{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2018/12/17/e-preferivel-um-novo-referendo-do-que-nada-tony-blair" }, "headline": "\u0022\u00c9 prefer\u00edvel um novo referendo do que nada\u0022, Tony Blair", "description": "Semana dram\u00e1tica na pol\u00edtica brit\u00e2nica que continua bloqueada. Por isso, h\u00e1 pedidos crescentes de um segundo referendo, Uma das pessoas que o quer \u00e9 o antigo primeiro-ministro brit\u00e2nico Tony Blair, com quem fal\u00e1mos em Global Conversation.", "articleBody": "Semana dram\u00e1tica na pol\u00edtica brit\u00e2nica, com a primeira-ministra brit\u00e2nica a adiar a vota\u00e7\u00e3o do acordo de sa\u00edda, a enfrentar um desafio \u00e0 lideran\u00e7a e a pedir aos l\u00edderes europeus mais garantias sobre a Irlanda. A pol\u00edtica brit\u00e2nica continua bloqueada. Por isso, h\u00e1 pedidos crescentes de um segundo referendo. Uma das pessoas que o quer \u00e9 o antigo primeiro-ministro brit\u00e2nico Tony Blair, com quem fal\u00e1mos em Global Conversation. Euronews: Penso que posso dizer que o senhor \u00e9 um grande defensor da Uni\u00e3o Europeia, mas quando se olha para a Europa, hoje, temos uma crise or\u00e7amental italiana, um problema crescente com a migra\u00e7\u00e3o e o autoritarismo em ascens\u00e3o na Europa de Leste. Muitas pessoas diriam que a Gr\u00e3-Bretanha est\u00e1 a deixar a Uni\u00e3o Europeia no momento em que o navio europeu est\u00e1 prestes a afundar-se... Tony Blair: Desde que estou na pol\u00edtica tem havido crises peri\u00f3dicas na Europa e essas crises foram\u00a0sempre usadas pelos euroc\u00e9ticos para dizer que o projeto europeu vai desintegrar-se. Isso nunca aconteceu. Ele continua e continuar\u00e1 a existir. 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Tony Blair: Em primeiro lugar, acho que a principal ansiedade, no que diz respeito \u00e0 imigra\u00e7\u00e3o, em particular na Gr\u00e3-Bretanha, n\u00e3o falo da Europa, \u00e9 a imigra\u00e7\u00e3o que vem de fora da Europa, em particular a imigra\u00e7\u00e3o de pa\u00edses de maioria mu\u00e7ulmana. As pessoas temem que haja problemas a n\u00edvel cultural e at\u00e9 quest\u00f5es de seguran\u00e7a que v\u00eam com essa imigra\u00e7\u00e3o. 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Conseguir que 27 membros concordem com algo, antes de um referendo, e at\u00e9 mesmo mexer com o princ\u00edpio da liberdade de movimento seria quase imposs\u00edvel... Tony Blair: Eu n\u00e3o concordo com isso. A Diretriz de que fal\u00e1mos agora foi bem r\u00e1pida de implementar. Penso que se as pessoas quiserem podem faz\u00ea-lo. Tenho uma longa experi\u00eancia com o Conselho Europeu, por isso sei como funciona a Europa. Agora se se est\u00e1 a pedir uma grande mudan\u00e7a no tratado, que vai exigir referendos em todos os pa\u00edses, essa \u00e9 outra quest\u00e3o. Euronews: Isso seria suficiente para os brit\u00e2nicos? Que deixaram claro que a liberdade de movimento das pessoas, tal como existe, tem de acabar, Theresa May baseou o seu acordo nisso e Jeremy Corbyn falou-me tamb\u00e9m sobre a mat\u00e9ria.\u00a0 Tony Blair: \u00c9 importante isolar os problemas brit\u00e2nicos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 liberdade de movimento. 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Pensa que cheg\u00e1mos a um momento em que pode haver necessidade de, n\u00e3o sei, um governo de unidade nacional, um pouco como vimos durante a guerra?\u00a0 Tony Blair: \u00c9 muito dif\u00edcil conceber um governo de unidade nacional com o tipo de lideran\u00e7a que existe, com os dois partidos pol\u00edticos. Penso que h\u00e1 uma necessidade - e n\u00e3o acho que seja t\u00e3o complicado quanto as pessoas pensam, e eu falo como algu\u00e9m que foi membro do parlamento durante 25 anos e primeiro-ministro por 10 - de encontrar um caminho atrav\u00e9s do parlamento, \u00e9 poss\u00edvel faz\u00ea-lo, mesmo se o governo n\u00e3o estiver preparado para isso. \u00c9 preciso analisar e votar todas as op\u00e7\u00f5es. H\u00e1 o acordo de Theresa May, mas podemos ter uma op\u00e7\u00e3o do tipo Noruega, ou um acordo de livre com\u00e9rcio ao estilo do Canad\u00e1. \u00c9 preciso votar essas tr\u00eas op\u00e7\u00f5es. Se n\u00e3o houver consenso \u00e9 preciso decidir se se deseja fazer um referendo. Se n\u00e3o quiser fazer um referendo, pode voltar a uma dessas tr\u00eas op\u00e7\u00f5es. N\u00e3o \u00e9 complicado. O que eu acho que \u00e9, realmente, estranho e enganador, da parte da Europa, assim como das pessoas no Reino Unido, \u00e9 que se est\u00e1 demasiado preocupado com o \u0022n\u00e3o acordo\u0022, e asse muito tempo a pensar nisso. N\u00e3o haver\u00e1 acordo, a menos que haja uma combina\u00e7\u00e3o de fatores dentro do governo e do parlamento que eu n\u00e3o estou a prever. Ou seja, n\u00e3o estou a dizer que \u00e9 imposs\u00edvel. Mas por que \u00e9 que o Parlamento o faria? H\u00e1 uma grande maioria parlamentar contra o \u0022n\u00e3o acordo\u0022, portanto \u00e9 prefer\u00edvel um novo referendo do que nada. Por isso, penso que o problema n\u00e3o \u00e9 n\u00e3o se chegar a acordo. 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"É preferível um novo referendo do que nada", Tony Blair

"É preferível um novo referendo do que nada", Tony Blair
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Semana dramática na política britânica que continua bloqueada. Por isso, há pedidos crescentes de um segundo referendo, Uma das pessoas que o quer é o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, com quem falámos em Global Conversation.

Semana dramática na política britânica, com a primeira-ministra britânica a adiar a votação do acordo de saída, a enfrentar um desafio à liderança e a pedir aos líderes europeus mais garantias sobre a Irlanda. A política britânica continua bloqueada. Por isso, há pedidos crescentes de um segundo referendo. Uma das pessoas que o quer é o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, com quem falámos em Global Conversation.

Euronews: Penso que posso dizer que o senhor é um grande defensor da União Europeia, mas quando se olha para a Europa, hoje, temos uma crise orçamental italiana, um problema crescente com a migração e o autoritarismo em ascensão na Europa de Leste. Muitas pessoas diriam que a Grã-Bretanha está a deixar a União Europeia no momento em que o navio europeu está prestes a afundar-se...

Tony Blair: Desde que estou na política tem havido crises periódicas na Europa e essas crises foram sempre usadas pelos eurocéticos para dizer que o projeto europeu vai desintegrar-se. Isso nunca aconteceu. Ele continua e continuará a existir. Porque, no final, as razões para a existência desta Europa são muito fortes, muito poderosas num mundo que nos próximos anos será, cada vez mais, dominado por gigantes - EUA, China, possivelmente a Índia. A União Europeia e todos os países da Europa precisam de permanecer juntos, precisam de continuar fortes para proteger os seus valores e interesses. E essa é a grande justificação para esta Europa. No final, todas essas crises periódicas acabarão, por mais graves que sejam.

Euronews: Mas quando olha para alguns dos problemas de que se está a falar na Europa: por exemplo Emmanuel Macron e Angela Merkel, a criação de um exército europeu. Apoia esta ideia?

Tony Blair: Eles não se referem a um exército europeu no sentido de unir todos os soldados. O que eles querem dizer é a cooperação europeia, ao nível da Defesa. Eu iniciei esse processo no ano 2000, com o presidente de França, na época. Penso que a cooperação europeia no domínio da Defesa é muito sensata. Agora, sem a participação britânica, se o país sair da União Europeia, não haverá, de facto, uma Defesa europeia. Essa é outra razão pela qual uma das minhas mensagens para os líderes europeus é entender que o Brexit é mau, principalmente, para a Grã-Bretanha mas também para a Europa. Enfraquece a Europa numa altura em que esta precisa de ser forte.

Euronews: Fez campanha por um segundo referendo, diria mesmo que fez "lobby" junto de outros líderes europeus. Com quem é que falou e como foi recebida a mensagem?

Tony Blair: Bem, eu não divulgo as pessoas com quem falo, isso deve permanecer entre mim e os líderes com quem discuto. Mas eu acho que é muito óbvio. O que me diziam há um ano, era que um novo referendo nunca iria acontecer. Mas a situação mudou nos últimos dois meses. Agora as pessoas já dizem: "Será que isso vai acontecer?" É preciso levar os líderes europeus para a próxima etapa, que é a de perceber que a probabilidade é de que isso aconteça. E eles precisam de se preparar para isso. Porque um ponto importante, neste tipo de referendo, é saber se a Europa está preparada para responder, não apenas às preocupações britânicas em torno das questões relacionadas com a imigração, mas às preocupações de toda a Europa. E penso que se pode chegar a um acordo, se se quiser, que não será apenas sobre a Grã-Bretanha, mas sobre a Europa e aceitar, por exemplo, que a liberdade de movimento de pessoas na Europa tem de ser feita de forma justa, não se podem reduzir os salários e nem causar problemas aos países em termos individuais. 

Euronews: Mas não é esse o problema? A igualdade entre as pessoas na Grã-Bretanha, acabar com a livre circulação de pessoas. Eles estão mais preocupados com a migração externa para a Europa. E, em segundo lugar, em relação a essa liberdade para as pessoas se movimentarem pela Europa, está a falar de fazer uma reforma. Isso vai levar anos e anos. A Europa não faz nada rapidamente. Como é que vai garantir ao povo britânico, antes de um referendo, se ele se realizar, que a Europa está disposta a fazer uma reforma?

Tony Blair: Em primeiro lugar, acho que a principal ansiedade, no que diz respeito à imigração, em particular na Grã-Bretanha, não falo da Europa, é a imigração que vem de fora da Europa, em particular a imigração de países de maioria muçulmana. As pessoas temem que haja problemas a nível cultural e até questões de segurança que vêm com essa imigração. Mas a liberdade de movimentos também é um problema, no resto da Europa também. É por isso que, por exemplo, alguns países da Europa dizem que, se migrar de outro país da Europa, e não encontrar um emprego em alguns meses, nem meios para se sustentar, deve regressar ao seu país de origem. É por isso que o presidente francês apresentou e fez campanha por uma diretiva sobre este tipo de trabalhadores na Europa, que impedisse a utilização de mão-de-obra migrante, vinda de outra parte do continente, para reduzir os salários locais. Por isso, não é verdade que não seja um problema de toda a Europa. Eu acho que pode criar-se um pacote de medidas a ser implementado muito rapidamente porque há muitas coisas que é possível fazer, mesmo dentro do princípio da liberdade de movimento.

Euronews: Sim, mas sabemos que a Europa leva muito tempo a concordar com qualquer coisa. Conseguir que 27 membros concordem com algo, antes de um referendo, e até mesmo mexer com o princípio da liberdade de movimento seria quase impossível...

Tony Blair: Eu não concordo com isso. A Diretriz de que falámos agora foi bem rápida de implementar. Penso que se as pessoas quiserem podem fazê-lo. Tenho uma longa experiência com o Conselho Europeu, por isso sei como funciona a Europa. Agora se se está a pedir uma grande mudança no tratado, que vai exigir referendos em todos os países, essa é outra questão.

Euronews: Isso seria suficiente para os britânicos? Que deixaram claro que a liberdade de movimento das pessoas, tal como existe, tem de acabar, Theresa May baseou o seu acordo nisso e Jeremy Corbyn falou-me também sobre a matéria. 

Tony Blair: É importante isolar os problemas britânicos em relação à liberdade de movimento. Uma coisa que aconteceu, desde o referendo, é que agora temos uma ideia clara, na Grã-Bretanha, de quem são esses migrantes europeus. E se revir as diferentes categorias percebe-se, por exemplo, que precisamos de pessoas altamente qualificadas. Isso é aceite. Precisamos de trabalhadores sazonais pouco qualificados. Isso, agora, é aceite pela maioria das pessoas. Precisamos de trabalhadores no Serviço Nacional de Saúde. Precisamos de estudantes. No final, está a falar num pequeno número de pessoas. E, a propósito, a ironia, desde o referendo de junho de 2016, é que a migração europeia caiu e a migração de fora da Europa, aumentou. Esta questão é menos complicada e é mais fácil de lidar com ela do que as pessoas pensam.

Euronews: Em termos internos a Grã-Bretanha, está numa situação política de bloqueio. Pensa que chegámos a um momento em que pode haver necessidade de, não sei, um governo de unidade nacional, um pouco como vimos durante a guerra"> Notícias relacionadas

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