Annalena Baerbock eleita Presidente da Assembleia-Geral da ONU em Nova Iorque. Na sua intervenção na sessão plenária, sublinhou que pretende desempenhar um papel ativo na definição do futuro. A política externa feminista está a chegar para todo o mundo?
A antiga ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, foi hoje eleita Presidente da Assembleia-Geral da ONU. Baerbock foi a única candidata.
A ex-ministra dos Verdes conta com o apoio de outros países da Europa Ocidental. A Rússia e os países pró-Kremlin, por outro lado, manifestaram-se contra a candidata de 44 anos.
Qual é o papel do Presidente da Assembleia-Geral da ONU?
O Presidente da Assembleia-Geral da ONU é o principal responsável pelas reuniões do órgão, no qual estão representados os 193 países do mundo.
O cargo é preenchido anualmente a partir de setembro e é eleito por maioria simples. Embora as resoluções da Assembleia-Geral não sejam vinculativas ao abrigo do direito internacional, a sua importância tem vindo a aumentar. No Conselho de Segurança da ONU, que adota resoluções vinculativas, os bloqueios são cada vez mais frequentes.
Uma das suas tarefas é preparar as reuniões através do diálogo e, assim, gerar maiorias para as decisões. É também tarefa do titular do cargo garantir que todos os países tenham uma palavra a dizer em pé de igualdade e que o tempo de uso da palavra seja distribuído equitativamente. A Assembleia-Geral da ONU também aprova o orçamento, nomeia o Secretário-Geral e decide sobre as nomeações para cargos importantes.
Annalena Baerbock: quer construir pontes
Annalena Baerbock candidatou-se ao cargo em Nova Iorque, após o fracasso das eleições para o Bundestag. É a quinta mulher a ocupar este cargo nos 80 anos de história do maior órgão das Nações Unidas. Baerbock disse que queria liderar a Assembleia-Geral como uma construtora de pontes credível.
É, igualmente, a primeira a assumir esta tarefa imediatamente após deixar um cargo político no seu país. Com a sua candidatura, a Alemanha sublinha o seu forte empenhamento nas Nações Unidas e demonstra que pretende reforçar a ordem mundial multilateral.
Baerbock estudou direito internacional e esteve em Nova Iorque e nas Nações Unidas uma dúzia de vezes como ministra dos Negócios Estrangeiros. Durante a sua intervenção na Assembleia-Geral da ONU, em meados de maio, deixou claro que pretende desempenhar um papel mais ativo do que os seus antecessores.
"No seu 80º ano de existência, as Nações Unidas enfrentam desafios existenciais. No entanto, estou convencida de que este não é um momento de desespero", disse Baerbock. As Nações Unidas estão sob uma pressão considerável - tanto a nível financeiro como político.
Nações Unidas em crise
Com a tomada de posse do Presidente dos EUA, Donald Trump, as contribuições para as organizações da ONU estão à beira do abismo. Trump também ordenou que os EUA se retirassem da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Acordo de Paris sobre o Clima, do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da Agência Palestiniana de Assistência aos Refugiados (UNRWA).
Baerbock anunciou que queria ver a atual crise nas Nações Unidas como uma oportunidade. A ex-ministra vê oportunidades de reforma e não quer apenas cumprir o cargo cerimonial de Presidente da sessão. Durante a sua apresentação, prometeu "desmantelar estruturas duplicadas e melhorar a eficiência e a transparência da ONU". É "um trabalho difícil, mas um trabalho que temos de fazer".
Na audição de meados de maio, os embaixadores da ONU de vários países elogiaram o facto de a Alemanha disponibilizar um ministro dos Negócios Estrangeiros proeminente e ativo até há pouco tempo. Em contrapartida, a nomeação foi criticada em Berlim. A diplomata alemã Helga Schmid estava, de facto, destinada ao lugar de topo.
Agora, porém, o cargo deverá ser preenchido politicamente com Baerbock. Numa conferência organizada pelo Zeit e pelo Handelsblatt, entre outros, falou de uma decisão conjunta que também tinha sido tomada com a anterior favorita para o lugar, Helga Schmid.
O procedimento foi criticado na Alemanha. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Sigmar Gabriel e o antigo embaixador da Alemanha na ONU, Christoph Heusgen, lamentaram que a diplomata Schmid já não estivesse na corrida. Segundo Baerbock, Helga Schmid deveria "continuar a trabalhar numa posição de liderança". Também houve críticas do lado russo.
A política externa feminista de Baerbock foi uma novidade para a Alemanha. "Ela colocou muitas vezes o elemento humano no centro dos seus argumentos, por assim dizer, as suas experiências como mulher, como mãe", disse o especialista em segurança Rafael Loss, do Conselho Europeu de Relações Externas. Os seus primeiros atos oficiais mostrarão se Baerbock é capaz e está disposta a continuar a sua retórica individual e as suas narrativas humanistas ao nível das Nações Unidas.