber se o p\u00fablico vai estar de mente aberta daqui a cinco anos, se estar\u00e1 ou n\u00e3o de mente aberta para um plano completamente novo\u0022. J.W.: Mas como \u00e9 que se gere essa rede? Porque, por exemplo, nos Estados Unidos h\u00e1 muito sol no Sudoeste; como \u00e9 que se transporta essa energia para o outro lado do pa\u00eds e depois se atravessa fronteiras? Porque tamb\u00e9m \u00e9 um problema. Como pretende fazer face a esses desafios? B.G.: \u0022Em qualquer cen\u00e1rio, a Europa e os Estados Unidos v\u00e3o ter de construir muito mais transmiss\u00e3o. Porque pode haver uma frente fria e toda a energia e\u00f3lica e solar parar. Por isso, temos de esperar que, tendo em conta o tamanho do continente, seja poss\u00edvel, algures, obter essa energia. N\u00f3s fizemos um modelo de fonte aberta que vai permitir \u00e0s pessoas jogar com as suas suposi\u00e7\u00f5es, e o que elas v\u00e3o ver \u00e9 que parte da resposta a por haver muito mais transmiss\u00e3o\u0022. J.W.: Estou interessado na sua reflex\u00e3o sobre tecnologias um pouco mais controversas; fala de geoengenharia, coisas como tornar o topo das nuvens mais branco, de forma a reflitir mais luz de volta ao espa\u00e7o, como uma solu\u00e7\u00e3o de \u00faltimo recurso para lidar com as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Est\u00e1 realmente a levar essas tecnologias a s\u00e9rio? B.G.:\u00a0 \u0022N\u00e3o, isso n\u00e3o \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o para as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Pensei que era importante mencion\u00e1-lo no livro, porque h\u00e1 pessoas a olhar para o tema. No m\u00e1ximo, atrasaria o problema uns 10 ou 15 anos, enquanto nos livramos das fontes de emiss\u00f5es. N\u00e3o mencionar o assunto teria sido um erro, porque existe e as pessoas devem compreender que n\u00e3o \u00e9 de modo algum uma solu\u00e7\u00e3o permanente. \u00c9 prov\u00e1vel que n\u00e3o venha sequer a ser usada. Mas quando se \u00e9 confrontado com este problema catastr\u00f3fico, tem de se provar que caminhos funcionam ou s\u00e3o um beco sem sa\u00edda. J.W.:\u00a0 Podemos construir uma sa\u00edda dos problemas? Deposita muita f\u00e9 na tecnologia e o livro faz uma visita guiada pela tecnologia e explica-a. Mas ser\u00e1 realmente uma solu\u00e7\u00e3o ou na verdade precisamos apenas de reorganizar o nosso sistema global? B.G.: \u0022As popula\u00e7\u00f5es nos pa\u00edses em desenvolvimento merecem ter um abrigo b\u00e1sico, merecem ter luz \u00e0 noite. Devido ao calor que vai fazer perto da linha do Equador, merecem ter ar condicionado. N\u00f3s n\u00e3o vamos parar todos os voos, todos os edif\u00edcios, todos os transportes, toda a pecu\u00e1ria. Portanto, temos de ser capazes de encontrar uma forma de as nossas a\u00e7\u00f5es deixarem de afetar o planeta, caso contr\u00e1rio, n\u00e3o ser\u00e1 poss\u00edvel chegar \u00e0s zero [emiss\u00f5es]. \u00c9 \u00f3timo que as pessoas nos pa\u00edses ricos reduzam o consumo e as emiss\u00f5es. Mas isso n\u00e3o \u00e9 a totalidade do plano para p\u00f4r o planeta a zero\u0022. J.W.:\u00a0 Fala muito em ser justo e correto. Acha que \u00e9 realmente poss\u00edvel chegar a 2050, ter esse desenvolvimento que gostaria de ver acontecer e chegar a zero emiss\u00f5es? B.G.: \u0022Sim. Se olharmos para inova\u00e7\u00f5es como o chip de computador, as comunica\u00e7\u00f5es sem fios, \u00e9 fenomenal como a qualidade de vida foi melhorada e os tempos de vida s\u00e3o muito maiores. Mesmo estas vacinas na pandemia s\u00e3o grandes exemplos disso. Mas s\u00f3 l\u00e1 vamos chegar se fizermos proveito dos 30 anos e trabalharmos em todas as fontes de emiss\u00f5es em todos os pa\u00edses. Por enquanto n\u00e3o temos a m\u00e9trica certa. Ainda n\u00e3o temos planeadas coisas como essa rede el\u00e9ctrica. E o livro \u00e9 uma esp\u00e9cie de apelo \u00e0 a\u00e7\u00e3o, para nos juntarmos e desenharmos um plano, porque \u00e9 muito importante\u0022. J.W.:\u00a0 Muitos dos nossos telespectadores t\u00eam feito perguntas sobre solu\u00e7\u00f5es com base na natureza, como, por exemplo, plantar \u00e1rvores para retirar di\u00f3xido de carbono (CO2) da atmosfera. Ser\u00e1 esse um caminho v\u00e1lido? \u00c9 algo que as pessoas possam fazer por si pr\u00f3prias? B.G.: \u0022Infelizmente, com 51 mil milh\u00f5es de toneladas de emiss\u00f5es... A natureza \u00e9 boa a plantar \u00e1rvores em muitos lugares, [mas] a redu\u00e7\u00e3o obtida n\u00e3o vai corresponder uma percentagem elevada. E teria de se financiar a replanta\u00e7\u00e3o dessas \u00e1rvores durante milhares de anos, porque quando se coloca CO2 na atmosfera ele permanece l\u00e1 durante milhares de anos. Se dizemos que vamos compensar alguma coisa, [tendo em conta que] as \u00e1rvores ardem ou morrem em 40 anos, o custo por tonelada para financiar essa a\u00e7\u00e3o, a, digamos, quatro mil anos, \u00e9 muito, muito elevado. Portanto, vermo-nos livres das emiss\u00f5es nestes processos \u00e9 a \u00fanica forma de fazer face aos 51 mil milh\u00f5es de toneladas [de gases emitidos todos os anos]\u0022. J.W.:\u00a0 E acha que tirar mecanicamente o CO2 da atmosfera, utilizando m\u00e1quinas para esse efeito, \u00e9 a melhor alternativa? B.G.: \u0022Financio muitas empresas de captura direta de ar. Mais uma vez, a\u00ed o custo por tonelada ainda \u00e9 demasiado elevado, mas h\u00e1 muitas ideias novas. Hoje em dia, o processo custa mais de 400 d\u00f3lares por tonelada, o que torna imposs\u00edvel resolver o problema dessa forma. Se conseguirmos que fique abaixo dos 100 d\u00f3lares por tonelada, j\u00e1 pode ser parte da solu\u00e7\u00e3o, tal como o hidrog\u00e9nio ou o combust\u00edvel para avia\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gicos. A capta\u00e7\u00e3o direta de ar \u00e9 uma das coisas que os governos devem apoiar e onde devem procurar as melhores solu\u00e7\u00f5es\u0022. J.W.:\u00a0 Falando sobre governos, legisla\u00e7\u00e3o e pol\u00edticas, o enquadramento adequado \u00e9 realmente importante e esse tema \u00e9 abordado mais \u00e0 frente, no livro. Pergunto-lhe o que pensa sobre o Pacto Ecol\u00f3gico Europeu, que liga os fundos de recupera\u00e7\u00e3o do coronav\u00edrus aos investimentos no ambiente. Ou seja, n\u00e3o se recebe o dinheiro a menos que haja investimento no ambiente. Acha que a medida \u00e9 suficiente? B.G.: \u0022Acho a medida fant\u00e1stica. \u00c9 um grande compromisso. Penso que o impacto vai depender da qualidade desses projetos. E \u00e9 por isso que a nossa equipa cient\u00edfica, que financiou todas estas empresas em fase de arranque, vai tentar colaborar com a Uni\u00e3o Europeia, tanto quanto poss\u00edvel, nesses projetos, porque \u00e9 preciso experimentar as coisas \u00e0 escala. E esse dinheiro pode acelerar o trabalho. A quest\u00e3o \u00e9 que vai ser usado para muitas das fontes de emiss\u00f5es, n\u00e3o s\u00f3 a eletricidade renov\u00e1vel ou os autom\u00f3veis, mas tamb\u00e9m em \u00e1reas muito dif\u00edceis. Por isso, \u00e9 \u00f3timo que tenham assumido o compromisso de financiar esses projetos\u0022. J.W.:\u00a0 Precisamos de inovar em todas as frentes e isso vai exigir muito dinheiro. Acha que os bilion\u00e1rios deste mundo - um clube do qual faz parte - deviam pagar mais impostos e ser obrigados a investir mais nestas \u00e1reas? B.G.: \u0022A pol\u00edtica fiscal depende de cada pa\u00eds. J\u00e1 disse que, nos Estados Unidos, os impostos podiam ser mais elevados. Mas, n\u00e3o sou especialista em tributa\u00e7\u00e3o europeia. Os governos v\u00e3o ter de intervir aqui. V\u00e3o ter de exigir recursos, tal como fazem para a educa\u00e7\u00e3o e a sa\u00fade\u0022. J.W.: Mas como \u00e9 que os motiva? Porque, neste momento, h\u00e1 muita motiva\u00e7\u00e3o para financiar a sa\u00fade, mas onde est\u00e1 a motiva\u00e7\u00e3o para realmente se aprofundar no tipo de inova\u00e7\u00e3o e mudan\u00e7a extrema de que est\u00e1 a falar? B.G.:\u00a0 \u0022Como vimos com a pandemia, o custo de fazer estas novas ferramentas foi de milhares de milh\u00f5es e vai salvar-nos de uma trag\u00e9dia econ\u00f3mica de bili\u00f5es e bili\u00f5es de d\u00f3lares\u0022. J.W.:\u00a0 Mas como \u00e9 que se constr\u00f3i a\u00ed a vontade pol\u00edtica? N\u00e3o sei se ela existe, porque os pol\u00edticos t\u00eam uma vis\u00e3o a curto prazo, e n\u00f3s sabemos isso. B.G.:\u00a0 \u0022A menos que a gera\u00e7\u00e3o mais jovem se pronuncie constantemente - e felicito quem o faz - e a menos que os jovens deixem claro o seu ponto de vista, \u00e9 poss\u00edvel que n\u00e3o tenhamos as pol\u00edticas certas. E o n\u00edvel de mortes ser\u00e1 dramaticamente mais elevado do que em qualquer momento da pandemia. Se n\u00e3o nos anteciparmos, n\u00e3o vamos conseguir sair dessa situa\u00e7\u00e3o e vamos sofrer durante muitas d\u00e9cadas\u0022. J.W.:\u00a0 Quero terminar voltando \u00e0 pandemia. Todos estamos a falar a a pensar na vacina. Existe uma vacina para as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas? B.G.: \u00a0\u0022 N\u00e3o, precisamos antes de uma d\u00fazia de inova\u00e7\u00f5es revolucion\u00e1rias por causa de todas as fontes de emiss\u00f5es que existem. N\u00e3o se trata apenas de carros el\u00e9ctricos, de combust\u00edvel ecol\u00f3gico para a avia\u00e7\u00e3o, de carne artificial. Na ind\u00fastria, na agricultura, nos transportes, nos edif\u00edcios ainda h\u00e1 muito a fazer. Mas os danos e a destrui\u00e7\u00e3o, a destrui\u00e7\u00e3o permanente dos ecossistemas naturais \u00e9 muito pior do que no auge da pandemia. Deve ser uma causa pela qual a humanidade se possa unir. Vai ser dif\u00edcil, mas se o conseguirmos, ser\u00e1 o melhor que j\u00e1 fizemos\u0022. 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Bill Gates e as soluções para "evitar um desastre climático"

Bill Gates e as soluções para "evitar um desastre climático"
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O empresário e filantropo Bill Gates falou com a Euronews sobre o panorama atual de pandemia e alterações climáticas, no mês em que chega às bancas o livro de sua autoria "Como evitar um desastre climático".

Primeiro vieram os computadores, depois, a filantropia, agora, Bill Gates quer tornar-se numa voz ativa do combate às alterações climáticas. O cofundador da Microsoft e fundador da Breaktrough Energy lançou este mês o livro "Como evitar um desastre climático" e falou com a Euronews sobre o que ainda pode ser feito para salvar o planeta Terra.

Jeremy Wilks, Euronews: Diz no seu livro que hoje em dia estamos no mesmo ponto, em termos de alterações climáticas,que há vários anos, com pandemias. Isso significa que achamos que estamos preparados, mas na verdade não estamos. O que é que não estamos a perceber sobre as alterações climáticas?

Bill Gates: "As fontes de emissões são muito vastas. E em muitos casos, ainda não começámos realmente a descobrir como evitar essas emissões. Todo o sector transformador, o transporte aéreo, mesmo os planos para fazer crescer a rede elétrica, exigem que façamos muito mais do que o que estamos a fazer agora, incluindo promover muita inovação. Portanto, é ótimo que os jovens se preocupem com esta causa, é ótimo que tenhamos um objetivo, mas o meu livro é para dizer, "aqui está o que pode ser um plano, vamos organizar um".

Cada vez mais trata-se de pensar no que fazemos em relação às alterações climáticas e não em se é, ou não, um problema
Bill Gates
Cofundador da Microsoft e fundador da Breakthrough Energy

J.W.: Falemos um pouco sobre a pandemia, rapidamente, antes de entrarmos no tema nas alterações climáticas. Já ou mais de um ano e ainda não estamos a geri-la bem. Está surpreendido com isso?"

B.G.: "Cada país fez algumas coisas bem e cometeu erros. Quando dei a minha palestra TED, em 2015, a dizer que não estávamos prontos para a próxima pandemia, falei sobre diagnósticos e práticas e como se coordenam diferentes aspetos. A criação da vacina foi mais rápida do que o que esperávamos. A nossa fundação tinha apoiado a tecnologia do ARN mensageiro, mas não tinham sido feitas vacinas, portanto, pelo menos nessa parte, há esperança e poderá ser isso que vai pôr termo a esta epidemia".

J.W.: Mas quando se trata da gestão da situação, do tipo de gestão política não tem tido grande sucesso, creio. O que pensa sobre isso? E o que é que isso significa para a forma como vamos lidar com as alterações climáticas?

**B.G.: **"Ninguém espera que um governo seja perfeito. Mas o governo em geral faz coisas fantásticas: educação, justiça, saúde. Estamos sempre a pressionar porque somos cidadãos e podemos falar sobre como queremos que melhore. No caso do clima, vai ser preciso criar muitas políticas criativas. E a voz política, particularmente a dos jovens, tem de permanecer forte, vamos precisar de 30 anos para consegui-lo, porque vai ser difícil, mas não é impossível".

J.W.: O lançamento da vacina realçou as diferenças entre ricos e pobres, entre os países mais ricos e os países mais pobres. As alterações climáticas vão provavelmente fazer o mesmo, não vão?

B.G.: "Absolutamente. A razão pela qual estou tão empenhado é porque o trabalho feito pela Fundação Gates para ajudar a saúde nos países pobres, e para ajudar os agricultores de lá, vai ser revertido à medida que os anos arem. Estas temperaturas mais altas significam que os agricultores de subsistência não vão conseguir fazer as colheitas crescer tanto, o que levará à má nutrição, à migração e a uma total instabilidade por causa do clima".

O diálogo com a istração Biden é muito promissor
Bill Gates
Cofundador da Microsoft e fundador da Breakthrough Energy

J.W.: Quando estava a ler o livro, tive a impressão de que estava a tentar convencer alguém sobre a importância das alterações climáticas. Dirige-se aos políticos americanos, ao público americano, ou na verdade estava tentar convencer-se a si próprio da importância das alterações climáticas? Tive genuinamente essa sensação de que estava a tentar convencer alguém da importância das alterações climáticas e na verdade só recentemente é que se apercebeu da dimensão do problema.

B.G.: "Comecei muitas sessões de aprendizagem em 2005, e tal como dei uma palestra TED em 2015 a alertar para a pandemia, dei uma outra, em 2010, a alertar para as alterações climáticas, porque já estamos a ver os efeitos, os efeitos negativos sobre os mais pobres que nada fizeram para criar o problema.

A razão pela qual é oportuno fazer agora o livro não se deve às minhas opiniões, que sempre foram bem vincadas em relação ao problema, mas devido à energia dos defensores. Há a possibilidade de as prioridades políticas certas e o caminho acertado em relação à inovação, e mesmo o trabalho nas partes difíceis das emissões, como o aço e o cimento e o combustível para a aviação, acontecerem. Particularmente este ano, tendo em conta que temos os fundos de recuperação a ser programados contra o clima, que temos em breve a reunião de Glasgow (COP26). E refleti sobre um contexto de como vai ser difícil, como tenho visto a inovação avançar, e daquilo a que chamo "Green ". Achei que era muito oportuno ter o livro como parte destes debates".

J.W.: Sente que é o momento apropriado de enviar um exemplar ao presidente Joe Biden? Já o fez? Acha que as pessoas em Washington lhe vão dar ouvidos?

B.G.: "Sim, falei não só com o presidente, mas também com todas as pessoas fundamentais a trabalhar na área do clima, como John Kerry, que é o enviado especial para o clima. Estou a ar muito tempo também a falar com o Reino Unido sobre a conferência e como nos podemos certificar de que ela cobre não só os temas fáceis, mas também os mais difíceis. Portanto, sim, o diálogo com a istração Biden é muito promissor".

J.W.: E como está a reagir o público americano? Os Estados Unidos são um país de onde vêm as vozes mais céticas em relação ao clima. Como acha que vêem este livro? É óbvio que o escreveu para um vasto público.

**B.G.: **"Há cada vez mais jovens, incluindo republicanos, que veem isto como a causa moral, que vai além do seu próprio sucesso pessoal, é algo com que se preocupam, que querem garantir que tem atenção. E os partidos podem ter opiniões diferentes, mas cada vez mais trata-se de pensar no que fazemos em relação às alterações climáticas e não em se é, ou não, um problema".

Temos de seguir todos os caminhos que nos possam levar a zero emissões até 2050. E com o nuclear ainda há muito a provar
Bill Gates
Cofundador da Microsoft e fundador da Breakthrough Energy

J.W.: Falemos sobre alguma da tecnologia, porque faz uma grande crítica à tecnologia e fala sobre a implementação do solar, sobre o vento e sobre como estão a ficar mais baratos. Fala também muito sobre tecnologias nucleares, que é algo em que os ambientalistas não estão tão interessados. Acha que o nuclear tem de estar presente num futuro sem carbono?

**B.G.: **"O setor da eletricidade vai ser muito maior, porque vai englobar toda a energia para os veículos de ageiros, edifícios de aquecimento e arrefecimento e muitos processos industriais. E manter a fiabilidade, mesmo com mau tempo, vai ser um enorme problema.

Portanto, ou precisamos de um milagre no armazenamento, que pode não acontecer, ou precisamos de alguma fonte renovável que não dependa das condições meteorológicas.

Será que se considerarmos uma abordagem que parta do zero e contemple o custo, a segurança, o tratamento dos resíduos, não podemos resolver todas as questões em torno do nuclear? Vale a pena trabalhar nisso, porque podemos precisar dele para resolver o clima. E por isso, sim, penso que devíamos explorar. Isto não tem nada a ver com a atual geração de reatores. Trata-se de um plano em que a segurança se baseia apenas na física, e não no que os operadores fazem ou não fazem".

J.W.: Então diria que temos de chegar lá até 2050? E que provavelmente vamos ter mais nuclear do que o que temos agora?

B.G.: "Não. Se obtivermos uma invenção milagrosa que nos permita armazenar uma quantidade de eletricidade incrivelmente grande, como duas semanas - que é mais do que o que cada bateria alguma vez feita permite, vezes 10 - se obtivermos isso, então podemos ter apenas as fontes intermitentes juntamente com o armazenamento como solução.

Mas como isso é incerto, temos de seguir todos os caminhos que nos possam levar a zero emissões até 2050. E com o nuclear ainda há muito a provar, incluindo, saber se o público vai estar de mente aberta daqui a cinco anos, se estará ou não de mente aberta para um plano completamente novo".

É ótimo que as pessoas nos países ricos reduzam o consumo e as emissões. Mas isso não é a totalidade do plano para pôr o planeta a zero
Bill Gates
Cofundador da Microsoft e fundador da Breakthrough Energy

J.W.: Mas como é que se gere essa rede? Porque, por exemplo, nos Estados Unidos há muito sol no Sudoeste; como é que se transporta essa energia para o outro lado do país e depois se atravessa fronteiras? Porque também é um problema. Como pretende fazer face a esses desafios?

B.G.: "Em qualquer cenário, a Europa e os Estados Unidos vão ter de construir muito mais transmissão. Porque pode haver uma frente fria e toda a energia eólica e solar parar. Por isso, temos de esperar que, tendo em conta o tamanho do continente, seja possível, algures, obter essa energia. Nós fizemos um modelo de fonte aberta que vai permitir às pessoas jogar com as suas suposições, e o que elas vão ver é que parte da resposta a por haver muito mais transmissão".

J.W.: Estou interessado na sua reflexão sobre tecnologias um pouco mais controversas; fala de geoengenharia, coisas como tornar o topo das nuvens mais branco, de forma a reflitir mais luz de volta ao espaço, como uma solução de último recurso para lidar com as alterações climáticas. Está realmente a levar essas tecnologias a sério?

**B.G.: **"Não, isso não é uma solução para as alterações climáticas. Pensei que era importante mencioná-lo no livro, porque há pessoas a olhar para o tema. No máximo, atrasaria o problema uns 10 ou 15 anos, enquanto nos livramos das fontes de emissões. Não mencionar o assunto teria sido um erro, porque existe e as pessoas devem compreender que não é de modo algum uma solução permanente. É provável que não venha sequer a ser usada. Mas quando se é confrontado com este problema catastrófico, tem de se provar que caminhos funcionam ou são um beco sem saída.

J.W.: Podemos construir uma saída dos problemas? Deposita muita fé na tecnologia e o livro faz uma visita guiada pela tecnologia e explica-a. Mas será realmente uma solução ou na verdade precisamos apenas de reorganizar o nosso sistema global?

B.G.: "As populações nos países em desenvolvimento merecem ter um abrigo básico, merecem ter luz à noite. Devido ao calor que vai fazer perto da linha do Equador, merecem ter ar condicionado. Nós não vamos parar todos os voos, todos os edifícios, todos os transportes, toda a pecuária. Portanto, temos de ser capazes de encontrar uma forma de as nossas ações deixarem de afetar o planeta, caso contrário, não será possível chegar às zero [emissões]. É ótimo que as pessoas nos países ricos reduzam o consumo e as emissões. Mas isso não é a totalidade do plano para pôr o planeta a zero".

J.W.: Fala muito em ser justo e correto. Acha que é realmente possível chegar a 2050, ter esse desenvolvimento que gostaria de ver acontecer e chegar a zero emissões?

B.G.: "Sim. Se olharmos para inovações como o chip de computador, as comunicações sem fios, é fenomenal como a qualidade de vida foi melhorada e os tempos de vida são muito maiores. Mesmo estas vacinas na pandemia são grandes exemplos disso. Mas só lá vamos chegar se fizermos proveito dos 30 anos e trabalharmos em todas as fontes de emissões em todos os países.

Por enquanto não temos a métrica certa. Ainda não temos planeadas coisas como essa rede eléctrica. E o livro é uma espécie de apelo à ação, para nos juntarmos e desenharmos um plano, porque é muito importante".

J.W.: Muitos dos nossos telespectadores têm feito perguntas sobre soluções com base na natureza, como, por exemplo, plantar árvores para retirar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Será esse um caminho válido? É algo que as pessoas possam fazer por si próprias?

B.G.: "Infelizmente, com 51 mil milhões de toneladas de emissões... A natureza é boa a plantar árvores em muitos lugares, [mas] a redução obtida não vai corresponder uma percentagem elevada.

E teria de se financiar a replantação dessas árvores durante milhares de anos, porque quando se coloca CO2 na atmosfera ele permanece lá durante milhares de anos.

Se dizemos que vamos compensar alguma coisa, [tendo em conta que] as árvores ardem ou morrem em 40 anos, o custo por tonelada para financiar essa ação, a, digamos, quatro mil anos, é muito, muito elevado. Portanto, vermo-nos livres das emissões nestes processos é a única forma de fazer face aos 51 mil milhões de toneladas [de gases emitidos todos os anos]".

J.W.: E acha que tirar mecanicamente o CO2 da atmosfera, utilizando máquinas para esse efeito, é a melhor alternativa?

B.G.: "Financio muitas empresas de captura direta de ar. Mais uma vez, aí o custo por tonelada ainda é demasiado elevado, mas há muitas ideias novas. Hoje em dia, o processo custa mais de 400 dólares por tonelada, o que torna impossível resolver o problema dessa forma. Se conseguirmos que fique abaixo dos 100 dólares por tonelada, já pode ser parte da solução, tal como o hidrogénio ou o combustível para aviação ecológicos. A captação direta de ar é uma das coisas que os governos devem apoiar e onde devem procurar as melhores soluções".

(...) a destruição permanente dos ecossistemas naturais é muito pior do que no auge da pandemia
Bill Gates
Cofundador da Microsoft e fundador da Breakthrough Energy

J.W.: Falando sobre governos, legislação e políticas, o enquadramento adequado é realmente importante e esse tema é abordado mais à frente, no livro. Pergunto-lhe o que pensa sobre o Pacto Ecológico Europeu, que liga os fundos de recuperação do coronavírus aos investimentos no ambiente. Ou seja, não se recebe o dinheiro a menos que haja investimento no ambiente. Acha que a medida é suficiente?

B.G.: "Acho a medida fantástica. É um grande compromisso. Penso que o impacto vai depender da qualidade desses projetos. E é por isso que a nossa equipa científica, que financiou todas estas empresas em fase de arranque, vai tentar colaborar com a União Europeia, tanto quanto possível, nesses projetos, porque é preciso experimentar as coisas à escala. E esse dinheiro pode acelerar o trabalho.

A questão é que vai ser usado para muitas das fontes de emissões, não só a eletricidade renovável ou os automóveis, mas também em áreas muito difíceis. Por isso, é ótimo que tenham assumido o compromisso de financiar esses projetos".

J.W.: Precisamos de inovar em todas as frentes e isso vai exigir muito dinheiro. Acha que os bilionários deste mundo - um clube do qual faz parte - deviam pagar mais impostos e ser obrigados a investir mais nestas áreas?

B.G.: "A política fiscal depende de cada país. Já disse que, nos Estados Unidos, os impostos podiam ser mais elevados. Mas, não sou especialista em tributação europeia. Os governos vão ter de intervir aqui. Vão ter de exigir recursos, tal como fazem para a educação e a saúde".

J.W.: Mas como é que os motiva? Porque, neste momento, há muita motivação para financiar a saúde, mas onde está a motivação para realmente se aprofundar no tipo de inovação e mudança extrema de que está a falar?

**B.G.: **"Como vimos com a pandemia, o custo de fazer estas novas ferramentas foi de milhares de milhões e vai salvar-nos de uma tragédia económica de biliões e biliões de dólares".

J.W.: Mas como é que se constrói aí a vontade política? Não sei se ela existe, porque os políticos têm uma visão a curto prazo, e nós sabemos isso.

**B.G.: **"A menos que a geração mais jovem se pronuncie constantemente - e felicito quem o faz - e a menos que os jovens deixem claro o seu ponto de vista, é possível que não tenhamos as políticas certas. E o nível de mortes será dramaticamente mais elevado do que em qualquer momento da pandemia. Se não nos anteciparmos, não vamos conseguir sair dessa situação e vamos sofrer durante muitas décadas".

J.W.: Quero terminar voltando à pandemia. Todos estamos a falar a a pensar na vacina. Existe uma vacina para as alterações climáticas?

B.G.: "Não, precisamos antes de uma dúzia de inovações revolucionárias por causa de todas as fontes de emissões que existem. Não se trata apenas de carros eléctricos, de combustível ecológico para a aviação, de carne artificial. Na indústria, na agricultura, nos transportes, nos edifícios ainda há muito a fazer. Mas os danos e a destruição, a destruição permanente dos ecossistemas naturais é muito pior do que no auge da pandemia. Deve ser uma causa pela qual a humanidade se possa unir. Vai ser difícil, mas se o conseguirmos, será o melhor que já fizemos".

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