O SAFE abriu um debate sobre a possível inclusão em certos projetos de Ancara, que a Grécia vê como ameaça direta, já que o casus belli não foi levantado e o exército turco ocupa parte de Chipre
O Regulamento Europeu SAFE, que prevê a concessão de empréstimos de até 150 mil milhões de euros para impulsionar a produção de material de defesa em toda a União Europeia (UE), foi adotado com o consenso de todos os Estados-Membros, com exceção da Hungria.
No entanto, foram e continuam a ser expressas objeções e preocupações na Grécia e em Chipre.
A preocupação prende-se com o facto de o SAFE permitir a participação de países terceiros. Isto abriu imediatamente a discussão em Atenas e Nicósia sobre a possível inclusão em determinados projetos da Turquia, que ameaça diretamente a Grécia, uma vez que o casus belli não foi levantado e o exército turco ocupa parte de Chipre.
"O primeiro problema é que países como a Turquia, que têm indústrias que compraram indústrias europeias ou têm uma participação no seu capital, como é o caso da Piaggio em Itália, podem aderir sem problemas porque agora têm um selo europeu. Aparecem como empresas europeias e não como empresas turcas", alerta o professor de Direito Internacional, Angelos Syrigos.
O ministro da Defesa da grécia, Nikos Dendias, também criticou fortemente o regulamento, sugerindo que deveria chamar-se 'regulamento de bastidores', "caso alguns parceiros tentem implementá-lo através de truques para que não seja necessária a unanimidade dos membros da UE para o acordo com países terceiros."
Em Nicósia, as preocupações são semelhantes.
"Não se pode ignorar que estão a tentar trazer a Turquia para o jogo, tal como têm vindo a anunciar há muito tempo o Parlamento Europeu, a Comissão e o Conselho. Foi uma tentativa de integrar a Turquia no Mecanismo Europeu de Defesa, um país que ocupa território europeu e ameaça os Estados da União Europeia com a guerra. É como colocar o lobo no redil para guardar as ovelhas", afirma o eurodeputado cipriota Loukas Fourlas.
O SAFE faz parte do programa de rearmamento da Europa, com um custo total de 800 mil milhões de euros nos próximos cinco anos.
O mecanismo estipula que, em qualquer programa de defesa, as empresas da UE, com exceção da Ucrânia e da Noruega, terão uma participação mínima de 65%, enquanto a Turquia e outros países terceiros não poderão exceder 35% e não terão o direto aos fundos comunitários.
A par das reservas de Atenas e Nicósia em relação à iniciativa europeia, há também a expetativa de aproveitar a oportunidade histórica criada em relação à indústria de defesa dos dois países.