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Jos\u00e9 Gil: \u201ortugal tem agora medo de n\u00e3o existir\u201dJos\u00e9 Gil, professor, fil\u00f3sofo, escritor, observador atento da sociedade portuguesa, falou \u00e0 euronews.Autor de um livro que, na primeira d\u00e9cada dos anos 2000, fez correr muita tinta: \u201ortugal Hoje \u2013 O medo de existir\u201d.euronews \u2013 Senhor professor, o que \u00e9 que mudou na mentalidade dos portugueses nas \u00faltimas quatro d\u00e9cadas, depois do fim da ditadura?Jos\u00e9 Gil \u2013 Mudou muita coisa e muita coisa permaneceu. Primeiro, a liberdade fez com que a maneira de ser e a maneira de estar, sobretudo, mudasse. Por exemplo, uma das mudan\u00e7as de mentalidade foi o consumismo, sobretudo nos anos do cavaquismo e com esse consumismo e com o dinheiro e a melhoria da qualidade de vida apareceu um individualismo mais acentuado. 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Quarenta anos depois da revolução, enfrenta-se a austeridade

Quarenta anos depois da revolução, enfrenta-se a austeridade
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Quando se comemora o 40° aniversário da revolução dos cravos, os portugueses vivem uma época de austeridade, marcada por medidas como os cortes nos salários e pensões ou o aumento dos impostos.

Muitas pessoas enfrentam extremas dificuldades para fazer face às necessidades mais básicas. Uma situação que revolta José Cardoso Fontão, um dos capitães de Abril: “Os grande princípios humanistas do 25 de Abril foram levando pauladas através do processo e agora estão a ser esfaqueados e levados à fase final”.

No dia em que se comemoram os 40 anos da revolução, José cumpre 82 anos, mas o coronel não está com disposição para festas. Os cortes e os impostos reduziram-lhe a pensão para metade, enquanto a mensalidade da residência para militares onde vivia aumentou. Com uma filha desempregada, o capitão de Abril teve de mudar-se para um apartamento alugado.

“Uma pessoa tem uma vida ordenada e organizada em determinados termos e, de repente, vê tudo ruir à volta. Sei que há imensa gente numa situação pior, mas esse é um drama absolutamente inissível. O meu é reprovável e depois há outro inissível!”, sublinhou José Cardoso Fontão.

O coronel considera que o fruto mais consolidado da revolução foi a transformação do papel das mulheres, mas a antifascista e feminista Manuela Góis não está totalmente de acordo. “A Revolução do 25 de Abril concretizou-se nas liberdades, direitos e garantias das pessoas em geral e pelo direito dos povos, das colónias portuguesas à sua independência. Acontece que há uma visibilidade de avanços relativamente aos direitos das mulheres, que se encontravam quase ao nível da Idade Média”, afirmou a ativista.

No entanto, Manuela e José partilham as mesmas preocupações acerca do futuro dos mais jovens. Tal como o capitão de Abril, esta reformada tem de ajudar financeiramente dois dos seus filhos. Um está desempregado, o outro tem um trabalho precário.

“Quando fiz as contas em me reformar, estava a contar que a pensão chegasse. Neste momento, temos que organizar a vida de uma forma diferente para conseguir apoiar os filhos que necessitam”, disse Manuela.

Quarenta anos após a revolução, os portugueses voltam a ter de emigrar por razões económicas. Em 2012, quase um quinto da população portuguesa vivia com 400 euros por mês.

José Gil: “Portugal tem agora medo de não existir”

José Gil, professor, filósofo, escritor, observador atento da sociedade portuguesa, falou à euronews.

Autor de um livro que, na primeira década dos anos 2000, fez correr muita tinta: “Portugal Hoje – O medo de existir”.

euronews – Senhor professor, o que é que mudou na mentalidade dos portugueses nas últimas quatro décadas, depois do fim da ditadura?

José Gil – Mudou muita coisa e muita coisa permaneceu. Primeiro, a liberdade fez com que a maneira de ser e a maneira de estar, sobretudo, mudasse. Por exemplo, uma das mudanças de mentalidade foi o consumismo, sobretudo nos anos do cavaquismo e com esse consumismo e com o dinheiro e a melhoria da qualidade de vida apareceu um individualismo mais acentuado. Os portugueses habituaram-se a ter direitos – pelo menos um bocadinho – e começaram a aprender, na democracia e na nova liberdade, a reivindicar, primeiro timidamente, mas fortemente, se bem que haja ainda hoje limites e tenha havido sempre limites.

en – Os portugueses são hoje um povo desencantado com as promessas da Revolução dos Cravos. Porque é que isto aconteceu?

JG – Bem, aconteceu porque precisamente a revolução de 25 de Abril foi uma revolução que prometia uma sociedade utópica que estava, alás, delineada na constituição, que era uma constituição socialista, das mais avançadas no socialismo teórico de todo o mundo e essa sociedade utópica foi, a pouco e pouco, desmentida e substituída por uma outra sociedade real, em que imperava – muito simplesmente – não o socialismo, mas o capitalismo. Nem sequer na ideia de democracia e na ideia de liberdade houve um desenvolvimento concreto na sociedade. E houve aí uma deceção que permanece e se acentua, cada vez mais, hoje.

en – Portugal ainda tem “medo de existir”? Ou a crise criou uma nova dinâmica na sociedade portuguesa?

JG – Não. Eu acho que Portugal tem agora medo de não existir, quer dizer, um outro medo que é o medo de perder o emprego, perder todos os adquiridos e os direitos que tinham na saúde, na justiça, na educação. A política de austeridade está a fazer com que, cada vez mais, se tenha medo. Não há uma nova dinâmica na sociedade. Há casos de sucesso, de empresas que têm sucesso. Simplesmente não há uma política do governo que promova e que seja a causa de uma dinâmica, quer dizer, de uma lógica própria que faça com que o desenvolvimento económico – que depende aliás também da Europa – aconteça. E disso depende toda a nossa situação.

O percurso das mulheres portuguesas em 40 anos de democracia

No 40° aniversário da Revolução dos Cravos, fazemos um balanço dos direitos conquistados pelas mulheres portuguesas desde o dia 25 de Abril de 1974. Abordamos também o que ainda falta fazer para que a igualdade entre homens e mulheres saia do papel.

Numa entrevista à euronews, Manuela Góis, que enquanto estudante universitária resistiu à ditadura e é associada da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), aborda a luta pelo direito ao aborto, a lei da paridade, a violência doméstica e o assédio sexual.

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