O governo grego é obrigado a reestruturar completamente o sistema após as revelações de corrupção e a investigação da Comissão Europeia e do Ministério Público Europeu.
As investigações europeias sobre o modo de funcionamento do Organismo de Pagamento e de Controlo dos Apoios Comunitários (OPEKEPE) na Grécia estão a conduzir a uma reestruturação do mecanismo de distribuição dos fundos europeus para a produção agrícola.
Há um ano que o OPEKEPE está a ser vigiado e a rusga às suas instalações na semana ada faz parte de uma investigação mais vasta sobre os subsídios ilegais concedidos à criação de gado.
"O Ministério Público Europeu fez uma rusga às instalações do OPEKEPE para investigar o caso de 100 casos de cobrança ilegal de fundos europeus", explicou à Euronews Charalambos Kasimis, professor de Economia Agrícola e ex-secretário-geral da Política Agrícola e da Gestão dos Fundos Comunitários.
"É um caso que começou há um ano. E, na minha opinião, está ligado, juntamente com outros casos semelhantes, ao facto de o OPEKEPE estar agora sob vigilância e de estar a ser implementado um plano de ação pela Comissão Europeia para restaurar o bom funcionamento da Agência e o cumprimento da sua missão, que é a transparência nos pagamentos, a equidade e os controlos rigorosos".
O relatório elaborado no ano ado detetou, basicamente, uma série de problemas que obrigaram a direção-geral da Agricultura da Comissão Europeia a colocar a Agência sob vigilância durante cerca de um ano, até que esta voltasse a funcionar de acordo com as regras da UE.
"Gostaria de acrescentar aqui algo que foi omitido, nomeadamente que a Comissão Europeia também apontou deficiências no organismo de certificação. Evidentemente, estes problemas têm uma longa duração e penso que o Estado não tomou medidas para restabelecer o funcionamento da Agência".
Infelizmente, o OPEKEPE tornou-se parte da patogénese de longa data do nosso sistema político, que integra as instituições no sistema de clientelismo. Houve, portanto, uma tolerância que conduziu a esta situação.
Onde é que este caso vai dar?
"É possível que a certificação seja transferida para a Comissão Europeia. Além disso, o país perde credibilidade com uma possível perda de recursos. Recordo que todo este processo resultou em encargos elevados de centenas de milhões que se perdem essencialmente para o agricultor grego e, obviamente, para a economia nacional. Trata-se, portanto, de uma questão extremamente grave. E, finalmente, a perda de credibilidade - na minha opinião - terá também consequências para a implementação da política a partir de agora e tendo em conta as mudanças previstas".
O que a Procuradoria Europeia está a procurar
De acordo com uma declaração da Procuradoria Europeia, há uma "investigação em curso sobre um alegado esquema organizado de fraude envolvendo fundos agrícolas e corrupção envolvendo funcionários públicos da Agência Grega de Pagamento e Controlo da Ajuda Comunitária para Orientação e Garantia (OPEKEPE).
Entre 2019 e 2022, um número significativo de indivíduos apresentou-se como novos agricultores e recebeu direitos de pagamento da reserva nacional, financiada pela Política Agrícola Comum (PAC), com base em declarações falsas. Estas incluíam declarações falsas sobre a posse ou o arrendamento de pastagens elegíveis para subsídios, dando a falsa impressão de actividades agrícolas activas.
Na maioria dos casos, as pastagens declaradas eram, de facto, terras públicas, que anteriormente só tinham sido disponibilizadas para utilização por agricultores que não possuíam terras agrícolas privadas. Estas pastagens situavam-se frequentemente longe do local de residência efetivo das pessoas que as declaravam proprietárias ou arrendatárias.
Nos anos seguintes, até 2024, as mesmas pessoas continuaram a apresentar declarações de gado falsas, o que lhes permitiu obter terras de pastagem públicas, que foram depois utilizadas para ativar e manter os seus direitos ao pagamento.
Esta prática ilegal pode ter sido organizada de forma sistemática, envolvendo membros do Conselho de istração e funcionários da Agência de Pagamento e Controlo das Ajudas Comunitárias de Orientação e Garantia (OPEKEPE)".
A Procuradoria Europeia ordenou a realização de quatro inquéritos em Atenas e na ilha de Creta.
"A recolha de dados digitais na sede da OPEKEPE revelou-se particularmente difícil e sofreu um atraso significativo até às 4 horas da manhã", refere o comunicado.
58 euros gregos e a próxima PAC
O caso das pastagens não vai apenas perturbar o mecanismo de pagamento dos subsídios na Grécia. Surge num momento crucial da reestruturação da Política Agrícola Comum europeia e é suscetível de ter implicações a longo prazo.
"O resultado é que a Grécia, embora no papel devesse ter um subsídio agrícola médio de 38 euros por hectare, tem atualmente cerca de 58 euros por hectare, o que dá a impressão de um país que recebe uma percentagem muito elevada de subsídios por hectare em comparação com outros países. Isto acontece numa altura em que está a decorrer um grande debate no resto da União Europeia sobre a forma de harmonizar os níveis de subsídios, para que se aproximem dos mesmos níveis em todos os países", disse à euronews Tasos Haniotis, antigo membro da Direção-Geral da Agricultura da Comissão Europeia e conselheiro especial do Fórum da Agricultura Sustentável.
Ministério Público Europeu: a investigação vai continuar
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já fez saber que a investigação ao OPEKEPE vai continuar, apesar dos "ataques" e "intimidações" contra os seus funcionários.
Entretanto, para o OPEKEPE, há dois cenários principais: as suas competências podem ser temporariamente transferidas para a Comissão Europeia ou para a Autoridade Independente das Receitas Públicas da Grécia.