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No entanto, na Confer\u00eancia de Roma de 1998, os Estados Unidos n\u00e3o am o tratado, fazendo-o somente em 2000. Em 2002, o presidente Bush decidiu dar o dito por n\u00e3o dito e recua na , desobrigando o pa\u00eds do dever de se abster da pr\u00e1tica de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado. No in\u00edcio do mandato de Obama, circularam rumores e ressurgiu a esperan\u00e7a de que Washington finalmente se comprometesse com a justi\u00e7a internacional, mas os rumores rapidamente foram abafados e o assunto caiu de novo em saco roto. A elei\u00e7\u00e3o de Donald Trump n\u00e3o faz prever uma invers\u00e3o desta posi\u00e7\u00e3o, tanto mais que o partido Republicano sempre foi contr\u00e1rio \u00e0 ideia de submeter a julgamento \u2013 por uma justi\u00e7a internacional \u2013 nacionais americanos. O Tratado foi aprovado a 17 de julho de 1998 por 120 pa\u00edses Na altura, alguns pa\u00edses votaram contra \u2013 China, \u00cdndia, Paquist\u00e3o, I\u00e9men, Qatar, L\u00edbia, Israel, Iraque e os Estados Unidos da Am\u00e9rica. Alguns, como os Estados Unidos ou a R\u00fassia, viriam a assin\u00e1-lo mas nunca o ratificaram. Porque \u00e9 que os pa\u00edses abandonam o TPI? Burundi O Burundi foi o primeiro pa\u00eds a anunciar a retirada do Tribunal Penal Internacional, em outobro de 2016. Este pequeno pa\u00eds da \u00c1frica Central acusa o tribunal de se focalizar bastante mais nos casoa africanos do que no resto do mundo. Na altura, o ministro dos Neg\u00f3cios Estrangeiros, Alain Nyamitwe justificou: \u201cAcredito que h\u00e1 certas motiva\u00e7\u00f5es pol\u00edticas que levam o TPI a trabalhar s\u00f3 nos casos africanos. Quantas vezes j\u00e1 ouvimos falar de investiga\u00e7\u00f5es do TPI sobre os crimes cometidos no Iraque? Quantas vezes ouvimos falar de crimes cometidos no Afeganist\u00e3o? Podemos ainda ir mais longe: Que grupo est\u00e1 sob investiga\u00e7\u00e3o pelos crimes cometidos na L\u00edbia? Muitos observadores veem nesta tomada de posi\u00e7\u00e3o uma rea\u00e7\u00e3o ao an\u00fancio, em Abril, pela procuradora do TPI, de uma investiga\u00e7\u00e3o preliminar na sequ\u00eancia de den\u00fancias de atos criminosos como assass\u00ednios, pris\u00f5es, tortura, viola\u00e7\u00e3o e outros abusos sexuais no Burundi. Apesar de os membros do governo de Bujumbura negarem os crimes de que h\u00e1 suspeita, a associa\u00e7\u00e3o Human Rights Watch afirma que a verdadeira raz\u00e3o para a sa\u00edda do pa\u00eds \u00e9 esta investiga\u00e7\u00e3o. \u00c1frica do Sul A \u00c1frica do Sul foi o segundo pa\u00eds a anunciar o div\u00f3rcio com o TPI. Em 2015 Pret\u00f3ria, num ato de rebeldia, tinha-se recusado a cumprir a ordem do tribunal para a deten\u00e7\u00e3o do presidente do Sud\u00e3o, Omar al-Bashir, que se deslocou ao pa\u00eds para participar numa cimeira da Uni\u00e3o Africana. Al-Bashir era alvo de um mandado internacional, acusado de crimes de guerra e genoc\u00eddio no Darfur. Na altura, o governo sul-africano tinha invocado a possibilidade de abandonar o TPI, o que veio a concretizar em outubro de 2016. O ministro sul-africano da Justi\u00e7a, Michael Masutha explicou em confer\u00eancia de imprensa que \u201cA implementa\u00e7\u00e3o do Estatuto de Roma para o Tribunal Penal Internacional \u2013 Act 2002 est\u00e1 em conflito e contradi\u00e7\u00e3o com as Imunidades e Privil\u00e9gios Diplom\u00e1ticos definidos no Act 2001\u201d. O Estatuto de Roma, que criou o TPI, obriga os estados signat\u00e1rios a deterem nos seus territ\u00f3rios qualquer pessoa que seja procurada pelo Tribunal, mas para o chefe da diplomacia do governo de Pret\u00f3ria esta obriga\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 compat\u00edvel com a interpreta\u00e7\u00e3o dos Direitos Humanos. Para a Amnistia Internacional, a sa\u00edda da \u00c1frica do Sul do TPI \u00e9 \u201cuma trai\u00e7\u00e3o aos milh\u00f5es de v\u00edtimas das mais graves viola\u00e7\u00f5es dos Direito Humanos\u201d, declara o diretor para a \u00c1frica, Netsanet Belay G\u00e2mbia O terceiro pa\u00eds e mais um pa\u00eds africano a abandonar o TPI \u00e9 a G\u00e2mbia, o pa\u00eds de origem da procuradora Fatou Bensouada, que foi ministra da Justi\u00e7a no governo gambiano. O ministro da Informa\u00e7\u00e3o deste pa\u00eds da \u00c1frica Ocidental, Sherif Bojang, considera que o Tribunal tem ignorado os crimes de guerra ocidentais, juntando a voz \u00e0s autoridades do Burundi, que defendem que o Tribunal s\u00f3 investiga crimes em pa\u00edses africanos.Bojang foi ao ponto de citar o facto de o TPI n\u00e3o ter acusado Tony Blair pelos crimes no Iraque e referiu-se a esta estrutura internacional de justi\u00e7a como Um Tribunal Internacional Caucasiano para perseguir e humilhar os povos de c\u00f4r e sugeriu que \u201ca Uni\u00e3o Europeia deveria tamb\u00e9m ser perseguida pelas mortes dos migrantes africanos no Mediterr\u00e2neo\u201d: http://www.reuters.com/article/us-europe-migrants-gambia-idUSKBN0OO26720150608 Como funciona o TPI? 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O que \u00e9 que o TPI tem feito desde a sua cria\u00e7\u00e3o? Os casos em curso fazem parte do relat\u00f3rio apresentado pela procuradora Bensouda: The #ICC Prosecutor, Fatou #Bensouda, issues her annual Report on Preliminary Examination Activities (2016) https://t.co/uUWZmFYEVv pic.twitter.com/51OWahAII2\u2014 Int'l Criminal Court (@IntlCrimCourt) November 14, 2016 At\u00e9 agora foram conclu\u00eddos processos do Qu\u00e9nia, Sud\u00e3o Darfur, Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo. Todos terminaram sem acusa\u00e7\u00e3o. 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Que futuro para o Tribunal Penal Internacional (TPI)?

Que futuro para o Tribunal Penal Internacional (TPI)?
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De Maria Barradas
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O que é o Tribunal Penal Internacional (TPI) e qual a sua importância?

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O que é o Tribunal Penal Internacional (TPI) e qual a sua importância?

A Rússia é o quarto país a anunciar a intenção de abandonar o Tribunal Penal Internacional (TPI).

A Gâmbia, a África do Sul e o Burundi decidiram recentemente deixar esta estrutura, mas o caso russo é singular. Moscovo assinou o Estatuto de Roma no ano 2000, mas nunca o ratificou, o que leva um membro do ministério russo dos Negócios Estrangeiros a afirmar que isso significa que que a Rússia nunca foi membro do TPI.

O TPI começou a funcionar em 2002 com 124 estados membros. Foi o primeiro organismo com jurisdição internacional permanente apto a julgar crimes de genocídio, crimes contra a Humanidade e crimes de guerra, mas vários países que am a sua formação nunca ratificaram os estatutos.

Por exemplo, a procuradora do TPI, Fatou Bensouda, apresentou recentemente um relatório que indica a possibilidade de crimes de guerra no Afeganistão por parte dos talibãs, mas também das forças americanas e da CIA. Como os Estados Unidos nunca ratificaram os Estatutos de Roma, é pouco provável que os soldados americanos venham a ser julgados.

O Caso Americano

De resto, a posição americana de não se comprometer foi foi um dos mairores entraves à criação do Tribunal. O país tem tido uma relação peculiar com este organismo. Em 1995, o presidente Clinton apoiou a criação do TPI. No entanto, na Conferência de Roma de 1998, os Estados Unidos não am o tratado, fazendo-o somente em 2000. Em 2002, o presidente Bush decidiu dar o dito por não dito e recua na , desobrigando o país do dever de se abster da prática de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado.
No início do mandato de Obama, circularam rumores e ressurgiu a esperança de que Washington finalmente se comprometesse com a justiça internacional, mas os rumores rapidamente foram abafados e o assunto caiu de novo em saco
roto. A eleição de Donald Trump não faz prever uma inversão desta posição, tanto mais que o partido Republicano sempre foi contrário à ideia de submeter a julgamento – por uma justiça internacional – nacionais americanos.

O Tratado foi aprovado a 17 de julho de 1998 por 120 países Na altura, alguns países votaram contra – China, Índia, Paquistão, Iémen, Qatar, Líbia, Israel, Iraque e os Estados Unidos da América. Alguns, como os Estados Unidos ou a Rússia, viriam a assiná-lo mas nunca o ratificaram.

Porque é que os países abandonam o TPI?

Burundi

O Burundi foi o primeiro país a anunciar a retirada do Tribunal Penal Internacional, em outobro de 2016. Este pequeno país da África Central acusa o tribunal de se focalizar bastante mais nos casoa africanos do que no resto do mundo. Na altura, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alain Nyamitwe justificou:

“Acredito que há certas motivações políticas que levam o TPI a trabalhar só nos casos africanos. Quantas vezes já ouvimos falar de investigações do TPI sobre os crimes cometidos no Iraque? Quantas vezes ouvimos falar de crimes cometidos no Afeganistão? Podemos ainda ir mais longe: Que grupo está sob investigação pelos crimes cometidos na Líbia?

Muitos observadores veem nesta tomada de posição uma reação ao anúncio, em Abril, pela procuradora do TPI, de uma investigação preliminar na sequência de denúncias de atos criminosos como assassínios, prisões, tortura, violação e outros abusos sexuais no Burundi.

Apesar de os membros do governo de Bujumbura negarem os crimes de que há suspeita, a associação Human Rights Watch afirma que a verdadeira razão para a saída do país é esta investigação.

África do Sul

A África do Sul foi o segundo país a anunciar o divórcio com o TPI. Em 2015 Pretória, num ato de rebeldia, tinha-se recusado a cumprir a ordem do tribunal para a detenção do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, que se deslocou ao país para participar numa cimeira da União Africana. Al-Bashir era alvo de um mandado internacional, acusado de crimes de guerra e genocídio no Darfur. Na altura, o governo sul-africano tinha invocado a possibilidade de abandonar o TPI, o que veio a concretizar em outubro de 2016.

O ministro sul-africano da Justiça, Michael Masutha explicou em conferência de imprensa que “A implementação do Estatuto de Roma para o Tribunal Penal Internacional – Act 2002 está em conflito e contradição com as Imunidades e Privilégios Diplomáticos definidos no Act 2001”.

O Estatuto de Roma, que criou o TPI, obriga os estados signatários a deterem nos seus territórios qualquer pessoa que seja procurada pelo Tribunal, mas para o chefe da diplomacia do governo de Pretória esta obrigação não é compatível com a interpretação dos Direitos Humanos.

Para a Amnistia Internacional, a saída da África do Sul do TPI é “uma traição aos milhões de vítimas das mais graves violações dos Direito Humanos”, declara o diretor para a África, Netsanet Belay

GâmbiaO terceiro país e mais um país africano a abandonar o TPI é a Gâmbia, o país de origem da procuradora Fatou Bensouada, que foi ministra da Justiça no governo gambiano. O ministro da Informação deste país da África Ocidental, Sherif Bojang, considera que o Tribunal tem ignorado os crimes de guerra ocidentais, juntando a voz às autoridades do Burundi, que defendem que o Tribunal só investiga crimes em países africanos.
Bojang foi ao ponto de citar o facto de o TPI não ter acusado Tony Blair pelos crimes no Iraque e referiu-se a esta estrutura internacional de justiça como Um Tribunal Internacional Caucasiano para perseguir e humilhar os povos de côr e sugeriu que “a União Europeia deveria também ser perseguida pelas mortes dos migrantes africanos no Mediterrâneo”: http://www.reuters.com/article/us-europe-migrants-gambia-idUSKBN0OO26720150608

Como funciona o TPI?

O Tribunal apresenta-se a si mesmo como o primeiro tribunal penal internacional permanente no mundo, que investiga e, quando possível, julga os indivíduos acusados de graves crimes que dizem respeito à comunidade internacional: genocídio, crimes de guerra, crimes contra a Humanidade

O tribunal é um sistema de justiça suplementar que tem como objetivo investigar e julgar os responsáveis por crimes contra a Humanidade ou crimes de guerra quando as nações não querem ou não conseguem fazer funcionar a justiça.
O TPI só pode agir quando os crimes ocorrem num dos países signatários do Estatuto de Roma, se o crime for cometido noutros países por um cidadão de um dos países signatários, ou se a situação for levada ao tribunal pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (no âmbito da Carta das Nações Unidas)

Uma das inovações do Tribunal Penal Internacional é dar às vítimas a oportunidade de apresentarem as respetivas provas.

O que é que o TPI tem feito desde a sua criação?

Os casos em curso fazem parte do relatório apresentado pela procuradora Bensouda:

The #ICC Prosecutor, Fatou #Bensouda, issues her annual Report on Preliminary Examination Activities (2016) https://t.co/uUWZmFYEVvpic.twitter.com/51OWahAII2

— Int'l Criminal Court (@IntlCrimCourt) November 14, 2016

Até agora foram concluídos processos do Quénia, Sudão Darfur, República Democrática do Congo. Todos terminaram sem acusação. Mas há mais cinco ainda em curso sobre o Darfur, Uganda, Costa do Marfim, República Centro Africana e República Democrática do Congo.

“Há dez situação a serem neste momento investigadas”: https://www.icc-i.int/Pages/Situations.aspx#: Uma na Geórgia, iniciada em janeiro de 2016; outra na República Centro Africana, que começou em maio de 2014; no Mali, que teve início em janeiro de 2013; na Costa do Marfim, desde janeiro de 2013, ainda outra no Darfur, desde junho de 2005; uma segunda na Republica Centro Africana que está a ser investigada desde maio de 2007; uma no Uganda, iniciada em julho de 2004, uma na Líbia, iniciada em fevereiro de 2011; uma no Quénia, que data de março de 20110 e outra na República Democratica do Congo, de abril de 2004

O caso da Flotilha de Gaza acabou por ser reconsiderado depois de a procuradora ter decidido que não haveria investigação.

“Os defensores do TPI salientam os trabalho deste organismo na defesa da causa dos territórios palestinianos”: https://www.icc-i.int/palestine

Haverá uma postura tendenciosa sobre a África? O TPI tem sido acusado por líderes africanos de só investigar os supostos crimes ados em países do continente africano
Muito se tem escrito sobre o assunto.

De qualquer forma, o anúncio da Rússia de retirar a do Estatuto de Roma na sequência do relatório que classifica a situação na península da Crimeia como “uma ocupação”, prova que “nem só de África vive a justiça internacional”.

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